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Inflação: preços nas alturas pedem Selic nas alturas (mas e a quebra de bancos nos EUA?) - ISTOÉ DINHEIRO
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Inflação: preços nas alturas pedem Selic nas alturas (mas e a quebra de bancos nos EUA?) - ISTOÉ DINHEIRO

Nova alta da inflação em fevereiro sustenta o discurso do presidente do BC de que Selic precisa seguir nas alturas e enfraquece ofensiva do governo contra juros altos. A questão agora é o quanto a quebra de bancos nos eua muda o cenário.

Opinião

Nova alta da inflação em fevereiro sustenta o discurso do presidente do BC de que Selic precisa seguir nas alturas e enfraquece ofensiva do governo contra juros altos. A questão agora é o quanto a quebra de bancos nos eua muda o cenário.

No dia 4 de abril, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deverá ser escrutinado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. O economista terá de explicar sobre a atual taxa básica de juros, a Selic, inabalável em seus 13,75% ao ano. O que para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu time econômico é uma aberração, para Campos Neto é o único instrumento disponível da autoridade monetária no controle da inflação. Por se tratar de um convite, não uma convocação, ele não é obrigado a ir. Mas vai. Os argumentos em defesa da Selic elevada não perdem força: na sexta-feira (10), o IBGE mostrou que a inflação de fevereiro subiu 0,84%, muito acima do esperado e bem acima dos 0,53% de janeiro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês foi puxado pelo grupo Educação — avançou 6,28% e pesou 0,35 ponto percentual no resultado final —, novidade em relação ao vilão Alimentos que, ao lado de gastos com combustíveis e serviços, vinha inflando os preços nos últimos anos.

Segundo o gerente da pesquisa do IBGE Pedro Kislanov, estudar ficou mais caro em praticamente todos os segmentos. Entre os reajustes que mais impactaram o grupo Educação estão o dos cursos regulares, que aumentaram 7,58%, puxados pelas altas de ensino médio (10,28%), ensino fundamental (10,06%), pré-escola (9,58%) e creche (7,20%). Ainda chamaram a atenção os avanços no ensino superior (5,22%), nos cursos técnicos (4,11%) e de pós-graduação (3,44%). Pelos cálculos do IBGE, o índice do grupo Educação foi o pior para o mês desde 2004. Na sequência ficaram Saúde e Cuidados Pessoais (+1,26%) e Habitação (+0,82%). Em movimento contrário, Transportes (0,37%) e Alimentação & Bebidas (0,16%), mesmo com as elevações, recuaram na comparação a janeiro.

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Diante desses números, a esperança de corte na Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, nos dias 21 e 22 de março, fica reduzida. “Principalmente diante desses dados mais recentes de inflação, a chance de corte dos juros é praticamente zero”, afirmou o economista Luiz Franco de Oliveira. “Olhando de forma pragmática para os números, os argumentos de manutenção da Selic estão mais sólidos do que nunca.”

CRISE BANCÁRIA Com esse nível de preços seria difícil justificar uma redução na Selic. A única possibilidade de isso ocorrer está na avaliação que os integrantes do Copom farão sobre a quebra de bancos que acontece nos Estados Unidos. Para muitos, o juro americano elevado foi o vilão e o próprio Fed deve segurar o tamanho da dose (ver reportagem à página 30). O Fomc, o equivalente americano ao Copom, se reunirá nos mesmos dias que o BC, terça (21) e quarta (22), para decidir em que patamar ficará o Fed Funds Rate. Por lá, os especialistas apostam que a curva de alta será no mínimo freada.

Por aqui, inflação só não foi pior, segundo o economista Marcos Nogueira, porque São Pedro tem ajudado a agroindústria brasileira. Com mais chuva, a produção de grãos, leite e carne subiu 12% na comparação com fevereiro do ano passado, segurando preços. “A tendência é de produção elevado e clima favorável”, afirmou. Curiosamente, a categoria Transporte, comparsa dos alimentos na alta da inflação nos últimos meses, também desacelerou em fevereiro. E apesar da alta de 1,16% da gasolina, todos os outros combustíveis caíram. Passagens aéreas recuaram 9,38%.

0,8% foi o aumento da inflação medida pelo IPCA em fevereiro. o resultado ficou bem acima dos 0,53% esperados pelo mercado e pelo governo

6,8% foi a alta verificada no preço de matrículas em escolas e universidade em fevereiro, o que levou o indicador para o avanço inesperado

Na avaliação de José Pena, economista-chefe da Porto Asset Management, não há sinais de que a inflação vai se acomodar no curto prazo e que acontecimentos recentes têm feito o mercado se movimentar. Para ele, as pressões de oferta sob a inflação diminuíram de forma acentuada nos últimos meses, mas a resiliência da demanda explica em grande escala a persistência da inflação. Resultado disso é que a inflação dos últimos 12 meses ainda está acima do teto da meta do BC, que é de 4,75%, mas recuou de 5,77% no período anterior para 5,60%. Com esses números, não faltará munição para Campos Neto seguir defendendo sua tese nos próximos meses.