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Opinião

Eleições Americanas X Redes Sociais

As redes sociais sem dúvida transformaram os nossos tempos, mudaram os nossos hábitos e deram a chance para as pessoas ampliarem os limites da informação e das interações sociais.

Essa novidade deu origem a novos comportamentos que acabaram misturando o real com o virtual numa combinação digna dos filmes de ficção de antigamente.

Hoje uma refeição pode até ser comida fria se esse for o preço para postar uma foto boa do prato e, dia a dia, o parecer vai ficando mais importante do que o ser.

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Além da mudança individual que podemos observar, houve uma série de mudanças coletivas após o advento das redes sociais. Pessoas de pensamentos similares começaram a se encontrar e formar grupos. Gente que viva em lugares remotos e que além do isolamento geográfico poderia se sentir isolada em alguma ideia ou ideal, atualmente consegue mobilizar pensamentos e transformar ideias em projetos sociais ou até mesmo empresariais.

Esses movimentos individuais que acabaram se refletindo nas massas deram as redes sociais uma força incomparável. Dando para as Big Techs, que controlam essas redes, um poder incontrolável.

A história é implacável quando o assunto é poder. Maquiavel lá no século XV já dizia: “Dê poder ao homem e descobrirá quem ele é.”

Não poderia ser diferente com as Big Techs.

Estamos vendo nas eleições presidenciais americanas de 2020 um retrato do que as redes sociais estão se transformando.

Ao contrário do principio de democratizar a comunicação, vemos algumas ações comparáveis as praticadas no período da inquisição (século XIII ao XIX) onde pensamentos, pessoas, histórias, ideias e fatos eram destruídos e perseguidos apenas por não estarem de acordo com a ideologia predominante.

Naquela época qualquer um que professasse práticas diferentes daquelas reconhecidas como cristãs era considerado herege. Esses eram perseguidos, julgados e punidos pelos tribunais da igreja.

Hoje redes sociais como o Twitter e o Facebook possuem seus próprios tribunais. São eles que decidem o que você deve falar, como pode falar e se o que você disse é verdade ou mentira. Tudo de acordo com suas ideologias e objetivos. Desconsideram completamente o contraditório e a possibilidade de alguém divergir das suas crenças cada vez mais “religiosas”.

O que pude observar analisando a atuação das redes sociais durante a controversa eleição americana é motivo de preocupação. Ví depoimentos de pessoas na frente das câmeras relatando fatos acontecidos, com elas mesmas, sendo tratados como fake news.

Como?

Existia alguém, ou seja, não era um anônimo. Esse alguém relatava um fato presenciado, contava detalhes do acontecimento e estava lá diante de uma câmera mostrando sua cara para o mundo. Com que argumento um camarada sentado numa cadeira atrás de um computador poderia afirmar que aquela pessoa estaria mentindo?

Outro absurdo ocorre com a censura de conteúdos produzidos por autoridades. Discursos de pessoas públicas são tratados como fake news e impedidos de serem divulgados. Mais uma vez, como?

Uma autoridade falando para o público é uma mentira? O conteúdo pode até não ser verdadeiro, mas para se chegar a essa conclusão é necessária uma investigação séria e não apenas o palpite de alguém contaminado por viés ideológico.

Publicações de possíveis apreensões de material suspeito também foram impedidas de serem divulgadas. A verdade estava lá? Talvez. Contudo era a polícia (um órgão oficial) fazendo uma apreensão, estava gravado, havia gente testemunhando. Devemos mesmo dar poder a uma entidade para classifcar coisas desse tipo como fake news sem qualquer verificação dos fatos?

Tamanho desastre não pode ser relativizado por quem se beneficia momentaneamente dessa prática tão nociva para a sociedade. Gente que outrora lutava contra a censura não pode agora aplaudir o mesmo método sórdido de impedir o contraditório apenas porque hoje os censores podem de alguma forma ser a favor deles e não contra eles.

O mais triste disso tudo é ver que as redes sociais que um dia chegaram para juntar pessoas e ideias, democratizar conteúdos e promover histórias, hoje funcionam como grandes tiranos perseguindo e excluindo aqueles que não corroboram com suas ideologias e não rezam suas cartilhas.

Não se trata de política, de partido ou de lado. Acredito que todas as iniciativas possuem suas virtudes e vícios. Mas, a liberdade de expressão é um princípio fundamental. O pensamento filósfico que nos livrou dos tempos sombrios da ignorância foi a grande alavanca de desenvolvimento da humanidade. Respeitar o pensamento, a opinião e promover a pluralidade de ideias é um objetivo que todos deveriam perseguir. Só com uma visão ampla das coisas somos capazes de analisar todos os pontos de vista para chegarmos as nossas próprias conclusões.

Por sorte a transformação não para. E a história também nos mostra que movimentos distorcidos como estes nunca saem impunes.

Novas redes como a Fleekus estão surgindo com bases mais democráticas e ambientes muito mais diversos. Bolhas serão estouradas e a liberdade de expressão irá prevalecer.

E como diria Mahatma Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.

Tags: Facebook, Twitter, Eleições Americanas, US 2020, election2020, Redes Sociais