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Opinião

Amigo e adversário

Por Mauro Magalhães - ex-deputado e empresário.

Todos aqueles que atuaram na política brasileira, desde os anos 50, e ainda estão vivos para contar suas histórias, lembram que Leonel Brizola faria 100 anos no dia 22 de janeiro (sábado).

Líder do governo de Carlos Lacerda, na Assembleia Legislativa, no governo do antigo Estado da Guanabara, eu teria todos os motivos para não gostar de Brizola.

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Inimigo de Carlos Lacerda, Brizola não perdoou o político udenista por muitos motivos, entre eles o de ter pressionado para que tentassem derrubar Getúlio Vargas, em agosto de 1954 (pressões que levaram ao suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto).

Fiel ao seu antilacerdismo, Brizola também não quis assinar o manifesto da Frente Ampla, idealizado por Lacerda e Juscelino Kubitschek, com a concordância de João Goulart.

Exilado na Patagônia, bem longe de Montevideo, onde estava Jango, Brizola considerou um absurdo perdoar Lacerda.

Com exceção de Lacerda e de alguns militares e políticos, Leonel Brizola , depois de 1964, conseguiu se entender com muitos adversários.

Por correr sérios riscos de vida, em seu exílio na Argentina (após o golpe militar naquele país, em 1976) e no Uruguai ( onde também surgiu uma ditadura militar, nos anos 70), Leonel Brizola obteve a ajuda do ex-presidente Jimmy Carter, dos EUA.

Conseguiu um visto de trânsito do governo Carter e foi para os EUA em 1977.

O resgate de Brizola pelo governo Carter foi reconhecido como um sucesso da política de Direitos Humanos dos EUA, naquela época.

Em contrapartida, Brizola diminuiu suas críticas aos americanos.

Quando voltou do exílio, em 1979, Brizola me procurou , várias vezes, para conversar sobre política. E, inclusive, me convidou para ir para o novo partido que ele iria fundar, o PDT . Eu recusei, pois tinha uma ideologia diferente da ideologia de Brizola. Mas, fiquei seduzido pelo modo pelo qual o querido político gaúcho tratava seus adversários.

Brizola faz muita falta, no cenário atual.

Quando tomou posse no governo do Rio de Janeiro, em 1983, eu o convidei para a inauguração de um shopping que tinha ajudado a construir, o Tijuca Shopping.

Brizola foi à inauguração e levou toda a família, sua mulher, Neuza, os filhos e a neta, Laila.

Estive muitas vezes com Brizola, quando foi governador, no primeiro e no segundo governo.

Brizola gostava de saber o que pensavam seus adversários políticos e amigos, na vida.

Eu fui adversário político e amigo de Brizola. Tomamos muitos drinques, juntos. E, conversamos democraticamente.

Quando Brizola morreu, eu estava lá, no velório, no Palácio Guanabara. Adversários de vários partidos estavam lá.

Esse era o Leonel Brizola.

Exemplo de homem público e democrata. Amigo do diálogo.