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Inglaterra testa uso de câmeras corporais em árbitros para conter agressões no futebol - BBC News Brasil
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Inglaterra testa uso de câmeras corporais em árbitros para conter agressões no futebol - BBC News Brasil

Centenas de árbitros de categorias de base responderam a um questionário sobre violência feito pela BBC. Federação vai testar câmeras corporais em jogos de base.

Esportes

Centenas de árbitros de futebol nas categorias de base e divisões inferiores na Inglaterra disseram à BBC que temem por sua segurança ao apitar partidas e que estão insatisfeitos com as medidas atuais para combater a violência contra juízes.

Mais de 900 árbitros na Inglaterra responderam a um questionário da BBC. Duzentos e noventa e três deles disseram que foram atacados fisicamente por espectadores, jogadores, treinadores ou dirigentes.

Alguns disseram ter levado socos, cabeçadas e cuspidas.

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Praticamente todos os entrevistados sofreram algum tipo de ataque verbal.

O presidente da Associação de Árbitros da Inglaterra, que distribuiu o questionário aos seus 7 mil membros, diz que a violência contra árbitros está tendo um impacto significativo na sua saúde mental e que muitos sentem que correm risco enorme de tomar um "um soco na boca" por conta de alguma decisão que tomam em campo.

"Um dia, neste país, um árbitro vai perder sua vida. Aconteceu na Holanda há alguns anos e eles finalmente mudaram sua cultura no futebol", disse Paul Field.

A Associação de Futebol (FA) — entidade máxima do futebol na Inglaterra, equivalente à CBF do Brasil — diz que uma pequena minoria de pessoas ataca os árbitros, mas que esse comportamento é "completamente inaceitável".

A entidade prometeu "continuar a fazer tudo o que pudermos" para acabar com isso, incluindo sanções mais fortes e a criação de uma estratégia de três anos para ajudar a resolver o problema.

Este ano, alguns árbitros no futebol de base irão a campo vestindo câmeras corporais, como parte de um teste da tecnologia.

Muitos apitam jogos de adolescentes e crianças em categorias de base. O diretor da associação de árbitros disse que o comportamento de alguns pais é "chocante", e que muitos jogadores, mesmo jovens, imitam o comportamento de profissionais ao questionar as decisões.

Mais de 100 árbitros com 17 anos ou menos de idade relataram sofrer abuso verbal por parte de treinadores, dirigentes, espectadores ou jogadores.

O que o questionário revelou

Dos 927 entrevistados, 908 disseram ter sofrido ataque verbal de espectadores, jogadores, treinadores ou gerentes;

778 foram xingados durante a partida, enquanto 375 sofreram abuso pessoal sobre coisas como aparência, gênero, raça ou sexualidade;

293 sofreram ataques físicos de espectadores, jogadores, treinadores ou dirigentes;

Uma ameaça de violência contra eles ou parentes foi feita contra 283 dos entrevistados;

O abuso verbal ou físico afetou negativamente a saúde mental de 361 que responderam ao questionário;

57 pessoas receberam ameaças de morte contra si ou familiares;

A violência contra os árbitros é pior agora do que há cinco anos, de acordo com 440 dos entrevistados;

Dos 927 árbitros, 378 disseram estar "frequentemente" ou "às vezes" preocupados com sua segurança.

Os relatos de violência

Ryan, de 30 anos, de Lancashire, conta que precisou se esconder em uma rua por uma hora depois de ser perseguido por jogadores.

"Toda semana, quando você sai para atuar como árbitro, pensa no que vai acontecer daquela vez. Às vezes, não quero aparecer. Está muito frio e você vai ficar lá por 90 minutos para ser atacado, por 30 libras (cerca de R$ 200), que é o que você recebe", disse ele.

"Se nenhum árbitro aparecer no fim de semana, não vai ter futebol e as categorias de base vão terminar."

Ele pediu que os árbitros recebam câmeras corporais.

Megan, de 18 anos, de Oxfordshire, viu um dos pais entrar em campo mostrando seus punhos depois que ela expulsou um filho.

"Ele estava gritando e dizendo que é por isso que mulheres não devem estar no futebol", disse ela.

"Acho que ele foi suspenso por seis partidas e multado, mas isso não é suficiente."

"Foi provavelmente a experiência mais assustadora que tive quando estava assistindo, jogando ou arbitrando futebol. Realmente teve um impacto na minha saúde mental. Eu estava preocupada o tempo todo. Tirei duas semanas de folga."

"Todos os árbitros são alvos de ataques e eu também sou atacada por causa do meu gênero - sou mulher em uma área dominada por homens. Já ouvi gente comentando sobre meus peitos no meio de um jogo."

Adrian, de 59 anos , de Portsmouth, conta que "em quase 24 anos de arbitragem, fui ameaçado, abusado verbalmente, disseram que sabiam onde eu moro, também fui agredido cinco vezes. Por que continuo, não sei - suponho que o amor ao futebol".

Bill, de 74 anos, de Leamington Spa conta que foi impedido de dirigir seu carro por jogadores deitados na frente e pulando no capô. "Há alguns anos, levei um soco nas costas e fui chutado no chão."

Joe, 18, de Romford, diz que foi agredido por um jogador adulto quando tinha 16 anos, ameaçado várias vezes por dirigtentes e pais.

"Um jogador do sub-14 ameaçou me esfaquear e 'mandar sua gangue para cima de mim'. Os dirigentes ameaçaram me bater no estacionamento, jogadores também disseram isso."