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Opinião

Meus 15 minutos com Brizola

Por Angela Rocha - Jornalista e escritora.

Todo mundo teve seus 15 minutos com Brizola. Houve um tempo aqui no Rio de Janeiro que todas as lideranças políticas giravam em torno dele. Ele fez escola e deixou admiradores e seguidores nas mais diversas correntes políticas.

Eu ainda estagiava na Tribuna da Imprensa, quando tive meu interesse despertado pela sua volta ao Brasil. Fiz uma entrevista de página inteira com o Deputado Neiva Moreira, representante do Maranhão, para o jornal. E, a convite dele, me integrei na formação da primeira assessoria de imprensa do PDT, junto com Mario Augusto Jackobskind, Wagner Teixeira e outros grandes nomes do jornalismo.

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Era quase uma mascote desses grandes mestres. Aprendi muito com todos. Foi uma época única e rica para quem estava começando. Sem saudosismos. Sempre acho que o melhor momento é o aqui e agora. Mas foi, talvez, a época mais rica de personalidades políticas por metro quadrado, no Brasil.

Você esbarrava com “gigantes” a cada saída de trabalho. As autoridades federais, estaduais e municipais eram pessoas interessantes e ricas de história e conteúdo.

Imagina sair para entrevistar um Secretário de Educação e dar de cara com Darcy Ribeiro. Cinco minutos de conversa com Darcy faziam seus neurônios darem cambalhotas. Impossível não fazer um link com o momento atual: imagino o estagiário de hoje voltando para casa depois de entrevistar uma autoridade de qualquer esfera pública do governo...

Tive o privilégio de estar naquele auditório da Sete de Setembro por dezenas de vezes e ouvi-lo falar por horas. Não. Não era cansativo. A gente sequer piscava. Eram verdadeiras aulas de política, vida, cultura, marketing. Brizola era um ser quase místico. Puro carisma.

Mas sou uma contadora de histórias. E vou contar uma especial para mim.

Houve uma comemoração em um apartamento no edifício Chopin, em Copacabana. Brizola era o Governador do Estado do Rio de Janeiro. A grande sala ficou pequena para acomodar tantas pessoas convidadas e não convidadas. A anfitriã se esmerava na tentativa de receber bem a todos.

Muito mais do que ver de perto a grande autoridade do executivo do Estado, as pessoas queriam ver o Brizola. Brizola despertava admiração, respeito e curiosidade.

Eu estava lá, em pé, meio aturdida com toda aquela confusão quando de repente ele vai parar na minha frente... Alguém me apresenta. Diz meu nome e explica que eu estava trabalhando na assessoria de imprensa do Partido, no Rio de Janeiro. Ele balança a cabeça simpático e me estende a mão.

Eu o cumprimento, ele me olha nos olhos e por uma fração de segundos percebo que ele saiu daquela sala barulhenta e foi para algum outro lugar, longe dali. Ele volta e já Ia falar alguma coisa, quando somos interrompidos por alguém que com uma gentileza deselegante, segura no meu braço e diz:

-Querida. O governador precisa conhecer e cumprimentar pessoas.

Dou de ombros meio se jeito, tentando demonstrar que eu não estava fazendo nada.

Neste momento surge o “outro Brizola”. O Gaúcho de personalidade forte que sabia como ninguém, enquadrar um inoportuno. Ele só olha para a pessoa que segurava meu braço. Não foi dita uma só palavra, nem sequer uma cara feia. Só um olhar.

Imediatamente, a pessoa me solta e desaparece na confusão.

Ele volta os seus olhos para mim e entendo o tal olhar distante e fora da sala. Ele viajou no seu passado e, de volta, me faz uma pergunta que parecia fora do contexto de todo aquele burburinho:

- Você sabe como eu conheci a Neuza, minha mulher?

Balanço a cabeça em forma de negativa e ele prossegue:

- Eu estava no centro de Porto Alegre caminhando quando vi passar um bonde com uma moça linda na janela. Cheguei a parar e ficar olhando o bonde se distanciando.

- Fiquei com aquela imagem na minha cabeça por algum tempo. Prosseguiu. Até que um belo dia...eu estou discursando na sede do partido, quando eu vejo a moça bonita do bonde entrando e se sentando no auditório.

Enquanto eu sorrio deliciada com os detalhes da história, ele é novamente interrompido e puxado. Ele ignora e continua com tranquilidade.

- Terminei o meu discurso, mas de olho para não a perder de vista novamente...O resto é história...todo mundo já sabe...

E se despede, de forma gentil, falando da importância dos jovens no ambiente político.

Ele pára por alguns segundos, como que aguardando a minha fala.

Eu falo pausadamente sobre minha emoção de poder conhecê-lo pessoalmente. Da minha admiração e respeito pela sua trajetória política. De como eu me sentia fazendo parte da História tendo a oportunidade de trabalhar no seu partido etc.

Ah, na verdade, tudo isto foi dito depois, em casa, em frente ao espelho. Porque lá... na hora mesmo: Não consegui falar absolutamente nada...

Fiquei como uma criança diante de um gigante!