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Cultura & Entretenimento

Astronauta da NASA ajuda família a realizar sonho de vítima do 11 de Setembro

Quando Chandler “Chad” Keller era criança, sonhava em ser astronauta. Desde os seis anos de idade, Chad e seu pai, Richard Keller, brincavam de lançar foguetes no quintal.

Mas “a vista dele era meio ruim”, de acordo com o pai, e Chad acabou estudando engenharia aeroespacial na Universidade de Colorado, em Boulder, “para seguir aquele sonho”.

Depois de se formar, Chad começou a trabalhar na Boeing como especialista em propulsão, lançando satélites de comunicação para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e o Escritório de Reconhecimento Nacional.

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Em setembro de 2001, Chad foi ao Pentágono para participar de reuniões de lançamento de satélites. Na manhã de uma terça-feira, ele embarcou no voo 77 da American Airlines no Aeroporto Internacional de Washington – Dulles para voltar para Los Angeles.

Tanto sua esposa, com quem havia se casado há apenas 14 meses, quanto seus pais moravam na Califórnia. O voo decolou, deu uma volta e se chocou contra o Pentágono.

Chad tinha 29 anos quando morreu em 11 de setembro de 2001.

Por 20 anos, amigos e parentes cuidaram da família Keller após a perda do filho. Mas, quando um estranho entrou em contato com os pais do engenheiro alguns anos atrás, ele fez uma promessa. Juntos, eles poderiam realizar o sonho de Chad de ir para o espaço.

Richard Keller e o ex-astronauta da NASA Chris Cassidy conversaram com a CNN em uma entrevista exclusiva sobre a realização do sonho de Chad.

Do Afeganistão para as estrelas

Antes de Chris Cassidy ser selecionado como astronauta da NASA em 2004, ele era um Navy SEAL, grupo de elite da Marinha norte-americana. Antes de 11 de setembro, Cassidy havia assumido o comando de um pelotão chamado SEAL Team 3, responsável pelo envio de tropas para o Oriente Médio.

Sua equipe, que vinha treinando há um ano e meio, planejava uma operação de seis meses por volta do Dia de Ação de Graças em 2001.

Quando “aquele dia terrível aconteceu, juntamos nossas coisas e partimos imediatamente”, disse Cassidy. A equipe seria enviada para o Kuwait e Afeganistão.

“Eu sabia que havia famílias que estavam sofrendo naquele dia e que continuariam a sofrer”, contou. Ele e seu pelotão usavam emblemas em seus uniformes, em homenagem ao Departamento de Polícia de Nova York (NYPD) e outros socorristas.

Quando Cassidy voltou de sua segunda missão no Afeganistão, começou a treinar como astronauta. Ao longo de sua carreira na NASA, Cassidy voou no ônibus espacial Endeavour em 2009 e passou duas temporadas na Estação Espacial Internacional, de março a setembro de 2013 e de abril a outubro de 2020. Ele completou dez caminhadas no espaço.

“A beleza de voar para o espaço várias vezes é que, na primeira vez, é meio que para você, mas nas vezes seguintes é para os outros”, disse Cassidy. “Uma das coisas especiais do voo espacial é que a NASA nos permite levar algumas lembranças de amigos, família, entes queridos e organizações que significam algo para nós”.

Durante sua primeira e segunda missões, essas lembranças pertenciam em grande parte a membros da família. Os itens precisam ser pequenos, como fotos, joias, emblemas ou broches.

“Na minha terceira missão, eu queria oferecer essa experiência para outras pessoas”, afirmou Cassidy.

Antes de seu último voo em 2020, Cassidy entrou em contato com o Museu Memorial do 11 de Setembro em Nova York. Embora Chad Keller estivesse ligado ao Pentágono, em Washington, e não em Nova York quando morreu, ele foi homenageado no museu, que inclui uma tela rotativa destacando as histórias das vítimas do 11 de setembro. A história de Chad conta seu profundo amor pelo espaço.

Cassidy sabia que tinha encontrado seu próximo companheiro de voo.

Uma longa espera

Richard Keller estava viajando pela Flórida quando recebeu a inesperada ligação de Cassidy.

O astronauta disse à família Keller que estava indo para o espaço e perguntou se o filho deles gostaria de dar um passeio. Os Keller disseram que não poderiam ficar mais felizes em “deixá-lo dar uma volta com um cara como Chris”.

“Esse é o tipo de pessoa de que precisamos neste mundo”, disse a família Keller.

Por meio de telefonemas e e-mails, eles contaram a Cassidy sobre seu filho e seus sonhos.

“Fiquei muito feliz de falar com a família de Chad e dizer a eles o que significava para mim levar sua família, e especificamente o Chad, para a Estação Espacial comigo e meio que completar sua jornada”, contou Cassidy.

Quando Cassidy decolou para a Estação Espacial em abril de 2020, ele tinha 50 anos – a mesma idade que Chad teria agora se estivesse vivo. Os pais de Chad assistiram ao lançamento, orando pela segurança de Cassidy, e estavam radiantes que seu filho iria junto.

Cassidy levou os broches da Boeing de Chad, dois da Universidade de Colorado, o texto distribuído no seu funeral, uma foto de Chad com sua esposa Lisa e uma carta, bem como algumas de suas cinzas. Cassidy também levou um pedaço de aço e pulseiras com mensagens de esperança do museu do 11 de setembro.

Durante seu tempo no espaço, Cassidy tirou fotos dos objetos que carregava consigo no observatório da Estação Espacial chamado cúpula. Suas janelas têm vista para o planeta Terra. Ele também enviou mensagens positivas e de esperança a todos no planeta que estavam sofrendo durante o primeiro ano da pandemia.

Durante a semana, os astronautas ficam ocupados com tarefas, fazendo a manutenção da estação e conduzindo centenas de experimentos. Nos fins de semana, porém, os astronautas podem se conectar com suas famílias por meio de vídeochamadas e dedicar tempo a outras pessoas.

Tirar fotos perfeitas dos objetos flutuando na estação é incrivelmente difícil, mas significou muito para Cassidy.

“A cada objeto que pego, sempre paro por um segundo para pensar um pouco na história daquele item em particular”, contou Cassidy. “É especial pensar na história e na jornada daquele objeto, das mãos em que estava para minhas mãos e para esta janela”.

“Foi um presente maravilhoso, e nós agradecemos todos os dias”, disse o pai de Chad, Richard.

A família Keller tem uma história de 20 anos espalhando as cinzas de Chad por onde ele esteve, ou nos lugares que queria conhecer.

“Esse foi o ápice, ter suas cinzas indo para o espaço. É um lugar para o qual ele não foi, mas era o seu sonho”, afirmou Richard.

A marca dos 20 anos

Desde então, Cassidy se aposentou como astronauta e agora está focado em seu trabalho como o novo presidente e CEO da National Medal of Honor Museum Foundation.

Cassidy supervisionará a construção do Museu Nacional da Medalha de Honra e do Instituto de Liderança da Medalha de Honra em Arlington, Texas, bem como do Monumento Nacional da Medalha de Honra em Washington.

O astronauta levará consigo as experiências de voos espaciais, assim como a conexão com famílias como a dos Keller, pelo resto de sua vida.

“O mundo seria um lugar melhor se cada ser humano tirasse cinco minutos para olhar pela janela” da Estação Espacial, comentou Cassidy. “Isso me fez ser mais grato por tudo o que a Terra nos oferece. Amizades, conexões e experiências compartilhadas são muito mais importantes para mim agora”.

A família Keller viajará para Nova York e Washington por conta do 20º aniversário dos ataques de 11 de Setembro. Eles desejam passar um tempo na sala da família do Museu do 11 de setembro.

Eles também querem, em breve, se sentar com Chad em um dos bancos do Memorial Nacional do Pentágono de 11 de setembro que leva seu nome.

O Museu do 11 de Setembro lançou recentemente o Never Forget Fund, fundo para apoiar programas e preservar o legado de todos os que foram impactados pelos atentados, para que as gerações mais novas, sem uma memória vivida, conheçam suas histórias.

No final deste mês, os amigos de infância de Chad organizarão um torneio anual de vôlei de praia em Manhattan Beach. Os torneios ajudam a arrecadar dinheiro para uma bolsa de estudos em homenagem a Chad, concedida anualmente a alunos que estudam na Universidade de Colorado para se tornarem engenheiros aeroespaciais.

Até agora, cerca de 40 homens e mulheres receberam a bolsa de estudos Chandler Keller Memorial.

Embora Cassidy e a família Keller nunca tenham se conhecido pessoalmente devido à pandemia, eles esperam realizar isso um dia.

O legado de Chad continua vivo, e seus amigos e familiares garantem que sua história nunca será esquecida.

“Em 29 anos, ele fez mais do que a maioria das pessoas fará numa vida”, finalizou Richard.

A CNN Brasil terá uma programação especial no sábado, 11/09, ao vivo, a partir das 8h. Em transmissão simultânea com a CNN Americana e com correspondentes espalhados pelos Estados Unidos, serão exibidas todas as homenagens às vítimas do atentado que completa 20 anos. Comandada pelo time de âncoras da CNN, a cobertura especial trará também convidados que irão analisar o contexto histórico, os desdobramentos e histórias de quem acompanhou o horror de perto.

Foto: O astronauta Chris Cassidy/NASA