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Cultura & Entretenimento

O Brasil fora do Oscar - do Complexo de Vira-Lata à Síndrome do Pinscher.

O que mais me surpreende não é o Brasil ficar mais uma vez fora da disputa do Oscar, mas alguns supostos especialistas realmente acharem que a gente tinha chances. Em ano de "Parasita" e "Dor e Glória" foi até bom ficarmos de fora. Economizamos passagens de atores e equipe, sem falar na expectativa na hora da transmissão. Digo mais: ao contrário do que apregoa a turma mais ufanista, nem "Bacurau" teria passado desta etapa também. Uma coisa é torcer, outra é acreditar. Uma terceira é ter discernimento. A verdade é dolorosa, mas necessária aqui: nenhuma produção nossa em 2019 tinha qualidade para entrar na disputa. Não chegamos entre os finalistas do Oscar há mais de VINTE anos e não chegaremos tão cedo.

Diferente do que dizem e apregoam nossos cineastas, a questão não é falta de apoio ou dinheiro incentivado. Fosse assim não teríamos a Macedônia do Norte, um país do tamanho de Sergipe ainda no páreo. Isto acontece porque, independente de política, de governos, ministérios, secretarias, agências, conselhos e comitês, o cinema brasileiro peca no mais básico requisito da área que é colocar a política acima da criação. No Brasil pouco importa o filme, mas quem fez o filme. Nossa elite artística é autoindulgente e sempre se contenta com pouco, desde que esse pouco seja produzido por alguém dessa mesma elite.

Nós não ganhamos o Oscar até hoje não porque não temos talento para o cinema, como acreditam alguns de nossos críticos, mas porque nossos verdadeiros talentos são sempre postos de lado para abrir espaço para publicitários endinheirados, empresários entediados, acadêmicos politiqueiros, e filhos de banqueiros brincarem de cinema. Caímos sempre no oba-oba da área, onde todo mundo se lambe e se autoelogia, e entrega pouco nas telas. Quem lê nossos jornais acha que o cinema brasileiro está bombando, mas estamos longe disso. Achamos-nos geniais e importantes, gritamos que fazemos e acontecemos aqui dentro, mas quando chega lá fora somos tratados como o café-com-leite que realmente somos, afastados das premiações principais, e nos regozijando por ganhar taças na terceira divisão.

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Chegamos ao ridículo de comemorar prêmio em mostra à parte em Cannes porque fazemos questão de esquecer que nossa última Palma de Ouro, o prêmio principal, tem quase sessenta anos. Melhor mesmo seria esquecer o Oscar de vez. Que continuemos a nos contentar com a marmota de ouro de Vladivostok, o sabugo de prata de Valladolid, a menção honrosa na mostrinha paralela politizada. Não passamos de reizinhos de rua, mimados, complacentes, e incapazes de encarar até brigas de quarteirão.

Como costumo dizer, o cinema brasileiro pulou direto do complexo de vira-latas para a síndrome do pinscher: aquele cachorrinho ridículo e minúsculo que acha que é doberman. Continuaremos não mordendo ou ameaçando ninguém, mas latimos e fazemos barulho que é uma maravilha.O autoengano não deixa de ser uma benção.