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Funcionário de hospital inglês confessa assassinatos e abuso de dezenas de cadáveres - BBC News Brasil
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Funcionário de hospital inglês confessa assassinatos e abuso de dezenas de cadáveres - BBC News Brasil

Avanços em testes de DNA e operação policial milionária ajudaram a desvendar caso; eletricista matou duas mulheres em 1987 e abusava de cadáveres em necrotérios, no que está sendo chamado de mais grave caso de necrofilia da história criminal do Reino Unido.

Internacional

Atenção: essa reportagem contém informações que podem ser consideradas perturbadoras por algumas pessoas.

Um funcionário de um hospital na Inglaterra admitiu ter assassinado duas mulheres em 1987 e abusado sexualmente de pelo menos cem cadáveres femininos, incluindo de crianças.

David Fuller, de 67 anos, atacou e matou Wendy Knell e Caroline Pierce em Turnbridge Wells, cidade cerca de 50 quilômetros ao sul de Londres.

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Só no quarto dia de seu julgamento é que Fuller passou a se declarar culpado pelos dois assassinatos. Até então, sua defesa era de que ele tinha matado as mulheres mas que não deveria ser culpado por assassinato por estar com as funções mentais debilitadas.

Ele também admitiu ter abusado sexualmente de corpos em necrotérios de dois hospitais no condado de Kent ao longo de 12 anos.

O caso chocou o país. A ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, disse esperar que as famílias das vítimas "possam encontrar algum consolo em ver a justiça finalmente ser feita".

A família de Wendy Knell disse em um comunicado que "é bom saber que ele não poderá machucar mais ninguém ou causar mais dor".

Segundo a imprensa britânica, esse seria o mais grave caso de necrofilia da história criminal do país.

A data para audiência em que a sentença de Fuller será proferida ainda não foi definida.

Os investigadores disseram que só foi possível indiciar Fuller após avanços recentes com testes de DNA e uma enorme operação policial — que custou 2,5 milhões de libras (R$ 19 milhões).

Sua saliva e outra amostra com seu DNA foram encontrados na roupa de cama, toalha e amostras colhidas das partes íntimas de Knell.

Seu sêmen também foi achado nas meias de Pierce, a única peça de roupa que ela estava usando quando seu corpo foi encontrado em um dique, três semanas após ela ter sido sequestrada.

Após a prisão de Fuller, uma busca em sua casa revelou que ele havia acumulado milhões de imagens e vídeos indecentes de crianças e outros tipos de pornografia em discos rígidos, disquetes, DVDs e cartões de memória.

Dois discos rígidos estavam escondidas em uma caixa, aparafusada na parte de trás de uma cômoda e colocada dentro de um guarda-roupa.

Nesses discos, os policiais encontraram imagens que Fuller havia gravado de si mesmo abusando de cadáveres nos necrotérios.

Em pastas, algumas identificadas com os nomes das vítimas, foram encontrados imagens e vídeos dele molestando corpos femininos, incluindo de três crianças, entre 2008 e novembro de 2020.

A polícia não conseguiu identificar 20 das vítimas.

"Infelizmente, é provável que algumas das vítimas nunca sejam identificadas", disse o investigador Paul Fotheringham.

Corpos abusados repetidamente

Fuller cuidava da manutenção elétrica em hospitais desde 1989. Ele trabalhava no Kent and Sussex Hospital até o local ser fechado, em setembro de 2011.

Ele foi transferido para o Tunbridge Wells Hospital, em Pembury, onde continuou cometendo seus crimes — até sua prisão, em dezembro de 2020.

A polícia disse que Fuller trabalhava até tarde e, depois que os funcionários tinham ido embora, se dirigia ao necrotério, onde, muitas vezes "abusava dos mesmos corpos repetidamente".

Há evidências de que Knell foi estuprada durante ou após sua morte. Ela foi morta em sua residência em 23 de junho de 1987, e encontrada em sua cama pelo namorado no dia seguinte, depois de não comparecer ao trabalho.

A família de Knell disse que por 34 anos quis saber quem a matou e "como foram seus últimos momentos de vida".

"Agora, sabemos, e infelizmente é muito pior do que poderíamos ter imaginado. Mas podemos agora começar a superar a dor e a lembrar dela como a garota bonita, gentil, generosa, atenciosa e engraçada que era. Embora a confissão não mude nada, já que a dor e a perda sempre estarão lá, é bom saber que ele não poderá machucar mais ninguém nem causar mais dor."

Já o que aconteceu com Caroline Pierce depois que ela foi sequestrada, do lado de fora de sua casa em 24 de novembro de 1987, é menos claro.

Os vizinhos relataram ter ouvido gritos, mas demorou três semanas para que seu corpo fosse localizado por um trabalhador rural, a mais de 64 km de distância.

A polícia disse ser muito provável que Fuller conhecesse as duas mulheres.

Ele era cliente de uma loja da SupaSnaps, uma rede de revelação de fotos, em que Wendy Knell trabalhava.

Na mesma rua dessa loja, ficava um restaurante em que Pierce trabalhava como gerente — e que Fuller tinha visitado, segundo fotos e anotações de diário de Fuller encontrados pela polícia.

Fuller manteve registros de ter realizado pelo menos 30 roubos e invasões de residências durante os anos 1970.

Mas ele nunca chegou a ser preso porque seus crimes precederam a criação de um banco de dados de DNA da polícia.

Por causa desse caso, o ministro da Saúde do Reio Unido, Sajid Javid, disse que todas as unidades regionais do sistema de saúde público do Reino Unido foram instruídas a revisar os dados de acesso aos seus necrotérios e as atividades realizadas neles.