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Cultura & Entretenimento

15 de novembro: o dia em que o Brasil começou a dar errado

Por Gabriel Kanner (*)

Hoje é uma das datas mais importantes para entendermos a história do Brasil. Dia 15 de novembro de 1889 marcou o início da nossa república. Foi a data em que, pela primeira vez na história da formação do país, tivemos uma ruptura em nosso sistema político. Confesso que, durante a maior parte da minha vida, nunca havia parado para refletir o que significava a comemoração do 15 de novembro. Todos aprendemos na escola que a “Proclamação da República” foi um importante passo para modernizar o Brasil e trazer melhorias para a população. Todos crescemos com a visão de que a monarquia era algo antiquado, ultrapassado, e que não fazia mais sentido para o nosso país. É claro que todos os sistemas políticos têm falhas; pontos positivos e negativos. Mas, olhando para nossa história, acredito que a quantidade de mudanças de rota que tivemos durante o percurso foi um dos fatores que mais impactou nosso desenvolvimento como nação. E 15 de novembro representou nossa primeira ruptura, nosso primeiro golpe; nossa primeira mudança de rota na tentativa de construir um grande país.

Primeiro precisamos entender qual era a ideia que dava sustentação ao Brasil Império. O que era Brasil em sua concepção original? O que motivou a fundação da nossa nação? Antes de responder estas perguntas, é importante constatar que o processo de independência do Brasil não foi uma ruptura, mas sim a continuidade da sociedade que havia se instalado a partir do período colonial. Nossa independência foi algo único, diferente de qualquer outro país. Algo legitimamente “brasileiro”, construído por nós. Desde a vinda da coroa portuguesa para o Brasil em 1808, se iniciou um processo de transição que acabaria levando à Proclamação da Independência em 1822. Um importante passo neste sentido aconteceu em 1815, quando D. João VI decretou que o Brasil deixaria de ser colônia e passaria a fazer parte do reino de Portugal, passando a se chamar Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. O objetivo era justamente evitar uma ruptura revolucionária, como havia acontecido entre Estados Unidos e Inglaterra.

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Quando D. Pedro finalmente proclamou a independência do Brasil em 1822, havia um simbolismo poderosíssimo acerca desta nova nação. A ideia era a construção de um império nos trópicos. O Império do Brasil já nascia com tamanho continental, ocupando uma posição de destaque na América do Sul e no mundo. Já nascia com um exército e uma marinha profissionais para garantir a soberania do país, diferente da milícia de fazendeiros que existia no início dos Estados Unidos. Havia a tentativa de construir um império forte e soberano, mas com ampla liberdade interna. A ideia era preservar as tradições, os conceitos e os valores cristãos oriundos de Portugal, e ao mesmo tempo absorver as novas ideias liberais que surgiram na Inglaterra a partir do século XVII.

É muito difícil determinar qual é o sistema político ideal. Todos tem falhas. Todos tem pontos positivos e negativos (não estou considerando o comunismo nesta discussão; seria difícil encontrar algum ponto positivo). É claro que há inúmeras críticas que podem ser feitas à gestão do Brasil Império. Contudo, acredito que o principal fator de desestabilização ao longo da história do Brasil foi a quantidade de vezes que tivemos que recomeçar do zero. Todo o processo de formação do Brasil, até 1889, havia acontecido sem nenhuma grande ruptura. Já a república foi instaurada através de um golpe institucional organizado por uma parcela do exército insatisfeita com a monarquia, sem nenhuma participação da população. Novas oligarquias se instalaram no poder e deram início a um novo Brasil. Após essa data, passamos por subsequentes mudanças de rota. Era Vargas, regime militar, redemocratização. Para deixar claro, não estou necessariamente defendendo a monarquia. Estou dizendo que se tivéssemos 200 anos de estabilidade política, desde a fundação do Brasil, é provável que estaríamos hoje em condições melhores. Basta olhar para os EUA, que têm a mesma Constituição desde 1787.

A sensação que fica é que nunca conseguimos encontrar nosso eixo novamente. Nunca conseguimos entender quem somos, ou quem deveríamos ser. Mudamos nosso sistema político, mudamos nossos heróis, mudamos nossa bandeira, mudamos nossa capital. Estamos, até hoje, tentando encontrar algo que ficou pelo caminho. E foi no dia 15 de novembro de 1889 que começamos a perder nossa identidade como nação.

(*) Gabriel Rocha Kanner é formado em relações internacionais. É empresário e presidente do Instituto Brasil 200.

Mal. Deodoro da Fonseca, 1892

Nascido em 1827 na cidade de Alagoas, que atualmente leva o seu nome, o Marechal Dedoro da Fonseca atuou como um importante militar do Exército a serviço do governo imperial brasileiro, em conflitos como a Revolta Praieira e a Guerra do Paraguai. Em 15 de novembro de 1889, liderou, a contragosto, a ação que depôs o Império e proclamou a República do Brasil. Tornou-se o primeiro presidente do Brasil, num mandato curto e conturbado, marcado por uma grave crise econômica, conhecida como Encilhamento, e pelo fechamento do Congresso, levado a cabo por Deodoro após os parlamentares tentarem limitar seus poderes. Pressionado, renunciou ao cargo em 23 de novembro de 1891. Morreu no ano seguinte, na cidade do Rio de Janeiro.

Pintor, professor, historiador, ensaísta, o autor do quadro, Benedito Calixto, nasceu em 1853 na cidade de Conceição de Itanhaém, no interior de São Paulo. Aprendeu pintura ao auxiliar o tio Joaquim Pedro de Jesus na restauração de imagens sacras da igreja de Brotas, para onde se mudou na juventude. Realizou sua primeira mostra individual em 1881, na cidade de São Paulo. Em 1883, viajou a Paris para estudar desenho e pintura. Morou em Santos e São Vicente, onde pintou inúmeras marinhas. Especializou-se também em temas religiosos, possuindo obras nas Igrejas da Consolação e Santa Cecília. Dentre suas obras mais conhecidas, estão ‘Anchieta escrevendo na praia’, ‘Bartholomeu de Gusmão’ e ‘Praia de São Vicente’. Morreu na capital paulista em 1927. Nove anos depois, seu nome batizou uma praça localizada no Jardim Paulista, entre as ruas Cardeal Arcoverde e Teodoro Sampaio.