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Qual a motivação para países desenvolverem armas nucleares?
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Qual a motivação para países desenvolverem armas nucleares?

Poderoso armamento foi utilizado em apenas duas oportunidades e hoje é um símbolo de força entre as nações

Conhecimento

O desenvolvimento de armas nucleares voltou a ter atenção do mundo após a intensificação dos exercícios militares da Coreia do Norte. Por ser a nação mais fechada do mundo, pouco se sabe sobre os avanços de Pyongyang em relação a este tipo de armamento.

Há poucas semanas, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, junto aos políticos do país, tornaram o status nuclear da nação irreversível. Ou seja, a Coreia do Norte não pode participar de acordos internacionais que exijam o fim do programa militar nuclear local.

"O maior significado de legislar a política de armas nucleares é traçar uma linha irreversível para que não haja barganha sobre nossas armas nucleares", disse Kim em um discurso na Assembleia Popular Suprema.

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Apesar desta política da Coreia do Norte acender um alerta na comunidade internacional, os riscos deste tipo de arma serem utilizadas por Pyongyang em um futuro são mínimas. Isto porque um armamento nuclear, em teoria, só seria utilizado por um país em caso de defesa do próprio território.

Segundo o coordenador do curso de pós-graduação de Política e Relações Internacionais da Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Rodrigo Gallo, após os ataques dos Estados Unidos contra Hiroshima e Nagasaki, no Japão, a arma nuclear passou a ser desenvolvida para não ser usada.

“Ficou evidente o potencial destrutivo deste tipo de arsenal. Então, a partir dali desenvolveu-se a ideia de que armas nucleares não são fabricadas para serem efetivamente usadas; elas são instrumentos de dissuasão”, explica Gallo em entrevista ao R7.

Não há muitas informações sobre qual é a situação do programa de desenvolvimento de armas atômicas da Coreia do Norte. Mesmo com o teste de mísseis que poderiam carregar ogivas quase que mensais e com as críticas de autoridades e organizações, nenhuma potência nuclear, como os Estados Unidos ou a França, deram algum sinal de que atacariam o país asiático.

“Os supostos testes esporádicos servem como alerta para o resto do mundo e são parcialmente responsáveis pela sobrevivência do regime”, conta o cientista político. “Há muitas críticas internacionais, mas efetivamente ninguém ataca o território norte-coreano. Então, nesse aspecto, podemos dizer que há uma funcionalidade efetiva”.

Se todos os países que possuem armas nucleares não se atacam justamente pela existência desse tipo de arsenal, o caminho seria promover o desenvolvimento de ogivas entre todas as nações? Ainda que alguém promovesse essa ideia, isto não seria possível, já que em 1968 foi criado o TNP (Tratado de não-proliferação de armas nucleares).

O principal objetivo do acordo é evitar que as nações que assinaram o tratado continuem desenvolvendo armas nucleares. Em teoria, a expansão deste tipo de arsenal poderia levar ao aumento das tensões nas relações internacionais e, consequentemente, a novos conflitos que poderiam culminar com a utilização de bombas atômicas.

Sendo assim, desde o final da década de 1960, quem tinha arsenal nuclear, manteve o que tinha. Logo, Estados Unidos e Rússia (na época sob bandeira da União Soviética), que possuíam o maior número de armas deste tipo na época, se mantém até hoje como forças militares hegemônicas.

“É importante frisar que uma crítica comumente feita ao TNP é que ele congelou ou tentou congelar, ao menos, a arquitetura de defesa do sistema internacional, mantendo na posição de grandes potências os países já militarmente nuclearizados, e vetando que outras nações desenvolvam o mesmo tipo de arsenal”, ressalta Gallo.

Ainda há também os países que desenvolvem tecnologia nuclear, mas não buscam levar os estudos para o caminho militar com a produção de armas.

Atualmente, EUA e Rússia buscam renovar os tratados bilaterais que possuem sobre armas nucleares, como o Novo Start. Enquanto o presidente norte-americano, Joe Biden, deseja envolver ainda a China no acordo, Moscou vê com descrença novos tratados com Washington.

“Mesmo em tempos de Guerra Fria, a União Soviética e os Estados Unidos abordavam questões de segurança e chegavam a compromissos”, disse o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedv, em agosto. “No entanto, insisto: agora a situação é muito pior do que na Guerra Fria. Muito pior! E não temos culpa”.

Gallo também cita Guerra Fria ao relembrar que Estados Unidos e União Soviética passaram décadas em um confronto no qual nenhuma das nações atacou a outra diretamente. Para o cientista político, este é um grande exemplo da eficácia de dissuasão das armas nucleares.

“Basta pensar na atual Guerra da Ucrânia: quando os ataques começaram, muito se especulou sobre o que o chamado Ocidente poderia fazer contra a Rússia. Foram aprovadas sanções econômicas e o envio de armas, equipamentos e munição à Ucrânia. No entanto, nenhum país se comprometeu a apoiar com o envio de tropas e com ataque ao território russo, justamente pelo receio de retaliação nuclear”, conclui Gallo.