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Opinião

Um vírus com síndrome de solidão

Se o novo coronavírus fosse uma arma seria, provavelmente, a mais cobiçada em todo o mundo. É o inimigo perfeito. Entra sem ser visto, propaga-se silenciosamente e manifesta-se depois de se ter alojado, sem pedir licença.

Nas escolhas é democrático. Gosta de palácios, de igrejas, de grandes e pequenas empresas, de pessoas com posses e das que nada têm. Também, deve ter sentimentos já que se prende mais a algumas pessoas do que a outras. Além disso, tem dado provas que se multiplica, que não gosta de estar sozinho. Podia ter fundado uma família com uma dezena de filhos e ter ficado por aí. Mas este vírus deve ter nascido com a síndrome da solidão que procurou contrariar quando se lançou nesta viagem planetária.

Talvez todos estes esforços se resumam a uma tentativa para ultrapassar um sentimento de solidão crónico. Seria mais fácil procurar ajuda profissional, mas para isso seria precisa coragem. Receio que este coronavírus seja tímido e que, por isso, encontrou uma forma de chegar aos profissionais de saúde por outra via. Conseguiu chamar atenção de médicos, enfermeiros e de todos os que trabalham em hospitais, públicos e privados, centros de saúde e, até mesmo, dos que, entretanto, já se tinham reformado. Incapaz de identificar os podiam dar resposta a esta síndrome convocou todos os profissionais de saúde e colocou-os a trabalhar dia e noite. E eles responderam ao apelo. Mais cedo ou mais tarde, o vírus vai perceber que esta estratégia está condenada ao fracasso. É uma questão de tempo. Até lá, talvez o vírus aprenda que seria menos doloroso pedir ajuda. Até lá, talvez também nós venhamos a aprender qualquer coisa sobre nós mesmos.