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Entenda por que a Baixada Santista é região estratégica para o PCC
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Entenda por que a Baixada Santista é região estratégica para o PCC

Porto de Santos é utilizado pela facção criminosa como o principal meio de exportação de cocaína para países da Europa e da África

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Nos últimos dias, o Guarujá, na Baixada Santista, tornou-se palco de uma guerra que já deixou ao menos 14 mortos. Após o assassinato do soldado Patrick Bastos Reis, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), na última quinta-feira (27), o Governo de São Paulo desencadeou a Operação Escudo com o objetivo de prender os envolvidos no crime.

Esta não é a primeira vez que os moradores do litoral se vêm no meio do fogo cruzado. A Baixada Santista — composta de nove municípios — é considerada uma região estratégica pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) em razão do porto de Santos e das peculiaridades geográficas da região, de acordo com especialistas em segurança pública ouvidos pelo R7.

Com extensão de 16 km e apontado como o maior da América Latina, o porto de Santos é utilizado pela facção como o principal meio de escoação de cocaína para países do sul da Europa e da África. Por isso, o crime organizado domina o litoral paulista há pelo menos 20 anos.

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"O PCC cuida muito daquela região, porque é a porta de saída dos negócios que garantem o sucesso deles. Compram a droga, principalmente da Bolívia e do Peru, que entra [no Brasil] pelo Paraguai. E depois precisam da porta de saída, que é o porto de Santos", explica a desembargadora do TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) Ivana David.

Importantes lideranças do PCC também são oriundas da Baixada Santista. É o caso do narcotraficante André Oliveira Macedo, o André do Rap. Ele é um dos dez criminosos mais procurados no Brasil, segundo a lista do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Conhecido pelo comportamento violento e por quase derrubar um helicóptero da polícia a tiros, André Luiz dos Santos, vulgo Keko, se esconde no manguezal próximo ao porto de Santos. Condenado há mais de 92 anos de prisão, ele é considerado uma das pontes entre o PCC e o tráfico internacional.

Consolidação do poder

Para a desembargadora, o PCC consolidou o domínio na Baixada Santista após os "crimes de maio", em 2006, que terminaram com mais de 500 mortos no estado. Nesse período, a organização criminosa — sob o comando de Marcola — passou a elencar novas prioridades.

“Houve uma mudança de paradigma. O PCC deixa de ser aquela organização criminosa que cuidava de preso e assistencialista e passa a mostrar que é ligada ao tráfico de entorpecentes e que atua fora dos presídios. Hoje, ela é uma empresa de narcóticos transnacional que está mais ligada ao dinheiro", afirma.

O procurador de Justiça Marcio Sérgio Christino, autor do livro Laços de Sangue — A História Secreta do PCC, ressalta que entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000 já era possível perceber a atuação violenta da facção no litoral.

Christino relembra que, em 2002, um advogado morreu e um funcionário público ficou ferido após um ataque ao Fórum de São Vicente. O prédio foi metralhado durante uma suposta tentativa de resgate de um preso que era integrante do PCC. Durante a fuga, uma granada ainda foi deixada no local.

Diferentemente da capital, a Baixada Santista tem como característica geográfica os morros e os manguezais, o que facilita a atuação dos traficantes, de acordo com os especialistas em segurança pública.

Segundo Ivana David, a Baixada Santista lembra, geopoliticamente, o Rio de Janeiro. Como os traficantes se instalam no alto do morro, eles têm uma visão privilegiada em relação à polícia.

"Subir o morro sempre foi desafiador, porque estruturalmente o crime se coloca em cima e tem controle de quem pode ou não subir. Essa é a grande diferença em relação [ao território] da capital", defende a desembargadora.

À reportagem, o promotor Silvio de Cillo Leite Loubeh, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo), explica que os integrantes da facção se instalam nas comunidades, localizadas nos morros, para esconder armas e drogas e praticar o tráfico.

"Eles conseguem trabalhar mais protegidos, porque a polícia tem muita dificuldade de entrar nesses locais. Sempre que tem uma ação, a polícia é recebida a tiros. Isso é a regra [estabelecida pela organização] e foi o que aconteceu na última semana", explica Loubeh, que atua desde 2011 no Núcleo de Santos.

Para o procurador, se a polícia continuar realizando as operações na Baixada Santista, os confrontos vão prosseguir e, eventualmente, mais mortes acontecerão. "A polícia é sempre recebida a tiros. Os criminosos não se intimidam com a presença [dos agentes] aqui na região", reforça.

Governo de São Paulo

Desde o início da operação, a Ouvidoria das Polícias tem recebido relatos de moradores sobre a atuação violenta da polícia contra a população, inclusive com episódios de tortura, durante a operação em represália à morte do soldado da Rota.

Na segunda-feira (31), durante coletiva de imprensa, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que "não houve excessos" nas operações que levaram à morte de suspeitos.

Tarcísio ainda ressaltou que a Polícia Militar quer evitar o confronto. Entretanto, "a partir do momento em que a autoridade policial é desrespeitada", uma reação da polícia é inevitável.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que "a polícia tem enfrentado intensa reação por parte dos criminosos, já que o reforço no policiamento impacta diretamente no tráfico de drogas que mantém o crime organizado".

Mesmo após a prisão de Erickson David da Silva, suspeito de ser o autor dos disparos que mataram o policial da Rota, a Operação Escudo deve continuar na região por no mínimo 30 dias, segundo a pasta.