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Anne Applebaum: “A aventura de Trump terminou. Passará o resto da vida nos tribunais”
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Anne Applebaum: “A aventura de Trump terminou. Passará o resto da vida nos tribunais”

Anne Applebaum “A aventura de Trump terminou. Passará o resto da vida nos tribunais”.

Opinião

Com Gulag, seu primeiro livro de história, a jornalista Anne Applebaum ganhou o Prêmio Pulitzer em 2004. Levou 10 anos e hoje, diz, “não poderia escrevê-lo”, porque na Rússia a opacidade volta a ser cada vez mais densa. O retrocesso do Kremlin e seu efeito na Europa têm sido objeto de estudo dessa mestra da análise geopolítica. Assim como os novos populismos e o ocaso de Trump, para quem ela prevê um futuro ruim depois do que ocorreu no Capitólio. Sob sua lupa ferve uma questão crucial do nosso tempo: o velho choque entre democracia e autoritarismo em sua versão do século XXI

Anne Applebaum é uma mulher forte e de opiniões contundentes. Para começar, não prevê um bom futuro para Donald Trump depois do que ocorreu quarta-feira no Capitólio: “Passará o resto da vida nos tribunais”, diz. Se não demonstrasse essa integridade, seria impossível para essa jornalista e historiadora americana nascida em Washington há 56 anos abordar os assuntos sobre os quais decide escrever. Em 2004, ganhou o Prêmio Pulitzer por sua pesquisa sobre o Gulag, continuou com Cortina de Ferro: O Esfacelamento do Leste Europeu, 1944-1956, seguiu com A Fome Vermelha: A Guerra de Stálin na Ucrânia e agora abordou a crise dos Estados de Direito em O Crepúsculo da Democracia. O livro, que saiu em português em setembro pela Bertrand e será lançado em espanhol em maio pela Debate, inclui capítulos referentes à Espanha nessa deriva que levou à ascensão de populismos de extrema direita com técnicas típicas de desinformação dominadas pela Rússia. É um terreno que Applebaum estudou a fundo. Ela se tornou uma autoridade reconhecida mundialmente em questões da Europa Oriental e da antiga União Soviética. Vive entre os Estados Unidos e a Polônia, onde se casou com o eurodeputado Radoslaw Sikorski. Nos últimos tempos, o casal está preocupado com o retrocesso de seus respectivos países, sacudidos por febres autoritárias semelhantes. Os Estados Unidos se livraram − pelo menos por enquanto − da sua, com Trump derrotado nas urnas. Mas a Polônia persiste em seu rumo sob o partido Lei e Justiça e a presidência de Andrzej Duda, cúmplice do húngaro Viktor Orbán, a nova pedra no sapato da União Europeia depois do trauma do Brexit. Applebaum observa e escreve sobre os dois casos com sua clarividência certeira e seu julgamento informado. Uma visão que a transformou em uma das analistas políticas globais de referência nos últimos anos. Conversamos com ela há três semanas por videoconferência. Ainda não tinha ocorrido a invasão ao Congresso dos EUA. Mas nesta sexta-feira ela respondeu por email a mais algumas perguntas sobre o que ocorreu em Washington.

Acredita que o que aconteceu quarta-feira, dia 6, em Washington representa o fim da carreira de Trump ou a evidência de que o fenômeno que ele desencadeou conserva energia suficiente para representar algo no futuro?