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Mion ou Justus, quem está certo?

No último final de semana tivemos um embate no Whatsapp, entre o apresentador Marcos Mion e o empresário Roberto Justus.

Marcos Mion postou um vídeo em um grupo particular defendendo o confinamento e apresentando números alarmantes que apoiam essa medida. O vídeo foi vazado e rapidamente viralizou.

Em discordância, Roberto Justus publicou um áudio repudiando as informações passadas pelo apresentador e também seu posicionamento, alertando para o fato de que o confinamento nos levará a uma recessão econômica muito mais grave de que o impacto causado pelo vírus.

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Afinal, quem tem a razão aqui?

A divergência passional não é exclusividade dos dois famosos. Pelo país as pessoas dividem opinião entre o que é realmente necessário e o que é histeria. E qual será o preço a pagar se estivermos fazendo as escolhas erradas?

O QUE MARCOS MION DISSE:

- Ele fala que entre 06/04 e 20/04 viveremos o pico de contágio do coronavírus no Brasil, e que este será o momento em que o sistema de saúde entrará em colapso.

Verdadeiro: essa informação foi anunciada pelo ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta. Ela se sustenta em números, cálculos de progressão de contágio do vírus.

- Ele diz "...para a gente ter esse pico nessa data as pessoas estarão se contaminando entre hoje e quarta-feira (25/03), ou seja, a gente tem que redobrar o cuidado agora... devemos tomar todo o cuidado do mundo de hoje até quarta-feira para quebrar essa previsão..."

Falso: um intervalo de cuidado de apenas 4 dias não é suficiente para mudar os números do pico.

O sistema de saúde vai entrar em colapso, é o que a progressão matemática do contágio mostra no momento.

A situação poderá ser pior ou melhor, dependendo da eficácia e resposta da população frente as medidas de contenção.

- Mion apresenta o número de 1 milhão de mortes no Brasil pelo coronavírus caso as pessoas não fiquem em casa para evitar o contágio.

Verdade, mas também falso: o calculo de 1 milhão de mortes até agosto é real, mas sob o cenário de que nenhuma medida para barrar a contaminação fosse tomada. Esse número de mortes não pode ser projetado, uma vez que medidas já foram instauradas e outras ainda serão.

O número foi baseado em um estudo realizado pela Inglaterra para determinar qual a melhor medida a ser tomada frente a pandemia.

Inicialmente o país pensava em não tomar nenhuma medida, tratar o coronavírus como qualquer outro vírus. As pessoas se infectariam, algumas precisariam de internação, outras ficariam em casa e ao final uma pequena parte da população morreria, mas a maioria desenvolveria anticorpos para a doença.

Esta alternativa foi abandonada pois o estudo revelou que o resultado final seria mais catastrófico para o país, em mortes e impacto econômico, do que tomar as medidas possíveis para deter a propagação do vírus.

O QUE DISSE ROBERTO JUSTUS:

- Ele diz que falar em 1 milhão de mortos no pais é um absurdo uma vez que o total de mortes no mundo hoje é de 12 mil mortos pelo covid19.

Verdade, com ressalvas: ele está certo mas, assim com Mion, desconhece a origem do número de 1 milhão. Ambos falaram do número com desinformação.

- Justus: "... quem entende um pouco de estatística vai perceber que é irrisório (referindo-se ao número de mortes no mundo) e dos que morrem, mesmo dos velhinhos, só 10% a 15% deles. Para a maioria da população mundial, se pegarmos o vírus, que seria bom, ele já criaria anticorpos e já acabaria de uma vez."

Verdade, com ressalvas: a taxa de mortalidade do covid19 não é alta, no entanto o contágio é fácil e rápido.

A combinação desses dois fatores, facilidade e rapidez, faz com que muitas pessoas peguem o vírus ao mesmo tempo, num espaço curto de tempo, antes que seja possível desenvolver uma vacina ou um medicamento.

Isso ainda não parece um problema, a letalidade é baixa e as pessoas, mesmo que sejam muitas, vão ficar doentes por uns dias e depois se curarão e criarão anticorpos.

No entanto, o número de pessoa infectadas se torna um problema quando ele excede a capacidade de atendimento do sistema de saúde.

Quando isso ocorre o número de mortes total do país duplica. Os infectados que sobreviveriam a doença morrem por não receberem atendimento médico, assim como os pacientes que precisam de atendimento médico por qualquer outro motivo.

A taxa de mortalidade do grupo de idosos parece pouca, de 10 a 15%. Mas, se 80% dos idosos do país forem infectados - o Brasil tem 21.872 milhões de pessoas com 65 anos ou mais - seriam 17.497 milhões de doentes.

Segundo estudo inglês desenvolvido sobre o coronavírus, estima-se que 44% das pessoas entre 60 e 69 anos necessitariam de internação, incluindo as de cuidados intensivos, e esse percentual aumenta quanto maior a faixa etária.

Não existem leitos para todos. E os hospitais não atendem por demanda de idade, serão jovens e idosos disputando um leito ao mesmo tempo.

Se os hospitais estiverem lotados não importa o quanto uma pessoa precise de atendimento médico, não importa se ela está doente pelo vírus ou por outra coisa, ir a um hospital não é uma opção. Essa imagem chega a ser difícil de imaginar, seria como retroceder um século de avanços na medicina e ciência, para um tempo em que as pessoas simplesmente adoeciam e morriam em suas casas.

O covid19 não é uma doença altamente letal, mas a alta taxa de infecção cria uma cascata de eventos que potencializa o números de mortes.

- Justus diz concordar com o isolamento de idosos, restringir aglomerações, mas não com o confinamento e fechamento do comércio, pois economicamente a recessão que essas medidas irá gerar será mais grave do que as mortes que o vírus é capaz de causar.

Falso, com ressalvas: as medidas de supressão do vírus vão impactar toda a economia mundial, uma recessão é uma possibilidade bem real. No entanto, o estudo recente realizado na Inglaterra, que analisou os impactos das possíveis estratégias para se lidar com a pandemia, identificou que os eventos serão piores se essas medidas não forem tomadas.

Segundo o estudo, que projetou o cenário para Inglaterra e EUA, se nenhuma medida fosse tomada, 80% da população seria infectada, entre abril e agosto. Nestas proporções, falando apenas de EUA, o número de pessoas que precisariam de leitos hospitalares seria 50 vezes maior do que a capacidade disponível.

O estudo foi conservador quanto a porcentagem de mortes e trabalhou com 1% e não 3% no índice de letalidade.

Neste cenário de 1%, caso não fosse tomada nenhuma medida, em 5 meses os EUA teria 2,5 milhões de americanos mortos, apenas por coronavírus.

Seguindo essa projeção e extrapolando esse cenário para o Brasil, nós teríamos 1,4 milhões de mortos até agosto, se nenhuma medida fosse tomada.

Ao não adotar medidas de supressão com objetivo de preservar as atividades econômicas, o alto número de mortos geraria uma cadeia de eventos capaz de levar o país igualmente a uma recessão econômica.

De acordo com as declarações do ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta, somos levados a crer que ele possui conhecimento destes dados e está de acordo com as medidas de supressão.

Os próximos dias serão reveladores, especialmente para a cidade de São Paulo. Se os dados estiverem corretos e se comportarem como no restante do mundo começaremos a ver, e sentir, os impactos da propagação do vírus.

Ao final, essa briga para ver quem está certo se tornará uma bobagem. Ninguém quer ver mortes que poderiam ser evitadas acontecendo, e ninguém quer ver o país em recessão e a população passando fome.

Os eventos já estão em andamento, o que podemos fazer é ajustar as medidas ao longo do caminho, seja na preservação de vidas ou na sustentação da economia.

Tags: Marcos Mion, Roberto Justus, coronavírus, Pandemia, contágio, Colapso, sistema de saúde, recessão