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Ciência & Tecnologia

Cultura Digital: professores se capacitam para lecionar em um mundo digital

Especialista em desenvolvimento de pessoas dá dicas preciosas para empresas implementarem uma cultura diversa e inclusiva

As crianças que hoje estão na escola, das gerações Z e Alpha, nasceram em um ambiente onde celulares e tablets são parte do cotidiano, com amplo acesso à informação e à troca constante de dados. Para estes nativos digitais, a comunicação e os relacionamentos através da rede são algo natural. Eles demandam um novo processo de ensino e aprendizagem, para o qual a maioria dos professores não está preparada.

Desde 2017, o Ministério da Educação (MEC) entende esta urgência e, por isso, instituiu a “Cultura Digital” como uma das cinco competências da Base Nacional Comum Curricular, a BNCC. O ensino remoto, impulsionado pela pandemia, expôs a todos essa necessidade. Para o MEC, todo jovem precisa compreender, utilizar e criar tecnologia de forma reflexiva, significativa e ética. Assim, os educadores precisam desenvolver em seus alunos habilidades digitais, como lógica da programação e a capacidade de lidar com problemas de modo estruturado, tornando-os protagonistas da tecnologia.

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Os alunos que ingressarem no ensino médio a partir deste ano vão se deparar com uma novidade. O novo ensino médio, aprovado em uma lei de 2017, passa a valer a partir deste ano letivo e vai mudar gradativamente o ensino em escolas públicas e privadas de todo o país. Entre outros pontos, o novo formato prevê o aumento de horas letivas anuais e mudanças na grade curricular e até no objetivo do próprio ensino médio.

O que antes poderia ser visto como uma preparação para o ensino superior vai passar a ter um olhar voltado ao mercado de trabalho. Isso porque esta etapa de ensino será integrada a cursos técnicos que farão com que o aluno, ao concluir este nível, tenha também o diploma de uma área específica.

O desenvolvimento dessas competências esbarra na ausência de um currículo que capacite professores em habilidades digitais nas escolas de educação básica. Assim surgem iniciativas como a DH Schools, unidade de negócios Digital House que capacita os docentes na compreensão da lógica de programação, a fim de que possam ser multiplicadores desse conhecimento. Para a coordenadora pedagógica da iniciativa, Katia Helena Pereira, desenvolver habilidades digitais é parte fundamental do novo itinerário formativo do ensino médio. “O papel do professor é extremamente significativo para a construção da consciência social de seus alunos e forte influência em suas escolhas profissionais, rompendo as fronteiras do mundo escolar, ao conectar a sala de aula com a contemporaneidade.”

Katia faz um alerta. “Existe uma percepção equivocada de que o jovem é proficiente digitalmente, de que compreende e interpreta a complexidade destas tecnologias. A necessidade do ensino remoto mostrou que isso não é verdade. Percebeu-se que nem todos os jovens são bons usuários dessas tecnologias, sem dominar as linguagens que as compõem, produzindo usos equivocados como a divulgação de dados pessoais nas mídias sociais e comprometendo inclusive a segurança das pessoas.”

Professores se capacitam nesse novo cenário

O programa trabalha a formação de educadores e estudantes nas áreas de Programação e Empreendedorismo Digital, com módulos voltados a Marketing, UX, Programação, Cultura e Cidadania Digital. Katia, que é doutora em educação, defende a modernização do currículo escolar. "Atravessamos todo o currículo, incorporamos na escola aspectos que vão além da decodificação, mas que recolocam o sujeito com proposições mais conscientes e autorais em relação ao mundo digital. O professor é um ator de fundamental importância nesse processo. Além de facilitador do conhecimento, é alguém que inspira e influencia os alunos.”

Desde 2019, a escola, junto a instituições parceiras, já capacitou mais de 300 professores de educação básica no uso de ferramentas e habilidades digitais, enriquecendo o currículo dos docentes e modernizando o repertório de trilhas formativas oferecidas. Caso da pedagoga, formada em Letras, Maria Paula, professora do Colégio Franciscano Seibo, de Mogi das Cruzes, Grande São Paulo, que se formou em 2019 e teve novas percepções de sua carreira. “Hoje, leciono uma disciplina que chamamos de Projeto de Vida - Empreendedorismo, em que trabalhamos aspectos da cidadania digital, que vai muito além do simples acesso à informação. Passa pela capacidade de interpretar estes dados à necessidade de atenção dos alunos para as chamadas fake news, por exemplo.”

A capacitação em Cultura Digital desenvolveu em Paula um novo olhar sobre sua profissão: “O curso me deu uma nova visão da sala de aula, pois as atividades remotas me mostraram o potencial do mundo digital. Além de simplesmente replicar a informação, me apaixonei pelo assunto”, diz ela, que hoje faz especialização em Análise de Sistemas.

Sobre os novos usos da tecnologia, ela tem algumas ressalvas: "Falta senso crítico aos alunos no uso dessas ferramentas. Práticas como o bullying, por exemplo, nos mostram a necessidade de trabalhar estes jovens para a consciência do uso das redes, além da simples promoção da imagem pessoal. Provocamos nos alunos o pensamento crítico, trabalhamos o socioemocional, os levamos a pensar no eu e no próximo, a pensar em pautas da cidadania, diversidade e meio ambiente.”

O desenvolvimento de competências digitais passa por entender, interpretar e criar tecnologias, tornando-se proficiente digitalmente, sabendo usar estas habilidades, comunicar-se e criar recursos digitais. Isso amplia perspectivas de atuação profissional na área digital e melhora sua relação com os recursos tecnológicos oferecidos.

Esta busca por especialização também está presente na rede pública. A Secretaria do Estado de Educação de São Paulo, em parceria com a Digital House, desenvolveu o programa Estação Hack para Educadores. O curso busca integrar educadores e alunos no mundo da programação, com aulas de HTML e CSS.

Os docentes capacitados se tornaram multiplicadores desse conhecimento em suas escolas de origem. Caso da professora Ana Maria, da Escola Estadual Mauro de Oliveira, de São Paulo.

Ela já buscava especialização na área, mas o advento da pandemia e a necessidade das aulas remotas a levaram a acelerar esse processo.”O curso me abriu os olhos e ampliou a minha  visão sobre tecnologia, me permitindo enxergar a rede além dos navegadores de internet. Aprendi linguagem de programação e acesso esse conhecimento na matéria eletiva que leciono, desenvolvimento de websites, para os alunos do ensino médio.”

Para a professora, pensar em cultura digital é abrir novas portas para seus alunos. ”Antes das aulas, eles tinham uma cabeça gamificada, buscando apenas lazer no uso das redes, voltada principalmente para jogos. Estavam no modo automático. Ao aprenderem linguagem de programação, codificaram esse conhecimento em aplicações que vão desde o desenvolvimento de websites até aplicações em robótica. É algo libertador, eles estão amando.”

Observar essas transformações em alunos da rede pública é uma das motivações da coordenadora da iniciativa. Katia ressalta que as tecnologias digitais estão em todos os aspectos da vida social contemporânea: “Cidadania digital abrange do acesso ao mundo da informação à capacidade de interpretar esses dados, desconfiando de fake news, por exemplo, e se preparando melhor para o mundo do trabalho.”

Tags: educacao, Cultura Digital, Professores