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Você já ouviu falar em Slow Life?

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Você, hoje, vive a sua vida com prazer?

O que é sucesso para você?

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Você gostaria de desacelerar seu ritmo de vida para viver melhor?

Foi parando para responder todas estas perguntas que a empreendedora Valéria Chociai, criadora do projeto “365 Convites para Desacelerar”, aderiu ao chamado Movimento Slow, que hoje é praticado e desejado por milhares de pessoas em todo o mundo. Falco Portinari, no Manifesto Slow, define em uma frase o objetivo do Movimento: “Que nos sejam garantidas doses apropriadas de prazer sensual e que o prazer lento e duradouro nos proteja do ritmo da multidão que confunde frenesi com eficiência”.

Como tantos outros profissionais bem-sucedidos, Valéria sempre achou que ter sucesso era não parar de estudar – na verdade, não parar de fazer tudo! Sua meta era estudar para ter uma excelente formação e um ótimo emprego para ganhar muito dinheiro e consumir mais ainda, comprando o carro do ano e a casa dos sonhos. Depois, o próximo passo seria se casar com um príncipe encantado e ter filhos lindos, educados, perfeitos. E durante muito tempo ela viveu assim...

A hoje empreendedora se graduou em Hotelaria e se apaixonou por Alta Gastronomia ainda nos estágios durante a faculdade. Depois, se especializou em Administração de Restaurantes e fez cursos de Administração de Serviços pela University of British Columbia, MBA em Gestão de Pessoas pela FGV em parceria com a University of Ohio e Gerenciamento de Serviços e Segurança Alimentar pela Disney University de Orlando. Valéria trabalhou em diversos restaurantes do Brasil e do exterior e passou os últimos 15 anos como chef e gestora do La Pasta Gialla de Alphaville (SP). Durante este período, desenvolveu mais 2 paixões: viagens e desenvolvimento pessoal. Criou sua própria empresa digital com foco em elaboração de roteiros de viagens personalizados. Tornou-se coach, mentora, praticante de PNL e, principalmente, estudiosa da Slow Life. Valéria também é co-autora do livro “Metamorfoses da Maturidade” (dezembro de 2020, Editora Umanos).

Hoje, Valéria desacelerou. Seu tempo se divide entre mimar a filha de 4 patas, Maria Mole, e estudar para se formar em Psicossíntese pelo Centro de Psicossíntese de São Paulo, além de divulgar a Slow Life e a desaceleração radical por meio da vivência do segundo de seus 3 anos sabáticos. Seu mais novo projeto, o “365 Convites para Desacelerar”, é uma jornada vivencial que acolhe pessoas que querem desacelerar por meio de um perfil fechado no Instagram.

Aos 43 anos de idade, a menina que morou no sítio até os 6 anos e depois viveu na cidade grande se mudou para Poços de Caldas por conta do isolamento social. Sem filhos, Valéria levou na bagagem suas memórias como bandeirante, escoteira e amante de esportes radicais. “Posso afirmar que fui feliz em toda a minha vida, inclusive profissional. Só que, com o tempo, meu conceito de felicidade mudou. Logo depois que completei 30 anos, tive a minha primeira crise de estresse e ansiedade. Na época, um amigo me presenteou com o livro ‘Mil Dias na Toscana’, que conta a história real de uma chef americana que se apaixona por um italiano e se muda para Veneza. Para viver esta história de amor, o casal sente a necessidade de desacelerar e se muda para a pequena San Casciano dei Bagni. E foi nesta parte do livro que minha vida mudou”, conta Valéria.

Comunidade. Natureza. Tempo. Simplicidade. Prazer. Estas 5 palavras resumem a marca que o livro deixou em Valéria, que descobriu que existiam outras definições de sucesso além daquela que estava vivendo. A mudança de vida não foi radical, mas sim planejada e iniciada com pequenos passos, afinal, estas palavras faziam parte dos seus desejos, mas não das suas prioridades. Depois de 7 anos, Valéria passou por mais uma crise de estresse e, com ajuda de medicações, terapia, treinamentos, pesquisas e bons amigos, logo após completar 40 anos, ela chegou à sua própria nova definição de sucesso. “Quando entendi o que eu realmente queria da vida e comecei a contar para as pessoas meus novos objetivos fui chamada de louca, romântica, irresponsável, ridícula, mimada e mais um monte de adjetivos que a gente recebe quando decide ‘sair da casinha’. Percebi, então, que precisava me encaixar em uma nova ‘tribo’, pois parte da minha turma já não me reconhecia mais, e encontrei abrigo e suporte no Slow Movement, que me fez chegar onde estou hoje”, lembra Valéria.

Mas o que significa esse tal de Slow?

Desacelerar não é um assunto recente - a Bíblia e vários filósofos da antiguidade já falavam sobre o tema. Nos anos 80, o jornalista Carlo Petrini fundou o Movimento Slow Food, na Itália. O símbolo da associação é um caracol que segue devagar e sempre, comendo com toda a calma do mundo. Mas o movimento não trata apenas de comer de forma mais lenta - Slow é um acrônimo para sustentável (sustainable), local (local), orgânico (organic) e completo (whole). Entre as várias atividades relacionadas ao Slow Food encontram-se projetos voltados à educação do gosto e à aproximação de pequenos produtores com consumidores finais, por exemplo. Também é amplamente difundido o incentivo à alimentação baseada no ingrediente bom, limpo e justo - a organização criou a Universidade de Ciências Gastronômicas para entrelaçar a inovação aos saberes tradicionais em Pollenzo, na Itália.

E foi a partir do Slow Food que o assunto desaceleração tomou corpo e cresceu, segundo Valéria, na mesma medida em que todos nós fomos nos tornando cada vez mais cansados e mais consumistas superficiais. “O chamado para rever nossos hábitos relacionados à cadeia da mesa foi expandindo para outras áreas como a da beleza (Slow Beauty), das viagens (Slow Travel), da Medicina (Slow Medicine), das finanças (Slow Money) e do urbanismo (Slow Cities) até chegar numa concepção mais ampla, que é a Slow Life, que se propõe a acomodar todas as esferas da nossa vida”, explica.

O jornalista escocês Carl Honoré, maior estudioso e divulgador da Slow Life da atualidade, costuma dizer que “A filosofia Slow não é fazer tudo a um ritmo de caracol. Trata-se de tentar fazer tudo à velocidade certa. Saboreando as horas e minutos em vez de apenas contá-los. Fazendo tudo o que for possível, em vez de ser o mais rápido possível. É sobre ter qualidade em detrimento da quantidade em tudo, desde o trabalho até a comida e a criação dos filhos”. Carl Honoré, em seu livro “Devagar”, define que “Depressa é agitado, controlador, agressivo, apressado, analítico, estressado, superficial, impaciente, ativo, quantidade-mais-que-qualidade. Devagar é o oposto: calmo, cuidadoso, receptivo, tranquilo, intuitivo, sereno, paciente, reflexivo, qualidade-mais-que-quantidade. É uma questão de estabelecer ligações reais e significativas — com pessoas, a cultura, o trabalho, a comida, tudo”.

Para Valéria, o Slow Life se refere à busca cuidadosa por mais qualidade de vida e mais resultados concretos nas esferas que nos fazem sentido. É usar o tempo a nosso favor em vez de sair o distribuindo e até o desperdiçando em tarefas, relacionamentos ou quaisquer assuntos que não comunguem diretamente com nossas próprias escolhas. É agir em velocidade rápida quando (e se) necessário, mas com mais domínio do velocímetro. “Significa encontrar e desfrutar o real prazer de viver. Mas não é um prazer qualquer, hedonista ou desprovido de intenção. É um prazer mais maduro, em paz consigo mesmo, com o tempo e com o universo”.

Os pilares da Slow Life

Valéria considera como pilares da Slow Life:

AUTOCONHECIMENTO

Existe o mundo e existe você. Quem é você, o interno, quando se afasta e se liberta do externo? Até que ponto compreendemos o que é fruto do nosso mais profundo eu e o que é fruto do meio onde estamos inseridos, das nossas heranças familiares e da nossa simples reatividade? O antídoto para esta confusão de limites é o autoconhecimento, e se auto desbravar não é um processo simples. Não faz sentido quando feito aos poucos e nem é plausível sem auxílio de um especialista. Saber como caminhar em direção ao autoconhecimento é, em si, um dos primeiros passos do autoconhecimento. Para Valéria, se não soubermos quem realmente somos e o que queremos, não faz sentido desacelerar. Desacelerar não é descansar de uma existência exaustiva e estressante - o repouso pode ser o primeiro passo. Desacelerar é chegar de maneira sustentável onde se quer chegar. E o autoconhecimento é fundamental para ajudar a perceber nossos próprios ritmos e fluxos, assim como as horas mais produtivas do dia, da semana e do mês. “Por quanto tempo você consegue se manter focado numa mesma tarefa, extraindo prazer dela? O que agrega contentamento às suas atividades? O que seria preciso para acrescentar um toque de deleite às ocupações chatas, mas necessárias? Tudo isso o autoconhecimento pode ajudar a responder”, afirma Valéria.

PRESENÇA

Se o Slow Life implica na retomada das rédeas da nossa própria vida, como fazer isso mecanicamente? Estar presente é o antídoto contra o “piloto automático”. Significa estar por inteiro em si próprio a cada momento da jornada. É deixar de lado as feridas do passado e a ansiedade do futuro e usufruir um instante específico. “A presença não sobrevive a uma rotina desalinhada em relação a si mesmo ou a uma agenda que prioriza a próxima tarefa numa lista infinita, irreal e indesejada. Estar presente depende de uma escolha consciente não só com relação ao quê, mas também ao porquê e ao como de cada opção. Precisamos de presença para fazer escolhas que nos permitem permanecer inteiros ao realizar o que escolhemos”, detalha.

CORAGEM

Aí você passa a se conhecer e vive belamente no presente até que percebe que tem várias coisas que gostaria de mudar. Cadê a coragem? Quando exercitada como um músculo, a coragem expande nossos horizontes e limites e nos leva além da teórica zona de conforto estabelecida pelas intenções positivas do medo. E é além que merecemos nos permitir ir para conquistar uma vida repleta de prazer e plenitude. “É necessária uma boa dose de brio para bancar valores e desejos e passar por cima das próprias desculpas e respirar fundo com os julgamentos que, com certeza, virão. E, se de qualquer forma, somos e seremos criticados, então, que sejamos julgados pelas coisas tocam nosso coração e nossa alma. A coragem é o primeiro passo para transformar teoria em prática, vontade em ação”, afirma Valéria.

AÇÃO

Ação, ação, ação - uma atrás da outra, mesmo que cada uma em seu devido tempo.

Como aderir à Slow Life?

O primeiro passo a ser dado é decidir desacelerar. É decidir trilhar um caminho próprio, mais natural e fluído. Dizer um maiúsculo BASTA ao ritmo frenético que está sendo imposto. A partir daí, Valéria Chociai diz que vários roteiros são possíveis. “Confie na sua sabedoria interior. Lá no fundo você já sabe o que gostaria de fazer para adicionar contentamento à sua história de vida. Pergunte-se quais são as 3 coisas que você efetivamente pode fazer para desacelerar e se sentir melhor durante a próxima semana, o próximo mês e, assim, sucessivamente. E, por favor, não distorça a realidade para criar entraves para suas próprias respostas”, lembra.

Cuidar com atenção da agenda é, também, uma atividade básica para desacelerar, e isso está ligado diretamente à produtividade saudável, tão necessária para o que desejamos conquistar. “Observe de que forma você usa seu tempo. Defina o que é prioridade e programe as horas de sono adequadas. Planeje diversas pequenas pausas intencionais durante as atividades do dia e, sempre que possível, inclua nelas algo que te faça rir. Realize algo gostoso de forma proposital”, indica Valéria.

É importante transformar o desejo de desacelerar em projeto de vida, afinal, a busca pelo prazer em viver não merece ficar no campo dos sonhos, e sabemos que é isso que acaba acontecendo quando não assumimos um compromisso mais efetivo com nós mesmos. Estabeleça um projeto de vida que respeite suas possibilidades, seus ritmos, seu momento. Que seja a solução. “O Slow Life é um estilo de vida, e a gente não muda do dia para a noite. Existe o que é possível fazer agora, que são pequenas mudanças superficiais, e o que a gente se programa para fazer a longo prazo, como, por exemplo, uma transição de carreira profissional. E aí tem o COMO fazer esta transição de longo prazo: vai ser no Modo Fast ou no Modo Slow?“, finaliza Valéria.