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Viagem

Provence: os pequenos vilarejos medievais e a cidade que inspirou Van Gogh

De maneira geral, falar da Provence nos remete imediatamente a um ambiente cenográfico: os campos de lavanda dominam as paisagens e enchem os feeds das mídias sociais de fotos deslumbrantes. Tudo parece um quadro, com pinceladas feitas com maestria.

De fato, uma viagem à região não escapa muito disso, onde a realidade é melhor do que a ficção. Durante as gravações do CNN Viagem & Gastronomia, a Provence foi para mim um estímulo para todos os sentidos.

Além dos cinco sentidos do corpo humano, outros deles também foram aguçados: o sentido histórico, cultural, gastronômico e o do cuidado com a terra e com o próximo, já que aqui temos um gostinho de que a natureza e sua biodiversidade é uma das riquezas mais essenciais para vivermos.

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Jornada pela Provence

Nas andanças entre cidades, comunas e vilas, duas características superimportantes da Provence surgem no meio do caminho: a região é um celeiro de grandes talentos da arte mundial e cada parada é como uma aula de história a céu aberto.

Por mais que a França seja um país pequeno quando comparado ao Brasil, rodei quase mil quilômetros de carro apenas dentro da Provence. Esta é uma das melhores maneiras de apreciar os cantinhos mais charmosos e de descobrir paradinhas que não estavam no roteiro – uma das melhores partes da viagem!

Assim, voltei daqui com o sentimento de que me permiti lançar a experiências que se mostraram novas.

Em Arles, pude ver com meus próprios olhos o quanto a história desempenha um papel intrínseco no entorno: as ruínas e edificações romanas que sobrevivem por aqui nos dão um gostinho da Itália em pleno território francês.

Fora isso, os campos de lavanda de Montclus, as pedreiras magníficas de Les Baux e os encantos minuciosos de Saint-Rémy-de-Provence completam uma jornada feita para ficar para sempre na memória.

Costumo dizer que um lugar bom é aquele que te toca de alguma maneira. Saí da Provence desta maneira: mais feliz, mais calma e já querendo voltar!

Arles: encontro entre história e arte

Chegar em Arles é ficar encantado. É a cidade mais romana de toda a França, dados seus pontos turísticos e históricos que são remanescentes dos tempos romanos na Provence. Durante a dominação romana no território, a cidade foi um ativo porto fluvial.

Com cerca de 52 mil habitantes, a cidade fica a uma hora de Marselha, capital da região. Além dos vestígios romanos, como o teatro e o anfiteatro, Arles ainda conta com o espírito artístico e criativo das artes, principalmente de Van Gogh.

O pintor pós-impressionista holandês morou aqui durante um ano, entre 1888 e 1889, período suficiente para ser o mais produtivo de sua carreira: foram cerca de 300 obras entre pinturas e desenhos.

Por aqui conseguimos ter um vislumbre ao revisitar alguns pontos da cidade que ficaram eternizados em seus quadros. Aqui é assim: sentimos a energia da cidade caminhando, absorvendo a cultura ao andar pela história.

Teatro e Anfiteatro de Arles

Cartões-postais da cidade e resquícios significativos da presença romana na região, a visita ao Teatro Romano e ao Anfiteatro, chamado também de Arena, são indispensáveis.

Aqui entendemos as influências da região e também nos deparamos com um pedaço muito bem conservado da história mundial.

É incrível como, mesmo após dois mil anos da construção, o anfiteatro continua preservado, recebe visitantes e ainda sedia algumas aulas e eventos. Ou seja, permanece com sua função.

Com capacidade para mais de 20 mil pessoas, na Idade Média o local serviu quase como uma cidade, já que foi lugar de proteção para tempos violentos.

Podemos andar pelo anfiteatro tanto entre seus largos corredores com grandes colunas quanto nos “andares” entre as fileiras onde os visitantes se sentavam.

É notável como a estrutura como um todo é semelhante ao Coliseu, mas não é por acaso: o plano da Arena de Arles é o mesmo da estrutura de Roma.

Logo ao lado da arena fica o Teatro romano de Arles, que comportava 12 mil pessoas e recebia apresentações artísticas diversas naqueles tempos. Se formos traçar um paralelo, eram apresentações semelhantes às óperas, com espetáculos para entreter a população.

Ambos os monumentos fazem parte da lista dos Patrimônios mundiais da Unesco. A entrada no teatro e no anfiteatro pode ser feita mediante pagamento de uma taxa combinada que sai por 9 €.

Após a visita, o que mais me chamou a atenção foi realmente a manutenção e a restauração destes monumentos, que se mantêm com características e até funções originais mesmo no século 21.

E outra surpresa: ao redor destes locais, principalmente do anfiteatro, há vendinhas e comércios típicos com queijos tradicionais, lembrancinhas e doces, como o nougat feito com mel. É uma perdição!

Place du Forum e Café Van Gogh

Por falar em ruínas romanas, o centro histórico da cidade é lar da Praça do Fórum, onde restam algumas colunas romanas do tempo em que o local era o coração de Arles. Era aqui parte do centro econômico e político da administração romana na cidade.

Mas o que mais impressiona fica, na verdade, debaixo dos nossos pés: a praça conta com um enorme subsolo com alguns arcos e galerias a seis metros abaixo do nível da rua. Há cerca de dois mil anos foi descoberto que o fórum estava cedendo e criptopórticos foram construídos para sustentar a estrutura.

É muito bacana ver como é a praça por baixo e como se dava o subterrâneo, onde a umidade e as temperaturas mais baixas também eram propícias para que grãos fossem armazenados.

Além de tudo, o local é muito silencioso: em alguns momentos de minha visita, era possível escutar apenas o gotejar da água. É uma atividade interessante para quem gosta de arquitetura e engenharia, em que a inteligência arquitetônica surpreende. O tíquete custa por volta de 4,50 €.

Já de volta ao nível do solo fica outra agradável parada: o Le Café Van Gogh, chamado originalmente Le Café La Nuit. O local foi eternizado em um dos quadros do artista holandês batizado de “O Terraço do Café na Place du Forum, Arles, à Noite”.

Diz a história que Van Gogh frequentava assiduamente o espaço. Dentro do café há até uma reprodução da obra que deu fama ao lugar.

É uma boa parada para se sentir dentro do quadro junto de um vinho harmonizado com queijo, como manda a Provence.

Os campos de lavanda de Montclus

Uma das bases para aproveitar melhor a Provence foi a comuna de Goudargues, onde aluguei uma casa e vivi dias como uma pessoa local. Este esquema nos propicia curtir a região de uma maneira menos apressada e com um toque mais autêntico, sem um ritmo totalmente turístico.

A partir de Goudargues visitei pequenos vilarejos, outras comunas e cidades, descobrindo paradinhas fora do roteiro em cantinhos superespeciais. E um destes locais é Montclus, uma vila cuja contagem de pessoas se resume a pouco mais de 200 habitantes.

Aqui há alguns campos de lavanda que, além de fotogênicos, carregam a alma da Provence. É como se fosse uma poesia: paramos o carro ao lado da estrada e entramos nos campos.

Quando andei entre as lavandas pude entender o fascínio do que é estar aqui. É um estímulo para os sentidos, pisamos na terra e sentimos a textura e seus aromas. É como se inserir na natureza.

Veja a matéria completa aqui:

https://viagemegastronomia.cnnbrasil.com.br/cnn-viagem-gastronomia/provence-os-pequenos-vilarejos-medievais-e-a-cidade-que-inspirou-van-gogh/