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Veja mitos e verdades sobre calvície e outras condições que geram perda capilar | O TEMPO
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Veja mitos e verdades sobre calvície e outras condições que geram perda capilar | O TEMPO

Especialistas indicam fatores de risco e possibilidades de tratamento para estabilização e até reversão da queda de cabelo

Saúde

Quando o assunto é calvície, a analista de comércio exterior Luísa Fantoni, 26, mostra-se resignada. Para ela, essa condição está associada fundamentalmente a fatores genéticos ante os quais pouco se pode fazer. “A minha mãe tem quadro de queda de cabelo, e eu vejo que o fato de eu ter pouco cabelo está relacionado a isso”, sustenta, acrescentando já ter buscado ajuda com dermatologistas em vista de ter mais volume capilar. “Eles me passaram tratamentos paliativos, mas não encontrei ainda algo que pudesse reverter 100% essa situação”, reconhece, ponderando acreditar que hábitos de vida – como uma alimentação defasada, que provoque falta de nutrientes, e uma rotina estressante – também contribuem para o surgimento mais precoce da calvície.

A opinião é compartilhada pelo professor da rede pública Júlio Veloso, 62, que conserva uma vistosa cabeleira grisalha – ao contrário de seus irmãos, que são calvos. Essa história de família, aliás, o faz acreditar que a queda crônica dos fios se dê como uma loteria biológica. “Entendo que não tem muita regra nem muito o que fazer preventivamente… É meio que na sorte”, sugere. Mas ele mesmo reconhece se apegar a algumas medidas que, segundo o senso comum, podem garantir maior saúde capilar. “Acho que o uso permanente de chapéus e bonés pode contribuir”, diz, garantindo nunca ter usado tais acessórios.

As crenças de Luísa e Veloso não estão de todo erradas, como explica a dermatologista Fabiane Mulinari Brenner. Ela detalha que a queda de cabelo é um sintoma de causas diversas. “Uma delas é a calvície, que, cientificamente, chamamos de ‘alopecia androgenética’. ‘Andro’ porque a causa está relacionada a ação de um hormônio masculino (o di-hidrotestosterona, conhecido pela sigla DHT), e ‘genética’ porque afeta pessoas geneticamente predispostas, que são sensíveis a esse hormônio”, informa, pontuando que essa condição leva ao afinamento progressivo dos fios.

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Professora de dermatologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fabiane situa que há dois padrões de calvície. “Um deles, o feminino, acontece mais nitidamente na região central do couro cabeludo, poupando a linha frontal. O outro, que chamamos de ‘masculino’, acomete mais as entradas e a coroa”, diz, ponderando que, apesar dessa aparente divisão de gênero, 20% dos homens calvos podem apresentar o padrão feminino, enquanto 20% das mulheres com essa condição podem apresentar o padrão masculino.

A especialista ainda detalha que, de fato, os fatores desencadeantes da calvície são genéticos. “Estamos falando do resultado de uma ação hormonal, que se inicia com a entrada na adolescência. Essas modificações hormonais fazem que os fios fiquem progressivamente mais finos, de forma que passamos a enxergar mais facilmente o couro cabeludo”, comenta. Já sobre o uso de acessórios como chapéus e bonés, ela indica não haver nenhuma evidência de que fatores externos levem ao desenvolvimento dessa condição. “Esses itens podem, inclusive, proteger os fios de cabelo”, diz.

Quanto ao tratamento, para além dos procedimentos de implante capilar, Fabiane sustenta ser possível estabilizar e, em alguns casos, reverter a alopecia – mas, para isso, a questão precisa ser tratada precocemente. “Para isso, podemos recorrer a medicamentos tópicos, que estimulam o crescimento dos fios, e sistêmicos, que além dessa estimulação, bloqueiam a ação do hormônio masculino que temos”, cita.

Pesquisa relaciona refrigerante ao risco de perda de cabelo

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Tsinghua, em Pequim, e publicado na revista científica “Nutrients” sugere que o consumo de bebidas açucaradas amplia significativamente o risco de queda de cabelo de padrão masculino. Segundo a investigação, que ouviu 1.028 homens chineses com idades entre 18 e 45 anos, beber refrigerantes, sucos ou chás com adição de açúcar de uma a três vezes por semana aumenta em 21% as chances de perda capilar. Se o consumo dessas substâncias ocorre de quatro a sete vezes no mesmo período, o risco de implicações avança para 26%.

Os resultados obtidos pelos estudiosos não surpreenderam o endocrinologista Igor Barcelos. Ele explica que o excesso de açúcar provoca resistência à insulina, dificultando a circulação sanguínea. Com isso menos nutrientes chegam aos folículos pilosos, que ficam danificados.

Barcelos acrescenta que, para além da alopecia androgenética, a queda de cabelo pode ter origens diversas. “Pode ser uma reação a doenças inflamatórias, como a Covid, estar relacionada a outras questões de saúde, como dermatites e lúpus, ou ter origem nas deficiências nutricionais, incluindo a falta de ferro, de vitamina D e de micronutrientes, como o zinco”, sinaliza. “Nesse último caso, hábitos de vida – como uma alimentação pouco nutritiva com consumo excessivo de alimentos ultraprocessados – podem ser fatores para o enfraquecimento dos fios”, adverte.

Tipos de alopecia

Calvície. “O termo ‘alopecia’ se refere à perda de cabelo, sendo o tipo mais comum a calvície, que aparece geralmente na região frontal, nos homens, e na região central, nas mulheres, ocorrendo com mais frequência a partir da fase adulta”, expõe Fabiane Mulinari Brenner.

Alopecia areata. “Por vezes associada a outras disfunções imunológicas, como dermatites e a tireoidite de Hashimoto, também conhecida como ‘tireoidite crônica’, a alopecia areata é uma doença autoimune”, detalha a coordenadora do departamento de cabelos da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). De maneira resumida, o que causa a queda das madeixas ou de pelos é uma inflamação do corpo gerada pelo próprio organismo, que mantém inativos os folículos pilosos. O problema pode provocar a queda de todos os pelos de uma pessoa. Quando a situação é estabilizada, os fios voltam a crescer.

Alopecias cicatriciais. “Já as cicatriciais exigem mais atenção, pois deixam cicatrizes, e não é possível reverter o quadro. Alguns estudos indicam que o problema está mais associado a cabelos crespos”, pontua Fabiane. Essa variação mais rara da doença é a foliculite dissecante ou celulite dissecante, mais comum em homens negros entre 18 e 40 anos e que pode manifestar-se isoladamente ou associada a outras enfermidades, como formas mais graves de acne. Em síntese, trata-se de uma reação inflamatória, crônica, progressiva e recidivante dos folículos pilosos.

LPP. Outra variação de alopecias cicatriciais é o Líquen Plano Pilar (LPP). “É um fenômeno que temos visto com frequência mais alta e que, de acordo com algumas pesquisas, pode estar associado ao uso de filtros solares e ao alisamento capilar com produtos à base de formol”, situa, complementando ainda serem necessários estudos mais conclusivos.