Opinião
45 anos da Lei da Anistia
Por Mauro Magalhães - Ex-deputado e empresário.
A Lei da Anistia foi sancionada pelo ex-presidente e general João Batista Figueiredo, há 45 anos, em 28 de agosto de 1979.
Meus amigos, Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda e o ex-presidente João Goulart morreram sem poder se beneficiar, em vida, da Lei de Anistia ..
JK morreu em agosto de 1976, João Goulart morreu em dezembro de 1976 e Carlos Lacerda, em maio de 1977 .
Os três líderes da Frente Ampla, formada em 1966 por antigos adversários, de diversos partidos, que pediam o restabelecimento das eleições diretas ( O general Castelo Branco prometeu restabelecer as eleições diretas, em 1965, mas, em outubro daquele ano, baixou o Ato Institucional Número 2, o AI-2, dissolveu os partidos e acabou com as eleições para presidente e governador), não puderam vivenciar o momento histórico da sanção da Lei da Anistia, em 28 de agosto de 1979.
Das inúmeras lideranças políticas, de vários partidos e tendências ideológicas que foram beneficiados pela Lei da Anistia assinada pelo presidente João Figueiredo, lembro bem dos meus amigos Leonel Brizola, José Talarico, Jamil Haddad, Renato Archer, Raphael de Almeida Magalhães, entre outros.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Fernando Gabeira, Márcio Moreira Alves. entre outros, também foram anistiados e puderam voltar a exercer suas atividades políticas e profissionais.
Por causa de minha participação na Frente Ampla, em 1966, fui cassado pelo AI-5 assinado pelo presidente Costa e Silva. O ato foi assinado em abril de 1969.
Tive meus direitos políticos cassados e poderia retornar à política, em 1979. Mas, eu já estava na iniciativa privada. Fui sondado inúmeras vezes para retornar, mas não aceitei. Dei apoio a vários candidatos, depois da Lei de Anistia de 1979.
Eu, que sempre tive divergências com Leonel Brizola ( eu era da UDN, de Carlos Lacerda, e Brizola, do PTB de Getúlio Vargas e João Goulart), cheguei a ser convidado para integrar o PDT, quando o partido foi criado, depois de 1979, com o retorno dos anistiados políticos. Não aceitei o convite porque já estava filiado ao MDB ( muitos lacerdistas optaram pelo MDB, quando foram criados os dois únicos partidos, em 1966).
Tornei-me amigo de Leonel Brizola quando ele voltou do exílio.
No primeiro governo de Leonel Brizola, a partir sua posse, em 1983, eu passei a frequentar o Palácio Guanabara.
Brizola contava histórias incríveis, sobre o exílio seus sonhos de Anistia.
No início do golpe militar, ele foi para o Uruguai. Na época da assinatura do Manifesto Frente Ampla, ele estava na Atlântida. No final, passou pelos Estados Unidos e Portugal.
Brizola me contou que sofreu muito no exilou. Passou por dificuldades financeiras.
Ao lado de dona Neusa e dos filhos, Neusinha, José Vicente e João Otávio, ele foi obrigado a vender alguns patrimônios, no Rio Grande do Sul, para poder sobreviver, no exílio .
Em setembro de 1977, no Uruguai comandado por militares, ele foi expulso dali, sob a acusação ter infringido as regras de asilo político.
Com o apoio do presidente Jimmy Carter, Brizola foi morar nos EUA, em 1977. E, depois, em Portugal. Antes de voltar ao Brasil, em 6 de setembro de 1979, Brizola lançou, na capital portuguesa, a Carta de Lisboa, assinada por inúmeros exilados políticos. Que reivindicava a Anistia, a volta das eleições diretas e a redemocratização do país.
Leonel Brizola desembarcou no Brasil no dia 6 de setembro de 1979, em um avião bimotor que pousou em Foz do Iguaçu.
Recebido por apoiadores, no dia 7 de setembro, em São Borja, no Rio Grande do Sul, quando chegou ao Rio, ficou hospedado com a família no Hotel Everest, no Rio de Janeiro.
No Hotel Everest, Brizola deu uma longa entrevista à imprensa, com a presença de grandes jornalistas brasileiros e estrangeiros.
Com a Lei da Anistia, promulgada pelo ex-presidente Figueiredo, puderam voltar ao Brasil 7 mil exilados e, pelo menos, mais 10 mil pessoas retornaram às suas atividades políticas e profissionais.
Comentários