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Conhecimento

Por que a Nvidia é a nova estrela da tecnologia mundial

Os investidores de todo o mundo ficaram especialmente animados com os números para lá de rechonchudos, expostos em dois balanços neste ano. O primeiro deles foi apresentado em maio pela fabricante americana de chips Nvidia. E o segundo? Ora, o segundo foi divulgado nesta semana pela fabricante americana de chips Nvidia.

Ou seja, se o assunto é resultado em patamares estratosféricos, só deu Nvidia, até aqui, em 2023. E por que tem sido assim? A empresa, com sede em Santa Clara, na Califórnia, é responsável pela produção dos semicondutores mais usados pelas gigantes de tenologia para o treinamento de sistemas computacionais de inteligência artificial (IA). A Nvidia tornou-se, na prática, a estrela em ascensão do admirável mundo novo dos chats GPTs e afins.

Aos números (alguns, ao menos): no segundo trimestre, a Nvidia reportou uma receita recorde de US$ 13,5 bilhões. O crescimento foi de 101% em relação ao ano anterior. A companhia também anunciou uma projeção (“guidance”, no jargão do mercado) de US$ 16 bilhões para o faturamento do próximo trimestre. “E o consenso entre os analistas era que esse valor seria de US$ 12,5 bilhões”, diz Matheus Popst, sócio da gestora de investimentos Arbor Capital. “Isso quer dizer que a empresa está superando as estimativas do mercado, que já estavam nas alturas.”

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Com isso, o valor de mercado da Nvidia foi o que mais cresceu, em 2023, entre todas as companhias globais. Dados da Economatica, mostram que ele era de US$ 359,5 bilhões, em dezembro de 2022. Possou para US$ 1,16 trilhão, na quinta-feira (24/8), após a divulgação do último balanço. Saltou, portanto, 224%, com um acréscimo de US$ 805,4 bilhões. A segunda empresa que mais avançou nesse quesito no mundo foi a Apple, cuja valorização foi de parcos 33%, em 2023.

A nova decolagem dos chips

Esse voo de centenas de bilhões de dólares da Nvidia aconteceu porque a empresa produz chips com elevadíssima capacidade computacional – foi pioneira, em 1999, na produção das GPUs, como são chamadas as unidades de processamento gráfico, usadas em games, por exemplo. Além da IA, a companhia também tem os dois pés muito bem cravados, no ramo de data centers (as nuvens de dados). Isso sem falar nos mercados de imagens em 3D, mineração de criptoativos e semicondutores para carros. Por isso, a carteira de clientes da Nvidia inclui nomões como Apple, Microsoft, Amazon, Google e Oracle, além de toda a sorte de startups. A empresa está por trás de todos.

Mas é o novo mundo da IA que oferece as oportunidades mais sedutoras. Mesmo porque suas aplicações vão dos atuais chats, passam pelo reconhecimento da fala e pelo gerenciamento de complexas cadeias industriais e chegam o terrenos surpreendentes como o da recomendação de diagnósticos por imagens. “A IA já deu o tom do novo zeitgeist (o espírito de época) da indústria”, diz o analista Popst. “Não por acaso, o lançamento do ChatGPT, no fim de 2022, é comparado ao IPO da Netscape, em 1995, cujo navegador revolucionou a internet.”

Não é maré, é onda

No ramo dos processadores, nota o analista, a popularização da IA ainda não tem funcionado como uma maré, em que todos os barcos que estão no mar sobem ao mesmo tempo. Até agora, ela mais se parece como uma onda, em que uma empresa surfa com destaque e sem grandes incômodos provocados pela concorrência. No caso, a surfista e a Nvidia.

A Intel, outra gigante do mundo dos semicondutores, que não mergulhou na IA, por exemplo, registrou um prejuízo de US$ 2,8 bilhões no primeiro trimestre de 2023, o pior resultado da história da empresa, criada em 1968. No segundo trimestre, porém, a companhia surpreendeu o mercado com um lucro de US$ 1,4 bilhão. Ainda assim, a Nvidia lucrou US$ 6,4 bilhões no mesmo período. Ou seja, faturou 4,5 vezes mais.

Outra rival, a AMD, como é conhecida a Advanced Micro Devices, detinha até recentemente cerca de 18% do mercado de GPUs menos complexas (os processadores que fazem cálculos simultâneos). Agora, a Intel vem conquistando um pedaço desse bolo. De qualquer forma, a Nvidia domina com conforto o segmento, abraçando os mais de 80% restantes do setor. No segundo trimestre deste ano, a receita da AMD caiu 18%, em relação a 2022. Na Nvidia, houve crescimento de 101%.

Qual é o teto?

A questão, agora, é saber qual o teto para o salto da Nvidia – se é que ele existe. Um dos gargalos pode ocorrer na produção dos chips, diante de uma demanda global que cresce velozmente. “A Nvidia faz o design, mas terceiriza a fabricação dos semicondutores”, afirma Popst, da Arbor Capital. “Esse modelo pode estabelecer um limite para o avanço das vendas. É preciso observar a capacidade de produção dos fornecedores.”

Outro ponto, nota o analista, é o fato de grandes empresas do setor de tecnologia, como a Alphabet (do Google) e a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp), também estarem desenvolvendo chips adequados ao treinamento do maquinário usado na IA. “A dúvida é se essas companhias vão se tornar rivais da Nvidia”, diz Popst. “Mas, no longo prazo, essa corrida provavelmente irá fazer com que surjam alternativas à empresa. Afinal, isso é capitalismo.”