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Espião russo disse que morou na Asa Norte e era fã de comida por quilo

Encarcerado na Penitenciária Federal de Brasília desde janeiro deste ano, o espião russo identificado Sergey Vladimirovich Cherkasov (foto em destaque) criou uma farsa minuciosa, sob o véu de uma história coberta para “esquentar” sua suposta cidadania brasileira.

Documentos que integram uma investigação do Federal Bureau of Investigation (FBI) americano revelam que o espião simula ter morado no Distrito Federal e frequentado bares, restaurantes e boates da capital do país.

A Polícia Federal efetuou a prisão do espião russo em São Paulo. Ele usava uma falsa identidade brasileira para tentar se infiltrar no Tribunal Penal Internacional, em Haia. Segundo o serviço secreto holandês, Sergey Cherkasov, 36, passou 12 anos construindo a identidade falsa — de Viktor Muller Ferreira, 33, nascido em Niterói, no Rio de Janeiro.

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Em seu falso relato, o espião conta que teria se mudado para Brasília em 2010 e se hospedado em uma pensão de baixo custo, onde pagaria cerca de R$ 550 mensais. Entre aulas de português e andanças pela capital da República, o espião disse ter se apaixonado pela culinária brasileira, principalmente por restaurantes que servem comida no quilo.

Feijoada

Ainda na carta que o russo escreveu — provavelmente usando um programa tradutor — sobre suas experiências no DF, ele narra a predileção por bares, lanchonetes e boates que ele dizia ter frequentado.

O espião contou ter se tornado fã do restaurante A Tribo, na Asa Norte. “Este restaurante faz a melhor feijoada da cidade”, garantiu. O objetivo do russo era tentar dar um ar de legitimidade à sua falsa identidade.

Sergey ainda criou outra farsa, como se fosse frequentador assíduo de algumas boates que, na época, bombavam no DF, especificamente no Setor de Clubes Sul. O espião citou a casa de show Macadâmia, que se destacou no cenário de festas da cidade há anos.

Identidade falsa

Sergey Cherkasov, 36, passou 12 anos construindo a identidade falsa – de Viktor Muller Ferreira, 33, supostamente nascido em Niterói, no Rio de Janeiro.

Ele teria chegado ao Brasil em 2010. Depois, já usando a identidade falsa, morou nos Estados Unidos e na Holanda, onde tinha conseguido uma vaga de estágio no Tribunal Penal Internacional (TPI), também conhecido como Corte Penal de Haia.

Já sob monitoramento, ele veio recentemente ao Brasil e, em abril, embarcou em voo para a Holanda. Ao chegar lá, teve a entrada negada pelo governo holandês, que apontou a falsidade documental, mandou-o de volta ao Brasil e informou a situação às autoridades brasileiras. O russo acabou preso no desembarque em São Paulo e, agora, está em Brasília.

Além do alerta, os holandeses compartilharam toda a história com os órgãos de inteligência e investigação do Brasil. Desde então, o governo passou a saber que, por trás dos documentos falsos, havia um homem apontado por um país estrangeiro como espião russo que tentava se infiltrar no tribunal penal — um caso, evidentemente, de repercussão internacional.

A estratégia do Brasil, porém, foi manter tudo sob o mais absoluto segredo. A intenção era que o caso permanecesse em sigilo. Contudo, tempos depois da prisão, e diante do silêncio brasileiro, o próprio serviço secreto da Holanda emitiu um comunicado público no qual anunciou ter desmascarado o agente russo.

A ficha do espião

No comunicado feito em junho do ano passado, o serviço secreto holandês afirmou que Sergey Cherkasov trabalha para o GRU, a maior agência de inteligência da Rússia com operações no exterior. O GRU é ligado às Forças Armadas russas.

“Esta foi uma operação do GRU de longo prazo e de vários anos, que custou muito tempo, energia e dinheiro”, declarou Erik Akerboom, do Serviço Geral de Inteligência e Segurança Holandês, o AIVD.

Os holandeses disseram que resolveram dar publicidade ao caso para evidenciar estratégias da inteligência russa que põem em risco instituições internacionais, como o Tribunal Penal Internacional.

Em nota, a agência afirmou que, se o oficial de inteligência tivesse conseguido entrar no TPI, poderia coletar informações, recrutar fontes e, inclusive, ter acesso aos sistemas digitais da Corte.

O Tribunal Penal Internacional investiga possíveis crimes de guerra cometidos pela Rússia – e por Putin – na Ucrânia.