Opinião
Sérgio Cabral, o amigo e jornalista.
Por Mauro Magalhães - Ex-deputado e empresário.
Foi cremado, na última segunda-feira, no Cemitério Memorial do Carmo, o corpo do jornalista Sérgio Cabral ( 1937-2024) , que morreu no domingo, aos 87, com complicações de um efisema pulmonar. Ele estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea.
Amigo dos amigos, Sérgio Cabral foi um exemplo de carioca típico nossa geração . Nossa diferença de idade era, apenas, de dois anos ( eu tenho 89 anos ). Participamos, juntos, de muitos momentos históricos, na política, no carnaval e no futebol.
Sérgio Cabral foi um dos intelectuais mais importantes do país.
Vascaíno, nascido no subúrbio, em Cascadura, foi criado em Cavalcante e começou a carreira de repórter, em 1957, no auge do governo de Juscelino Kubitschek, no Diário da Noite, jornal que pertencia aos Diários Associados
Conheci Sérgio Cabral pai quando fui eleito deputado estadual pela extinta UDN, no antigo Estado da Guanabara.
Com uma cultura acima da média, Sérgio Cabral foi repórter, redator, cronista, editor e comentarista de rádio e televisão.
Ele tinha um jogo de cintura incrível. Era ligado ao Partidão, mas conhecia e se relacionava com políticos de todos os partidos.
Depois de 1964, ele deu apoio ao MDB e foi nessa época que ficamos mais próximos.
Com um texto incrível e muito curioso, Sergio Cabral pai tornou editor de política da extinta Última Hora, de Samuel Wainer, em 1969.
Amigo de Jaguar, Tarso de Castro e Ziraldo, juntou-se a esses craques do jornalismo e do cartunismo, para criar o semanário O Pasquim.
Foi preso, por causa do trabalho que fazia no Pasquim e passou por dificuldades financeiras, no início dos anos 70.
Eu também passei por problemas, nesse período, pois fui cassado pelo AI-5, em 1969.
Por sugestão do amigo Martinho da Vila, para driblar o desemprego, nos anos 70, Sérgio Cabral pai foi ganhar a vida como produtor musical, a partir de 1973.
Sérgio Cabral também participou da fundação do Teatro Casa Grande, ele era amigo de Teresa Aragão, Ferreira Gullar, Dias Gomes e de grandes artistas.
Até 1981, trabalhou como produtor musical ( junto com o jornalismo).
Em 1982, foi eleito vereador pelo Rio de Janeiro.
Cumpriu três mandatos de vereador e, em 1993, tornou-se conselheiro do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro.
A paixão pelo trabalho e enorme vocação que tinha para ser jornalista fizeram com que Sérgio Cabral pai continuasse a escrever e a exercer seus ideais em defesa do samba, da cultura e do Rio de Janeiro.
Aos amigos, Sérgio Cabral costumava contar histórias ótimas do início de sua carreira.
Eu e ele tínhamos em comum a enorme admiração pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Também gostávamos de conversar sobre os desfiles de misses.
Nos anos 60, Sérgio Cabral pai teve, ainda, uma coluna ótima no Jornal do Brasil.
Casado durante décadas com Magali e pai do ex-governador Sérgio Cabral , Sérgio Cabral pai era muito ligado à família e muito paternal com os amigos, em geral.
Pesquisador genial, Sérgio Cabral tinha um acervo incrível. De músicas de Noel Rosa ( um de meus compositores favoritos). Entre outros.
Ele escreveu dezenas de livros sobre as escolas de samba, Pixinguinha, Tom Jobim, Almirante, Ari Barroso, Elisete Cardoso, a era do rádio, o Vasco da Gama, a Mangueira, Nara Leão, Carlos Manga, Grande Otelo, Ataulfo Alves.
Foi um exemplo de amigo, jornalista, carioca, homem culto e popular.