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Opinião

O Discurso, a Poética, a Retórica, a Dialética e a Lógica

Há nas obras de Aristóteles uma ideia medular, que escapou à percepção de quase todos os seus leitores e comentaristas, da Antiguidade até hoje.

Sim! Mais do que "achar-se, e estar alfabetizado", é fundamental a mínima capacidade de interpretação do que está para ser lido.

"O discurso humano é uma potência única, que se atualiza de quatro maneiras diversas: a poética, a retórica, a dialética e a analítica (lógica)."

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O que deveria significar que: os princípios de cada uma delas pressupõem a existência de princípios comuns que as subordinem, isto é, que se apliquem por igual a campos tão diferentes entre si como a demonstração científica e a construção do enredo trágico nas peças teatrais. Hoje, sob pena de falharem à regra aristotélica das divisões, resumindo-se ao sepultamento do pensamento por morte súbita.

Observador dos movimentos humanos nesses tempos sombrios, atrevo-me sem maiores aprofundamentos, nas ciências aristotélicas e seus ensinamentos compreender o que se passa entre os dois hemisférios cerebrais que tanto se debatem entre aqueles que ao menos sabem onde estão localizados nessa "geografia" intelectual que presenciamos.

Ao meu parecer, dá-se um "distanciamento" que não mais se comunicam entre um e outro formando um conjunto de razões e conteúdos de esferas radicalmente apartadas onde o ser que a habita estabelece limites em seus termos válidos e está a transitar do sono para a vigília, desconectando-se de um para poder entrar no outro. Tão profunda é essa separação que fundamentos anatômicos dessa natureza rondam flertando com a esquizofrenia. Separadamente estariam o criativo e o poético, o racional do ordenador ou até o cosmológico Yin do Yang. Retomar a prática do pensamento (pratiquem, isso não dói) seria fazer uma revisão, por sua vez, arriscando ter consequências de grande porte para a nossa visão da linguagem e da cultura em geral. "Ressignificar"(neologismo e fenômeno linguístico atualmente usado por aqueles que não sabem para que servem as orelhas) as obras de um grande filósofo pode parecer um inocente empreendimento de eruditos, seria como mudar de lugar os pilares de um edifício. Pode exigir a demolição de muitas construções em torno.

Seria saudável recomeçar após a remoção dos "entulhos" proferidos exaustivamente no copia e cola do momento.

São, pois, quatro ciências respectivas que compreendem os conceitos-chave:

Possibilidade, verossimilhança, probabilidade razoável e certeza apodíctica .

A Poética- que estuda os meios pelos quais o discurso poético abre à imaginação o reino do possível;

A Retórica - meios pelos quais o discurso retórico induz a vontade do ouvinte a admitir uma crença;

A Dialética - aqueles pelos quais o discurso dialético averigua a razoabilidade das crenças admitidas, e, finalmente,

A Lógica ou Analítica - que versa e estuda os meios da demonstração apodíctica, ou certeza científica.

Ora, aí os quatro conceitos básicos são relativos uns aos outros: não se concebe o verossímil fora do possível, nem este sem confronto com o razoável, e assim por diante. A consequência disto é tão óbvia que chega a ser espantoso que quase ninguém a tenha percebido: as quatro ciências são inseparáveis; tomadas isoladamente, não fazem nenhum sentido. O que as define e diferencia não são quatro conjuntos isoláveis de caracteres formais, porém quatro possíveis atitudes humanas ante o discurso, quatro motivos humanos para falar e ouvir: o homem discursa para abrir a imaginação à imensidade do possível, para tomar alguma resolução prática, para examinar criticamente a base das crenças que fundamentam suas resoluções, ou para explorar as consequências e prolongamentos de juízos já admitidos como absolutamente verdadeiros, construindo com eles o edifício do saber científico.

Isso entendido, aos "gritantes de ocasião":

A política é uma ciência encantadora. Estimulante até. O que não presta são vocês.

Tags: Aristóteles, Política, filosofia, Gregos, Ying-Yang, #dialética, Poética, Retórica, Lógica