Opinião
Getúlio, Juscelino e Jânio
Por Mauro Magalhães - Ex-deputado e empresário.
Nesta quinta, dia 22 de agosto, amigos do ex-presidente Juscelino Kubitschek e políticos que lembram, sempre, do criador de Brasília, resgatam, com saudades, as recordações sobre o trágico acidente que aconteceu, nessa data, na Via Dutra.
Em 22 de agosto de 1976, Juscelino Kubitschek, meu amigo querido, viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro, no banco de trás de seu carro, um Opala dirigido pelo motorista de muitos anos, Geraldo Ribeiro, quando foi atingido por um ônibus desgovernado
Além do querido e eterno presidente JK, também morreu o fiel motorista, Geraldo Ribeiro.
Juscelino faz muita falta. Eu me aproximei dele durante o movimento A Frente Ampla, que surgiu em 1967 e que teve, também, as participações de Carlos Lacerda, João Goulart, Renato Archer, Raphael de Almeida Magalhães, José Gomes Talarico, Wilson Fadul, entre outros.
Eu estive lá, em Brasília, no histórico velório de JK. Mais de 20 mil pessoas fizeram questão de se despedir de Juscelino Kubitschek.
No Rio de Janeiro, a missa de sétimo dia pela morte de Juscelino, na Candelária, foi emocionante.
Até hoje, Juscelino Kubitschek é homenageado por todos. Na minha opinião, ele foi o melhor presidente do Brasil. Tenho saudades de nossas conversas intermináveis, regadas a um uisquinho e a muitos sonhos.
Também, em agosto, dia 24 de agosto, aconteceu o histórico suicídio de Getúlio Vargas.
Juscelino Kubitschek gostava muito de Vargas, um estadista, que eu conheci quando tinha 8 anos e estava com meu pai, em um domingo, em um passeio por uma rua em frente ao Palácio do Rio Rio Negro, onde o presidente Getúlio costumava ficar em Petrópolis.
Tanto a morte de Juscelino Kubitschek, como o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, causaram grande comoção. O povo brasileiro ficou triste. Foram dois grandes líderes da política brasileira.
Agosto teve, também, outro acontecimento marcante, na história brasileira, a Renúncia de Jânio Quadros, ocorrida em 25 de agosto de 1961.
Jânio foi o presidente da República que ficou menos tempo no poder. Só durou 7 meses.
Com a eleição de Jânio Quadros, em 1960, a UDN, finalmente, chegou ao poder.
Nas eleições de 1955, quem venceu foi meu querido amigo, Juscelino Kubitschek, do PSD, com o apoio do PTB de João Goulart.
Getúlio Vargas, em 1950, se elegeu presidente da República, pelo PSD e PTB. A UDN perdeu.
O clima político, no país, nas eleições de 1960, estava tranquilo. Ameno. Sem tensões, sem brigas exageradas. Juscelino tinha deixado um Brasil pacificado.
O presidente eleito em 1960 seria o primeiro a tomar posse em Brasília, nova capital federal.
Jânio Quadros, nascido em Mato Grosso do Sul, Campo Grande, fez sua carreira política em São Paulo e tornou-se um fenômeno, na conquista de votos.
Filiado ao Partido Trabalhista Nacional ( PTN) , por esse partido, foi lançado candidato à presidência da República, em 1960, com o apoio da UDN.
A bandeira política de Jânio Quadros, candidato à presidência pelo PTN, era a moralidade pública, o combate à corrupção. Jânio se aproveitou que os inimigos de Juscelino Kubitschek usaram críticas contra a construção de Brasília para criticar o presidente que criou a nova capital. O símbolo da campanha de Jânio Quadros era a vassoura. Sem candidato capaz de vencer o Marechal Henrique Teixeira Lott, apoiado pelo PSD de Juscelino Kubitschek e pelo PTB de getulistas e de João Goulart, a UDN decidiu apoiar Jânio, candidato do PTN.
O vice-presidente João Goulart foi eleito, pela segunda vez ( na primeira vez, foi na eleição de JK), representando o PTB getulista e o PSD de Getúlio e Juscelino.
A posse foi tranquila. Em janeiro de 1961, em Brasília.
Jânio era polêmico . Ele, um político que se declarava contra a esquerda, condecorou Ernesto Che Guevara, líder da Revolução cubana e um dos principais inimigos dos EUA.
Ele também decretou a proibição das brigas de galo e do uso de biquínis em concursos de beleza e usou a censura para proibir cenas que considerasse como " imorais ", pelos meios de comunicação, da época, e tornou-se rigoroso contra faltas de funcionários públicos, nas repartições.
Nos meios udenistas, a renúncia de Jânio Quadros foi recebida com surpresa .
João Goulart, o vice-presidente, estava fora do Brasil em 25 de agosto de 1961. Ele estava na China, em missão oficial.
Auro de Moura Andrade, que era o presidente do Congresso, anunciou que a presidência seria ocupada por Ranieri Mazzili, presidente da Câmara dos Deputados.
A carta de renúncia de Jânio Quadros foi lida, no Congresso, por Auro de Moura Andrade, em menos de cinco minutos.
Depois que saiu da presidência da República, em 1964, quando os militares assumiram, Jânio Quadros foi um dos três ex-presidentes a ter seus direitos políticos cassados.
Os outros dois foram Juscelino Kubitschek e João Goulart.