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Saúde

Obesidade infantil e sedentarismo

Em dez anos, o índice de crianças entre 5 e 9 anos acima do peso passou de 26,7% para 31,4%, segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde. Quando se leva em conta apenas as crianças com obesidade grave, o percentual já chega a 6,35%. Trata-se de um sério alerta neste Dia Mundial de Combate à Obesidade (4.3).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o quinto país com maior número de crianças e adolescentes com sobrepeso, obesidade e obesidade grave no mundo.

O que se aborda nesta oportunidade não é a questão estética ou da aceitação pessoal, mas os reflexos para a saúde e os hábitos alimentares e comportamentais que levam a essa condição cada vez mais cedo no Brasil.

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Crianças com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 25 têm até 10% mais chances de sofrer um acidente cardiovascular fatal aos 7 anos, segundo estudo publicado no “New England Medical Journal”. Aos 13 anos, esse risco sobe para 24%. Outro estudo, realizado pela ONG britânica Diabetes UK, indica que a obesidade pode aumentar em 85% as chances de desenvolver diabetes.

Duas razões se combinam para o aumento do peso entre as crianças. Uma delas é o alto consumo de alimentos ultraprocessados. Quatro em cada dez se alimentam frequentemente com macarrão instantâneo ou salgadinhos, e seis em cada dez consomem bebidas açucaradas.

Outra razão é diminuição da atividade física. De acordo com a OMS, 78% das crianças não fazem sequer uma hora de atividade física por dia. O sedentarismo infantil é ainda mais grave que o adulto, pois, ao não formar memória motora, a criança não terá uma condição física a ser recuperada, agravando os riscos associados à obesidade. É o que vem sendo chamado de “analfabetismo físico infantil”.

No dia 10 de março, ainda será celebrado o Dia Mundial do Combate ao Sedentarismo. Que este seja o momento para pais ajudarem crianças e jovens a mudar esse cenário, adotando novos hábitos e criando um futuro de saúde e vida longa e feliz para eles.

Segundo estudo publicado na revista científica The Lancet, a taxa global de obesidade em crianças disparou em 41 anos. Por outro lado, o índice de baixo peso caiu.

O Brasil segue na mesma direção. Entidades de saúde alertam que, se não houver uma mudança de rumo, o país, assim como a população global, enfrentará um forte crescimento de doenças associadas à obesidade, como diabetes, pressão arterial elevada e doenças de fígado.

Os pesquisadores do estudo, coordenado pela universidade inglesa Imperial College London e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), alertam que, se a obesidade continuar crescendo nos níveis das últimas décadas, em cinco anos o mundo terá mais crianças e adolescentes obesos do que com baixo peso.

A principal razão para a alta de peso na população mais jovem é o consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura, principalmente os industrializados.

"Essas tendências preocupantes refletem o impacto da publicidade da indústria alimentícia e das políticas públicas ao redor do globo, com alimentos saudáveis e nutritivos se tornando algo muito caro para famílias e comunidades pobres", afirmou em um comunicado a pesquisadora que liderou o estudo publicando na Lancet, Majid Ezzati, da Escola de Saúde da Imperial College London.

"O estudo mostra que, em 40 anos, o mundo passou por uma transição nutricional, de saída da desnutrição e de entrada na obesidade", afirma Maria Edna de Melo, presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

"A situação de Brasil é semelhante ao que o estudo aponta - vivemos em um ambiente em que o número de crianças abaixo do peso não mais preocupa. O que mais preocupa é o número de crianças com excesso de peso e de obesidade", avalia.

Assim como nos outros países pesquisados, a elevação dos níveis de obesidade no Brasil está relacionada ao maior consumo de produtos industrializados, ricos em açúcar e gorduras.

No país, porém, o consumo não estaria relacionado apenas a uma disparidade de preços entre alimentos saudáveis (normalmente, mais caros) e industrializados (mais baratos), mas também por uma questão de status associada ao consumo desses itens.

"Hoje temos as famílias com disponibilidade grande de alimentos industrializados e isso, para algumas delas, é chique. É como se fosse uma afirmação social poder consumir produtos industrializados. Esses produtos são saborosos, mas ricos em sal, gordura e açúcares, e as pessoas não têm a real dimensão do quão nocivos eles são", alerta Melo.

De acordo com a Federação Mundial de Obesidade, o crescente nível de obesidade entre crianças e adultos coloca a saúde desse público "em perigo imediato".

A médica afirma que muitas vezes o indivíduo não compreende o que é a obesidade e não imagina que seus filhos possam sofrer com o problema.

"As pessoas acham que uma pessoa só tem obesidade quando é a obesidade grave. Falta uma identificação correta da doença também pelos profissionais da saúde", aponta.

Aumentar o aleitamento materno na infância e limitar o consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura, como refrigerantes, biscoitos e fast food também é essencial para evitar que crianças se tornem obesas e para reduzir os níveis atuais da doença, alerta a Federação Mundial de Obesidade.

Também é importante encorajar os jovens a praticar exercícios físicos - de acordo com a entidade, 80% dos jovens não atingem os níveis recomendados de atividade.

Reduzir a presença da doença na população significa mudar hábitos, conceitos e retomar algumas lições. "Tem que voltar a comer arroz com feijão. Pelo menos uma vez por dia", afirma Melo. Para as crianças pequenas que estão ainda aprendendo a comer, é importante que a família não consuma produtos que são proibidos para a criança. "Os pais, antes de dizer não, precisam dar o exemplo."