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Redes sociais intensificaram a chegada de um 'novo político' | O TEMPO
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Redes sociais intensificaram a chegada de um 'novo político' | O TEMPO

Cientista político, Paulo Diniz alerta que novas formas de comunicar e fazer política hoje são fenômeno mundial

Ciência & Tecnologia

As redes sociais ganharam extrema importância no processo eleitoral nos últimos anos. O fenômeno fez com que alguns personagens surgissem e ocupassem espaços ou que crescessem e passassem a ter papel de destaque em determinado local ou grupo. O fortalecimento das individualidades foi mais um fator para o enfraquecimento dos partidos e também de suas propostas ideológicas.

Professor e pesquisador da UFMG, Camilo Aggio fala sobre como as redes sociais deram força a pessoas para entender como usar a internet a seu favor.

“Tem um fenômeno que tem contornos de continuidade, mas eu acho que também tem descontinuidades. É exatamente o modo como a economia da visibilidade mudou expressivamente com a popularização das plataformas digitais”, observa.

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“Assim como o próprio regime de distribuição de capital social: o reconhecimento da autoridade do outro deixa de ser exclusivamente baseado nas competências específicas cultivadas e demonstradas por especialistas em determinadas áreas, entre elas a política, e se torna, portanto, esse capital social que passa a ser cultivado pelos sujeitos que estão sendo reconhecidos pela quantidade de seguidores que conseguem arregimentar nos canais e nos perfis que administram”, diz.

Complexidade

Cientista político e colunista de O TEMPO, Paulo Diniz tem pensamento semelhante ao de Aggio e afirma que as diversas mudanças que o mundo enfrentou nos últimos anos tornam as questões políticas ainda mais complexas para o eleitor.

“Em condições normais, é fato que os eleitores se sentem confusos na hora de escolher seus candidatos. Porém, nos últimos dez anos, as mudanças sociais, comunicacionais e na forma de se fazer política têm sido enormes. As pautas ideológicas tradicionais se perderam na forma como se comunica e faz política hoje em dia – e isso é um fenômeno mundial”, avisa.

“Dessa forma, o eleitor brasileiro não escaparia de enfrentar o emaranhado ideológico que ele já enfrenta hoje na política nacional”.

Aggio ressalta que o crescimento dos influenciadores faz os partidos irem até eles, deixando questões ideológicas em segundo plano.

“Então nós temos aí um elemento importante que faz, inclusive, com que os partidos corram atrás desses personagens, que se tornam puxadores de voto. Os partidos vão ganhando ainda menos importância diante dessa individualização da política com base nessas plataformas digitais”, afirma Aggio.

PT e PL procuram se manter fiéis às suas convicções

Apesar das grandes diferenças ideológicas entre as legendas a que pertencem, dois parlamentares mineiros concordam em alguns aspectos sobre a perda de identidade da maioria dos partidos e falam sobre o atual cenário.

Os deputados estaduais Cristiano Silveira (PT) e Cristiano Caporezzo (PL) acreditam que grande parte das agremiações não atrai seu eleitorado apenas pelo que propõe ideologicamente.

Para Silveira, o PT segue o partido com o maior pacto com seu eleitor. “Eu acho que o problema no Brasil nos últimos anos é que a maioria dos partidos foi construída mais para cumprir dispositivo legal da legislação eleitoral do que necessariamente como consequência de uma construção ideológica de conteúdo de programa. Por isso que vez ou outra você percebe que um partido encerra suas atividades, muda de nome ou faz fusão, e o PT permanece o PT. O partido sempre tem um programa muito claro”, avalia Cristiano Silveira.

Já o deputado do PL afirma que o que vem ocorrendo com os partidos nos últimos anos é fruto de uma criação de consciência do eleitorado brasileiro.

“Ao contrário do que acontece com os partidos políticos, em que se fala em enfraquecimento ideológico, salvo exceções como PL e PT, a população brasileira tem desenvolvido grande consciência ideológica”, avalia o deputado.

“Porque, a partir do momento em que a população consegue identificar a postura de cada candidato em relação a temas relevantes da política, a partir do momento em que essa população tem bem formados em sua mente conceitos políticos como socialismo, capitalismo, liberalismo, conservadorismo, ela consegue se posicionar conforme esse entendimento”, ressalta Caporezzo.

Nikolas é exemplo de um novo cenário

Para Camilo Aggio, políticos como Nikolas Ferreira (PL) são exemplos desse novo fenômeno. O deputado federal mineiro foi o mais votado do Brasil, com 1.492.047 votos.

O cientista político lembra a trajetória política de Nikolas, que não passou pelos meios tradicionais de crescimento político dentro de um partido, mas criou seu público – leia-se eleitores – pelas redes sociais.

“(Nikolas) é um garoto como tantos outros. E a gente pode pensar em alguns tantos outros políticos, principalmente do Legislativo, que se cacifaram política e eleitoralmente a prescindir do percurso tradicional, de uma carreira conquistada dentro de um partido”, diz.

“Basicamente (foram eleitos) pelo modo como eles falam de política e tratam de política nos canais deles. E é isso que a eles se confere, portanto, não apenas capital social de reconhecimento, como o próprio capital eleitoral”, afirma.

A reportagem tentou contato com o deputado federal Nikolas Ferreira, mas não tinha obtido retorno até o fechamento desta edição.