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'Meu filho foi um herói. Mesmo ferido, ele correu', conta pai de menino de 5 anos que sobreviveu a ataque em creche

Em um relato inocente de quem ainda não entende com profundidade o massacre ocorrido nesta quarta-feira (5) na Creche Cantinho Bom Pastor, na cidade de Blumenau, em Santa Catarina, um dos sobreviventes, de apenas 5 anos, disse ao pai que um "homem mau" entrou na escola e o bateu. Sem compreender o motivo, o menino contou ainda que, após a agressão, só obedeceu a professora que estava no parquinho, que o mandou correr muito rápido. Acreditando que o filho teve um "livramento", o mecânico Fabio Junior Hrenzer Santos, de 42 anos, também afirma, emocionado, que o pequeno foi um herói ao conseguir salvar a própria vida.

— A psicóloga do hospital falou para que a gente não ficasse comentando com as crianças sobre o ocorrido. Nós ainda não falamos com os professores para saber como tudo aconteceu, mas no hospital meu filho contou que a tia Célia (professora) mandou ele correr muito rápido. Meu menino foi um herói. Mesmo ferido, ele correu. Ele disse: "pai, um homem mau me deu um soco, eu não sei porque, e a professora me mandou correr". Todas as professoras, policiais e equipe médica foram heróis também — relata Fabio.

O menino, que não terá sua identidade revelada por proteção, é um dos cinco feridos que foram resgatados com vida da creche após o ataque realizado por um homem, de 25 anos. O autor do crime teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, após passar por audiência de custódia na tarde desta quinta-feira. Outras quatro crianças atingidas não resistiram e faleceram.

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De acordo com Fabio, apesar de o filho ter sido atingido no rosto, o golpe não afetou nenhuma área vital. O menino foi encaminhado ontem pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Santo Antônio, em Blumenau, e recebeu alta hoje. Por sorte, seu estado de saúde não foi grave.

Pai soube de ataque pelo WhatsApp

O mecânico recebeu a notícia de que a escola do filho havia sido atacada por mensagem no WhatsApp encaminhada por uma mulher que já havia cuidado do menino. Assustado e sem saber o que, de fato, havia acontecido, o maior momento de tensão ocorreu ao chegar na creche e receber a notícia de que o filho havia sido encaminhado para o hospital. Pedindo por justiça, Fabio classifica o ataque como "terrorismo" e pede mais segurança nas instituições de ensino.

— Ele (o agressor) foi covarde ao atacar crianças e eu chamo isso de terrorismo. Todos os dias levo meu filho para a escola e depois vou trabalhar, e é horrível saber que ele não está seguro. A Justiça também falhou em não parar esse criminoso antes, ele tinha passagens pela polícia e continuou solto até cometer essa atrocidade — opina o pai.

Crianças não querem voltar à escola

Durante as horas em que o filho ficou internado no Hospital Santo Antônio para receber cuidados médicos, Fabio conta que o que as crianças mais comentavam era que não querem voltar à escola. Traumatizados com o ataque, todos estão recebendo atendimento psicológico para superar o ocorrido. Segundo o mecânico, ele e a esposa ainda não sabem como e nem quando vão retomar as atividades escolares com o filho.

— Meu filho diz que não quer voltar na escola e todos os pais estão dizendo a mesma coisa. Nós sabemos que o problema não é o lugar, porque todas as professoras e a diretora são pessoas muito amorosas, que cuidam muito bem das crianças, mas as crianças não entendem ainda. É triste demais. Precisamos ter reforço de segurança nas escolas — diz Fabio.

Governo planeja protocolo de segurança

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja um protocolo para orientar todas as escolas do país sobre como responder a ataques violentos. O Executivo também quer criar um Disque Denúncia específico para casos de violência nas escolas.

Essas foram as primeiras medidas discutidas pelo grupo de trabalho interministerial criado para enfrentar o tema da violência nas escolas. Na quarta-feira, o governo federal anunciou a criação da equipe como uma reação aos ataques que ocorreram em instituições de ensino nas últimas semanas.

O grupo vai concluir os trabalhos em 90 dias, quando apresentará uma Política Nacional de Enfrentamento à violência nas escolas. Os membros da força-tarefa vão se reunir semanalmente para definir as diretrizes que serão adotadas pelo governo. A equipe também pretende expandir as iniciativas para o ensino superior. A pasta vai convidar entidades e especialistas para participar da elaboração da diretriz.

Autor do ataque é preso preventivamente

O autor do ataque a creche particular teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, após passar por audiência de custódia na tarde desta quinta-feira. O homem, de 25 anos, havia sido preso em flagrante nesta quarta. Ele foi até o quartel da Polícia Militar logo após cometer os assassinatos. O criminoso deixou, ao todo, quatro crianças mortas e feriu outras cinco. Quatro delas foram internadas no Hospital Santo Antônio. As vítimas receberam alta na manhã de hoje, após passarem por cirurgia pediátrica.

O homem, que estava armado com uma machadinha, já possuía antecedentes criminais. A arma usada nos assassinatos é uma espécie de machado pequeno, o qual pode ser manuseado com uma única mão. O comandante do 10º Batalhão da Polícia Militar de Blumenau, Márcio Alberto Filippi, não especificou quais foram os crimes cometidos pelo jovem anteriormente.

A Polícia Civil de Santa Catarina investiga o caso e apura se o responsável pelo atentado agiu sozinho ou contou com a ajuda de outra pessoa. A informação foi dada pelo delegado-geral, Ulisses Gabriel. Ele afirmou ainda que os investigadores tentam extrair informações de telefones e computadores do criminoso, preso desde esta quarta-feira.

Esclarecimento aos leitores sobre cobertura de ataques e massacres pelo Grupo Globo

A respeito do ataque ocorrido hoje a uma creche em Blumenau (SC), no qual quatro crianças foram mortas e outras cinco, feridas, o Grupo Globo divulgou nota sobre as diretrizes que orientam a cobertura de casos de ataques e massacres de seus veículos de imprensa.

"Os veículos do Grupo Globo tinham há anos como política publicar apenas uma única vez o nome e a foto de autores de massacres como o ocorrido em Blumenau. O objetivo sempre foi o de evitar dar fama aos assassinos para não inspirar autores de novos massacres. Essa política muda hoje e será ainda mais restritiva: o nome e a imagem de autores de ataques jamais serão publicados, assim como vídeos das ações.

A decisão segue as recomendações mais recentes dos mais prestigiados especialistas no tema, para quem dar visibilidade a agressores pode servir como um estímulo a novos ataques. Estudos mostram que os autores buscam exatamente esta "notoriedade" por pequena que seja. E também não noticiamos ataques frustrados subsequentes, também para conter o chamado "efeito contágio".