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Ciência & Tecnologia

‘Lua de sangue’: entenda o fenômeno que poderá ser visto de todo o Brasil neste domingo

O primeiro eclipse lunar completo de 2022 vai acontecer na noite deste domingo, 15, e poderá ser visto de todos os lugares do Brasil. O evento astronômico de longa duração poderá ser observado entre o final da noite e durante a madruga da segunda-feira, 16. O fenômeno consiste no alinhamento total entre o sol, a Terra e a lua, nessa ordem. No momento em que os três astros se encontram posicionados na mesma direção, a sombra do planeta, provocada pela luz solar, cobre o seu único satélite natural por completo, dando-lhe um efeito avermelhado.

Segundo o professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP) Roberto Dell’Aglio, o nome correto do fenômeno é apenas “eclipse lunar total”, sendo conhecido apenas popularmente como “lua de sangue”. “O que teremos na madrugada do próximo dia 16 é um eclipse lunar. O termo ‘lua de sangue’ para se referir aos eclipses lunares virou moda de uns anos para cá na imprensa, provavelmente por cópia [sic] dos sites americanos. Mas não se deve perder de vista que o fenômeno físico em si é o eclipse lunar, ou seja, o momento em que a Terra se coloca exatamente entre o Sol e a Lua, fazendo com que a sombra da Terra seja projetada na Lua”, afirma o pesquisador.

Desse modo, o termo “lua de sangue” se refere à coloração avermelhada que a lua adquire durante a fase total dos eclipses lunares, que ocorre porque a atmosfera da Terra age com um filtro para a luz do Sol. Dell’Aglio explica como funciona o mecanismo: “a atmosfera de nosso planeta normalmente filtra a luz solar, deixando passar com mais eficiência as cores vermelhas e refletindo o azul, por isso vemos o céu azul durante o dia. Num eclipse lunar, a Terra está exatamente entre o Sol e a Lua, ou seja, do ponto de vista de um observador na Lua, a Terra está bem na frente do Sol. Nesse caso, nas ‘bordas’ do nosso planeta, visto por um observador hipotético na lua, se forma um halo [um círculo] a partir da atmosfera, que deixa passar um pouco de luz. Essa luz é avermelhada pelo filtro atmosférico e vai incidir na Lua, que adquire um tom castanho-avermelhado [para o observador que está na Terra]”.

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Onde e de que horas ver a “Lua de Sangue”

Segundo o portal Time and Date, que monitora fases da lua e do sol, força dos ventos, temperatura, entre outros eventos naturais, o eclipse lunar deste domingo vai ser visto em sua totalidade de todo o território brasileiro, sem locais mais privilegiados que outros. “Como ele ocorrerá na metade da noite e, portanto, com a lua alta no céu, será muito fácil ver”, diz Roberto Dell’Aglio. Pelo horário de Brasília, o início do fenômeno deverá ocorrer às 23h28 e se encerrar às 2h55. O efeito completo, com toda a lua coberta pela sombra avermelhada da Terra, vai poder ser visto entre 0h29 e 1h54. Além do Brasil, todos os países das Américas do Sul e Central e na metade leste da América do Norte também terão visibilidade do eclipse.

Curiosidades sobre o eclipse lunar

Na história da humanidade, o eclipse solar e o lunar sempre foram associados a diversas crenças, lendas, profecias, maldições e superstições. Povos de todos os lugares do planeta e credos diferentes — dos indígenas americanos, incas, mesopotâmicos, hindus, passando pelo islã, judaísmo e cristianismo — sempre fizeram interpretações diferentes do que esses fenômenos poderiam significar para a história do mundo. Especificamente com a “Lua de Sangue” não seria diferente.

Na Babilônia antiga, a lua era considerada um deus que dava sinais de presságio ao povo. Assim, o eclipse lunar representava um “emudecimento” da divindade, o surgimento de um problema, colocando a civilização em perigo. Na ausência desse deus-lua, o mal e a desordem, ligados ao caos e à morte, ganhariam força. E, por isso, no final do eclipse lunar, o povo fazia um ritual de purificação. Já no Egito Antigo, os ciclos da Lua representavam a luta entre os deuses Seth e Horus, uma batalha entre a Luz e as Trevas, Ordem e o Caos. No caso de um eclipse lunar, o povo entendia que durante a batalha pela sucessão de Osíris, Seth roubava o Olho Lunar de seu irmão Horus.

Segundo Francisco Razzo, professor de sociologia do Colégio Presbiteriano Mackenzie, todos os fenômenos naturais no período pré-moderno eram interpretados a partir dos mitos. “Toda a natureza transpirava o sagrado. Portanto, um eclipse lunar só fazia sentido quando inserido dentro de um contexto sagrado mais amplo. Todos os povos, inclusive o nosso, constroem narrativas míticas. A diferença é que povos não modernos interpretavam todo o sentido de sua existência em íntima comunhão com as divindades”, explica Razzo. “O indivíduo moderno não é um deus babilônico, nórdico ou egípcio, não é um deus deste ou daquela região, como eram os deuses locais da antiguidade, mas um pequeno soberano – e, porque não, às vezes, um tirano – de suas próprias pretensões”.