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Opinião

Não ridicularizem as Forças Armadas, jornalistas

Por Mario Sabino

Os militares achavam que controlariam Jair Bolsonaro na Presidência da República. Não controlaram e, ao final de quatro anos, o ex-capitão da reserva ainda os expôs à execração pública. Esquerdistas acusam as Forças Armadas de golpismo, enquanto direitistas as tratam como covardes justamente por não terem dado um golpe de Estado.

Agora, como se não bastasse, militares estão envolvidos no episódio das joias que os asseclas de Jair Bolsonaro passaram nos cobres. Nove oficiais, tanto da reserva como da ativa, estão sob investigação. A única coisa que as Forças Armadas têm a fazer com eles é tratá-los como traidores, não como irmãos de armas.

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Jornalistas se aproveitam do momento ruim das Forças Armadas para ridicularizá-las e demonizá-las. É o espírito revanchista de quem não saiu de 1964. Esses jornalistas são como Jair Bolsonaro, só que com o sinal ideológico trocado. Anacrônicos, ressentidos, irresponsáveis, cegos para a realidade histórica de que o golpe militar foi também civil, com a participação de puxa-sacos que depois se disseram resistentes.

Afora a estupidez do espírito revanchista, é um erro ridicularizar e demonizar as Forças Armadas porque elas não são piores do que as outras instituições brasileiras. Nem melhores. Temos o que merecemos: no Executivo, no Judiciário, no Legislativo, na burocracia estatal, na universidade — e também nas Forças Armadas e na imprensa. É um país que vem se nivelando por baixo há muito tempo.

As Forças Armadas não são um corpo estranho ao restante da sociedade brasileira. Elas integram organicamente esta sociedade e, por isso, padecem dos mesmos defeitos, das mesmas carências, dos mesmo limites, dos mesmos oportunismos.

Não ridicularizem, portanto, as Forças Armadas, jornalistas. Nem as demonizem. Elas não são piores do que vocês. E alguns dos seus integrantes não são mais desonestos do que alguns de vocês. Do que alguns de nós.