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Opinião

Amizades na política

Por Mauro Magalhães - Ex-deputado e empresário.

As amizades na política, nos anos 60, eram duradouras e aconteciam, independentemente das divergências ideológicas

Eu era o líder da UDN no governo de Carlos Lacerda, mas tive o privilégio de me tornar amigo de grandes colaboradores de Negrão de Lima (1901-1981), vitorioso nas eleições para o governo do antigo Estado da Guanabara, pelo extinto PSD de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, em 1965.

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Mineiro, de Nepomuceno, advogado formado pela Universidade de Minas Gerais, além de jornalista (Diário de Minas, Estado de Minas, O Estado de São Paulo), Negrão de Lima foi eleito deputado federal e participou da Assembleia Nacional Constituinte de 1934, mas teve o mandato cassado em 1937, pelo Estado Novo, embora tenha sido membro interino do ministério de Getúlio Vargas e tenha ocupado cargos de relevância na diplomacia.

Filiado ao PSD getulista em Minas, após 1946, foi embaixador na Venezuela e, de 1951 a 1953, foi ministro da Justiça, no segundo governo de Vargas. Embaixador do Brasil em Portugal, no governo de Juscelino Kubitschek, ficou no posto de 1959 até 1965.

Em pleno governo militar, Negrão de Lima derrotou o candidato udenista, Flexa Ribeiro, por 52, 68% contra 40, 04%, na Guanabara.

O advogado Luiz Igrejas, que completou, no início da semana, 90 anos e continua atuante ( Luiz Igrejas é conselheiro da OAB da Barra da Tijuca e é presidente da AMAR, Associação de Moradores e Amigos do Jardim Oceânico e Tijucamar), foi secretário de Negrão de Lima, no governo do antigo Estado da Guanabara. Embora lacerdista, tornei-me amigo dele nessa época.

Vizinhos de bairro (Luiz Igrejas também é, como eu, um dos moradores mais antigos da Barra da Tijuca), participamos juntos da fundação do Bloco Pintassilgo, uma espécie de braço alegre da Banda da Barra, de debates e discussões em torno dos avanços ocorridos na região, das inúmeras conquistas obtidas através de muitos diálogos negociações com o Poder Executivo e o Poder Legislativo.

Aos 90 anos, Luiz Igrejas continua atuante, até hoje, como presidente da AMAR. Herdou o estilo diplomático de ser dos antigos colaboradores de Negrão de Lima. Incentiva os amigos na luta pela recuperação das lagoas da Barra da Tijuca, tão poluídas , pela segurança do Jardim Oceânico, que, hoje, é um importante polo gastronômico, e pelo bom funcionamento das instalações do metrô que passa na região.

Até hoje, em nossas conversas, eu e Luiz Igrejas interrompemos, de vez em quando, nossas preocupações com os problemas do cotidiano, na Barra, no Rio de Janeiro e no Brasil, para lembrar da eleição histórica de Negrão de Lima, pela oposição, no antigo Estado da Guanabara.

A eleição de Negrão de Lima, no Estado da Guanabara, e de Israel Pinheiro, também pelo PSD de Minas, foram o pretexto para a extinção dos partidos, pelo general Castelo Branco, e pela imposição do bipartidarismo, pelo Ato Institucional número 2.