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Estudo inédito de Oxford e UFPE aponta que não há evidência de fraude nas eleições de 2018 - BBC News Brasil
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Estudo inédito de Oxford e UFPE aponta que não há evidência de fraude nas eleições de 2018 - BBC News Brasil

Pesquisadores realizaram cinco testes matemáticos diferentes e não encontraram qualquer anomalia na contagem de votos para presidente. Metodologia será aplicada na análise dos resultados das eleições de 2022.

Ciência & Tecnologia

Um estudo inédito realizado por pesquisadores da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) durante pós-doutorado na Universidade de Oxford, na Inglaterra, não encontrou qualquer evidência de irregularidades na contagem de votos das eleições brasileiras de 2018.

Alguns dos métodos usados pelos pesquisadores foram utilizados em eleições em outras partes do mundo — e já mostraram sinais de possíveis fraudes em países como Rússia e Uganda.

A pesquisa foi revisada por pares e publicada em 7 de setembro no periódico científico Forensic Science International: Synergy, dedicado à ciência forense, campo do saber voltado à investigação de crimes e assuntos legais a partir de conhecimentos técnicos e científicos.

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O novo estudo corrobora análises feitas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e por outros pesquisadores independentes, que chegaram ao mesmo resultado, reiterando a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro.

No levantamento, os pesquisadores da UFPE utilizam cinco testes estatísticos diferentes, baseados em três metodologias distintas, para analisar os resultados da última eleição presidencial brasileira, a partir dos dados oficiais fornecidos pelo TSE.

O ano de 2018 foi escolhido para análise por se tratar de um evento singular na história eleitoral, explicam Dalson Figueiredo, Lucas Silva e Ernani Carvalho, autores do estudo.

"Foi a primeira vez em que um candidato vencedor alegou suspeição do processo que regulou a sua própria vitória. As dúvidas quanto à integridade das apurações costumam ser feitas, exclusivamente, pelos candidatos derrotados", destacam os pesquisadores, citando como exemplo desse padrão a contestação da vitória de Dilma Rousseff (PT) por Aécio Neves (PSDB) em 2014 e da vitória de Joe Biden por Donald Trump nas eleições americanas de 2020.

O ineditismo do estudo está na aplicação simultânea dos cinco testes matemáticos com diferentes metodologias, explica Figueiredo, em entrevista à BBC News Brasil.

"Quando dados são manipulados de forma intencional, isso pode ser detectado por métodos estatísticos, porque deixa rastros", diz o coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPE.

"Normalmente, na literatura de perícia eleitoral, o que os pesquisadores fazem é aplicar um ou outro teste. O que nós fazemos é pegar todas as metodologias estatísticas conhecidas e juntar numa mesma aplicação", acrescenta.

"Não é impossível alguém fraudar [um pleito] antecipando algum desses testes. Mas fazer isso com diferentes testes, que têm diferentes pressupostos, é praticamente impossível", afirma Figueiredo. "Exigiria um conhecimento matemático fora do normal, uma capacidade computacional muito avançada e que isso fosse feito de forma sistemática, envolvendo urnas de todo o Brasil, sem deixar nenhum rastro. Não vou dizer que é impossível, mas exigiria uma conspiração de nível hollywoodiano, com muita gente envolvida."

Além de publicarem seus resultados no periódico científico internacional, os pesquisadores também disponibilizam publicamente todos os dados e scripts computacionais utilizados no estudo. Isso permite que qualquer outro pesquisador ou pessoa com conhecimentos de computação possa avaliar a robustez dos resultados e reproduzir os testes.

Eles também planejam aplicar a mesma metodologia na análise dos resultados eleitorais de 2022.

"Já montamos os códigos para, na noite da apuração, rodar tudo de novo para 2022. Se os resultados forem similares aos de 2018, teremos uma evidência robusta de que a contagem foi íntegra e que não houve nenhuma distorção significativa", diz o cientista político.

Os cinco testes matemáticos

Os cinco testes utilizados pelos pesquisadores da UFPE durante sua estadia no Centro Latino-Americano (LAC, na sigla em inglês) da Universidade de Oxford são os seguintes:

Lei de Benford do segundo dígito;

média do último dígito;

análise de frequência dos últimos dígitos 0 e 5;

correlação entre o percentual de votos válidos recebido pelo candidato vencedor e a taxa de participação;

e densidade de Kernel reamostrada da proporção de votos válidos.

Apesar da linguagem estatística, é possível explicar cada um desses termos de forma simplificada.

1) Lei de Benford do segundo dígito

A Lei de Benford, que leva o nome do físico Frank Benford e foi descoberta pelo astrônomo Simon Newcomb em 1881, estabelece que, em alguns conjuntos de números, como tamanhos de rio ou da população de cidades, o dígito inicial mais comum é o 1 (com 30,1% de frequência), seguido do 2 (17,6%). A frequência dos demais algarismos como dígito inicial vai caindo sucessivamente do 3 até o 9, quando é de apenas 4,6%.

A Lei de Benford, no entanto, tende a funcionar quando se está analisando um conjunto abrangente de números que não tenham uniformidade.

No caso das seções eleitorais brasileiras, o Código Eleitoral estabelece um limite mínimo de 50 e máximo de 400 eleitores por seção. Por conta disso, como não há uma grande variação entre os números analisados, é mais indicada a análise do segundo dígito, e não do primeiro, explica Figueiredo, da UFPE.

Para o segundo dígito, a frequência esperada segundo a Lei de Benford é muito próxima de 10% para cada algarismo — não é difícil de entender: o sistema de numeração decimal tem dez algarismos (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9), então cada um deles tem cerca de 10% de chance de aparecer como segundo dígito num conjunto de dados que não tenha sido manipulado.

Para ser mais preciso, a expectativa de frequência do segundo dígito vai diminuindo gradualmente do zero ao 9, de 11,97% para 8,50%

Leia aqui:

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62909452