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O que é a onda de calor Cérbero, que pode provocar temperaturas recordes na Europa - BBC News Brasil
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O que é a onda de calor Cérbero, que pode provocar temperaturas recordes na Europa - BBC News Brasil

Fenômeno deixa continente em alerta, com previsões de temperatura acima dos 40°C em diferentes países; na Itália, termômetro pode beirar os 50°C.

Conhecimento

Uma onda de calor está atingindo partes do sul da Europa e noroeste da África, com temperaturas potencialmente recordes nos próximos dias.

Espera-se que as temperaturas ultrapassem os 40°C em partes da Espanha, França, Grécia, Croácia e Turquia.

Na Itália, as temperaturas podem chegar a 48,8°C. Um alerta vermelho foi emitido para 10 cidades, incluindo Roma, Bolonha e Florença.

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Na terça-feira, um homem de 40 anos morreu após desmaiar no norte da Itália.

A imprensa italiana informou que o trabalhador de 44 anos estava pintando faixas de pedestres na cidade de Lodi, perto de Milão, antes de desmaiar devido ao calor. Ele foi levado ao hospital, onde morreu mais tarde.

Vários turistas desmaiaram devido à insolação no país, incluindo um britânico que estava do lado de fora do Coliseu, em Roma.

As pessoas foram aconselhadas a beber pelo menos dois litros de água por dia e evitar café e álcool, produtor que podem desidratá-las.

Dois turistas australianos nas ruas de Roma disseram à BBC que ficaram "realmente surpresos" com o calor.

"Isso estraga um pouco nossos planos como turistas", disseram Maria e Gloria, duas amigas de Melbourne. "Estamos tentando não sair no meio do dia."

Os turistas italianos Andrea Romano e Michele La Penna disseram à BBC que sua cidade natal, Potenza, nas montanhas dos Apeninos, tem "temperaturas mais amenas" do que Roma.

"Precisamos começar a fazer algo sobre a mudança climática. Precisamos ser mais responsáveis. O dano já está feito. Precisamos fazer algo a respeito. Mas não apenas o governo... Tudo começa com as pessoas. Cada um de nós precisa fazer algo: use menos plástico, não use ar-condicionado, use carros elétricos", disse Andrea.

A onda de calor Cérbero - batizada com esse nome pela Sociedade Meteorológica Italiana em homenagem ao monstro de três cabeças que aparece na obra Inferno de Dante - deve levar a condições mais extremas nos próximos dias.

A Espanha está sofrendo há dias com temperaturas de até 45°C. Já clima à noite em grande parte do país tem ficado sempre acima dos 25°C.

O governo regional da Andaluzia iniciou um serviço telefônico de assistência às pessoas afetadas pelo calor, que recebeu 54 mil ligações desde que foi implantado, no início de junho.

Uma imagem de satélite registrada pela missão Copernicus Sentinel da UE revelou que a temperatura da superfície terrestre na região da Extremadura, também na Espanha, atingiu 60°C.

O serviço meteorológico nacional do Reino Unido, o Met Office, diz que as temperaturas podem atingir o pico na sexta-feira. A BBC Weather, serviço de previsão do tempo da BBC, informou que grandes áreas do sul da Europa podem ter temperaturas de 40ºC - e possivelmente mais altas.

Mas, à medida que a onda Cérbero desaparece, os meteorologistas italianos estão alertando que a próxima onda de calor - apelidada de Caronte em homenagem ao barqueiro que entregou almas ao submundo na mitologia grega - levará as temperaturas de volta a 43ºC em Roma e um possível 47ºC na ilha da Sardenha.

Verão com alta do calor em todo mundo

Análise de Justin Rowlatt, editor de clima da BBC

Não é só a Europa que está "pegando fogo".

Neste verão, recordes de temperatura foram quebrados em partes do Canadá e dos Estados Unidos, bem como em uma faixa da Ásia, incluindo Índia e China.

As temperaturas do mar no Atlântico atingiram recordes, enquanto o gelo marinho da Antártica está na menor extensão já registrada.

E vai ficar mais quente.

Um fenômeno climático chamado El Niño está se desenvolvendo no Pacífico tropical. Ele tende a elevar as temperaturas em cerca de 0,2°C, em média.

Isso pode não parecer muito, mas se soma ao cerca de 1,1°C que a mudança climática acrescentou às temperaturas médias em todo o mundo, e estamos nos aproximando perigosamente do limite de 1,5°C que o mundo concordou em tentar manter abaixo.

Vamos colocar as coisas em um contexto histórico para nos dar alguma perspectiva.

A primeira semana de julho foi considerada a semana mais quente desde o início dos registros sobre temperatura.

Os cientistas podem usar as bolhas de ar presas no antigo gelo da Antártica para estimar temperaturas que remontam a mais de um milhão de anos.

Esses dados sugerem que a semana passada foi a mais quente em cerca de 125 mil anos.

Era um período geológico conhecido como Eemian, quando havia hipopótamos no rio Tâmisa, no Reino Unido, e o nível do mar era estimado em cerca de 5 metros mais alto do que é hoje.

Mortes por calor

Um novo estudo apontou que 61.672 pessoas morreram na Europa como resultado do calor no ano passado.

O ISGlobal Institute em Barcelona - que pesquisa a saúde global - disse que a Itália teve o maior número de mortes que podem ser atribuídas ao calor, com 18.010 casos, enquanto a Espanha teve 11.324 e a Alemanha, 8.173.

O medo é que o calor possa causar muito mais mortes neste verão.

As cidades da Espanha com maior risco de mortes causadas pelo calor são Madri, Barcelona, ​​Valência, Sevilha, Málaga, Múrcia, Palma de Maiorca e Bilbao, segundo pesquisa do ISGlobal.

Uma onda de calor é um período de clima quente em que as temperaturas são mais altas do que o esperado para a época do ano.

Especialistas dizem que os períodos de clima excepcionalmente quente estão se tornando cada vez mais frequentes, e as mudanças climáticas significam que agora é normal experimentar temperaturas recordes.

No momento, não há indicação de que o calor no sul da Europa chegará ao Reino Unido - o país permanece no ar mais frio do Atlântico durante a próxima semana, de acordo com Darren Bett, da BBC Weather.

O Reino Unido está passando por um mês de julho um pouco mais úmido do que o normal, com temperaturas que parecem bastante baixas.

Mas isso contrasta principalmente com o clima de junho, que foi o mais quente já registrado por uma margem considerável - algo que, de acordo com o Met Office, carregava a "impressão digital das mudanças climáticas".