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Força nuclear: quantas vezes Rússia e Estados Unidos podem destruir o mundo?
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Força nuclear: quantas vezes Rússia e Estados Unidos podem destruir o mundo?

Guerra entre Rússia e Ucrânia reacende debate sobre uso de armas nucleares

Ciência & Tecnologia

O agravamento das tensões entre Rússia e Ucrânia aconteceu em 24 de fevereiro de 2022. Quase um ano e meio depois, a guerra continua e está em um momento de quase impasse.

"Ao que tudo indica, as forças ucranianas começaram a fazer um avanço maior na região de Zaporozhye e Bakhmut. De qualquer forma, a situação está indefinida, as forças ucranianas estão tendo que lutar trincheira a trincheira, como foi feito na Primeira Guerra Mundial", observa o professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo e membro do Conselho Acadêmico da StandWithUs Brasil, Gunther Rudzit.

Quando uma potência nuclear entra em guerra, sempre há apreensão de uma possível escalada. Essa preocupação aumenta quando esse país não alcança seus objetivos militares por meios convencionais ou até mesmo se vê perdendo o conflito.

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"E, quando esse caso é com a Rússia, liderada por Vladimir Putin, a preocupação aumenta, uma vez que ele é conhecido por escalar a tensão para depois poder negociar em uma situação de vantagem. O contrapeso a isso é que tanto o governo da Índia quanto o da China já deixaram claro que são contra a utilização de armas nucleares, mesmo táticas, o que deve restringir a opção nuclear russa", esclarece o especialista.

Com a mudança na dinâmica da política internacional e o aumento das tensões entre China e Estados Unidos por Taiwan, a questão nuclear continua preocupante. Contudo, a possibilidade de destruição em massa é também um freio ao uso de armas nucleares. Isso desde que a liderança de um país nuclear não esteja em risco de deixar de existir.

Hoje a Rússia tem em torno de 5.977 ogivas, e os Estados Unidos, 5.550. Há muito debate sobre quantas vezes esse arsenal poderia destruir a Terra. "Mas, segundo dados mais aceitos, seria de 16 vezes. O cálculo no auge da Guerra Fria era que se poderia destruir 36 vezes. De qualquer forma, a quantidade não importa, uma vez que se acabaria com a vida no planeta como conhecemos hoje", diz Gunther Rudzit.

O que a Rússia quer? E a Ucrânia?

A Ucrânia quer expulsar as tropas russas e retomar o controle do seu território, inclusive da Crimeia, que foi invadida e anexada pela Rússia, em 2014. "Vladimir Putin queria, no início da invasão, derrubar o governo ucraniano e colocar alguém subordinado ao Kremlin no lugar do presidente, Volodmir Zelensky. Como não conseguiu, fica uma grande dúvida sobre o que Putin realmente quer agora, já que não atingiu seu objetivo inicial. Ao que tudo indica, ele quer que o governo ucraniano aceite perder o território ocupado pelas forças russas hoje", explica o professor de relações internacionais.

Gunther Rudzit afirma também que há vários temas envolvidos nesta guerra que chamam atenção, como a mudança da dinâmica da política internacional. "Hoje podemos notar dois grandes blocos, o do Ocidente [EUA, Canadá, Europa, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e alguns países do Sudeste Asiático) e das autocracias (China, Rússia, Irã, Coreia do Norte e alguns países africanos), que disputam o apoio do chamado Sul Global."

Além disso, os países europeus mudaram completamente sua percepção em relação à Rússia e à segurança da Europa. Tanto que a Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos que hoje reúne 30 países da região do Atlântico Norte) aprovou, na última cúpula, um novo plano de defesa, o que vai fazer com que os países-membros tenham que se adequar às novas demandas de capacidade militar. "Assim, o teto mínimo de gastos em defesa de 2% do PIB deve ser alcançado por todos nos próximos anos. A Alemanha, por exemplo, a maior economia da Europa e que não seguia essa determinação da organização, já lançou um pacote de 2 bilhões de euros para reequipamento e vai buscar o patamar dos 2% antes mesmo do prazo", ressalta Rudzit.

Treinamentos militares próximos à Polônia

O exercício militar que aconteceu em maio na Polônia, país-membro da Otan, chamado Anakonda-23, começou a ser planejado em 2021, quando a Rússia alocou forças militares nas fronteiras com a Ucrânia e em Belarus. "Naquele momento não se tinha certeza se haveria uma invasão, mas a Otan viu que precisava dar uma demonstração de que tinha a capacidade de responder a uma ameaça russa. Assim, a Otan e seus governos passaram a ver a importância da capacidade de mobilização e de combate de suas Forças Armadas diante do novo cenário de insegurança da Europa."

Na última semana, vídeos divulgados pela imprensa internacional mostraram mercenários do Grupo Wagner (organização militar de origem russa) treinando forças especiais bielorrussas a apenas 5 quilômetros da fronteira com a Polônia, reacendendo a preocupação da Otan.

Futuro mundial

É muito difícil conseguir prever o que poderá acontecer na guerra entre Rússia e Ucrânia, mas, para o professor Gunther Rudzit, qualquer negociação de paz somente ocorrerá se um dos lados achar que pode perder a guerra e procurar negociar para perder menos.

"Enquanto os dois lados acharem que podem ganhar o conflito, não existe um incentivo para uma negociação de paz. Há ainda a possibilidade de que, se o ex-presidente Donald Trump voltar ao poder nas eleições do ano que vem nos Estados Unidos, é possível que ele corte a ajuda militar e econômica à Ucrânia, o que agravaria o conflito."

Milhares de pessoas hoje estão indo dormir sob o som de sirenes, sem saber se acordarão vivas. Tudo isso porque líderes, sentados em seus escritórios, ditam ordens maquiavélicas, em busca de desejos egoístas.

Por isso, vale refletir de que forma contribuímos para um mundo melhor. Fechar os olhos para o que acontece ao nosso redor nunca é uma boa opção. Afinal, o sofrimento de pessoas inocentes não pode passar despercebido.

Batalhas por poder e por territórios à custa de muitas mortes existem desde que o mundo é mundo. Quando estudamos a história e observamos os conflitos atuais, percebemos que quase nada se aprendeu com os milhões de vidas ceifadas nas diversas guerras do passado.

"A guerra é um massacre entre gente que não se conhece para o proveito de pessoas que se conhecem, mas não se massacram." Paul Valéry.