BACK
Cultura & Entretenimento

Brasileiro do exército americano conta sua experiência no Afeganistão

"Vi crianças brigando por uma garrafa de água e mulheres sendo maltratadas. É uma realidade muito caótica e diferente da que vemos na TV", conta o goiano Antônio Caiado, 38 anos, Sargento de 1ª Classe do US ARMY reservista e atualmente examinador de patentes do Governo Federal Americano, é um dos únicos brasileiros com atuação direta pelos EUA no Afeganistão. Em 2010, foi enviado ao país, onde serviu por 9 meses.

Mestre em Engenharia de Segurança, sua função em solo afegão era a de Especialista em Armas de Destruição em Massa pela Operation Enduring Freedom. Em entrevista ao Gazeta News, Caiado fala sobre fazer parte do exército americano e também como foi lutar no país que voltou ao controle do regime Talibã depois de 20 anos.

"Muitos detalhes das missões não posso revelar, mas como especialista em armas de destruição em massa - ou CBRN-E (acrônimo para Explosivos Químicos,Biológicos, Radiológicos, Nucleares e de Alto rendimento) - minha principal função é inspecionar os materiais para proteger os soldados", esclarece.

Click to continue reading

Como foi atuar no Afeganistão?

"Eu atuava dentro dos campos de concentração, com a logística de entrada e saída de mantimentos e equipamentos de soldados, verificando as entregas. Durante o tempo em que fiquei lá, tive contato com uma realidade que você não vê em filme, como ver crianças brigando por água e mulheres sendo maltratadas. A situação no Afeganistão era, e continua sendo, bem caótica. O contato com os nativos através das patrulhas me mostrou uma realidade que você não vê em filme algum. Embora fosse uma situação caótica, aquilo me incentivou a trabalhar mais para melhorar aquele país."

Como você define a situação EUA x Talibã?

No geral, a intervenção dos EUA no Afeganistão tinha o intuito de tirar o Talibã do poder, uma vez que o grupo dava suporte à Al-Qaeda, liderada por Bin Laden. E além disso, lutar contra o terrorismo e implementar um governo democrático. Nos últimos 20 anos, o governo americano investiu na reconstrução do país. Porém, o povo afegão não abraçou a oportunidade de reestruturação. Divisões tribais e ideológicas motivaram a desordem, o que favoreceu também a corrupção. Não possuíamos condições de lutar por um país que não estava empenhado em mudar. Havia um conflito cultural muito grande.

O que te fez escolher servir ao exército americano?

Diferente do que muitos possam imaginar, nada na minha vida foi fácil. Comecei a trabalhar muito cedo, já fui engraxate e vendia pães na minha cidade antes de ir à escola. E tudo isso antes dos 10 anos. E logo após me formar no curso de Ciência da Computação (2005), vim para os Estados Unidos, em uma cidade chamada Norwood, em Massachusetts.

De 2005 a 2009 trabalhei no McDonalds e também percorri boa parte dos Estados Unidos como caminhoneiro. Cinco dias depois de conseguir meu green card em 2009, eu me alistei. O país estava em guerra declarada e resolvi me voluntariar.

Pretendo, com minha bagagem, ajudar as pessoas a desenvolverem a mentalidade de um verdadeiro soldado, para que elas possam aprender a lidar com todas as circunstâncias de suas vidas. Talvez essa seja a maior missão da minha vida.

O que mais te impactou durante o período por lá?

Os grandes impactos - no sentido governamental - que percebi, foram o direito de escola para meninos e para meninas; o direito das mulheres ao trabalho e a participação das mulheres no governo.

Acredito que esses tenham sido pontos marcantes, já que antes da chegada dos Estados Unidos, o Talibã não permitia que mulheres se envolvessem com questões civis.

Somado a isso, a reconstrução de hospitais, escolas públicas, pontes e infraestrutura, de modo geral, foram impactante, do meu ponto de vista.

Quais as etapas que pretende seguir na carreira?

Ao retornar do Afeganistão, passei por vários treinamentos. Considero o de maior importância, o “Warrior Leader Course”, que é o curso de Primeiro Sargento, em 2012. Em 2016, voltou ao Missouri para concluir o Advanced Leaders em Armas de destruição em massa, que é a Segunda Escola de Sargento. Em 2019, retornou e concluiu o Senior Leaders em Armas de Destruição em Massa para se tornar Sargento Primeira Classe.

Recém retornado das férias no Brasil, onde foi visitar a família, ele inicia agora um novo treinamento para subir na hierarquia, passando de Sergeant First Class (E-7) para Master Sergeant, ou First Sergeant (E-8).

*Na foto, Antônio Caiado, 38, durante atuação no Afeganistão em 2010 como Especialista em Armas de Destruição em Massa. Foto: Arquivo pessoal.