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Opinião

Eduardo Bolsonaro: ‘A esquerda é PHD em reescrever a história’

É noite da quarta-feira 19 na Câmara dos Deputados. Esta reportagem vai em direção ao gabinete 579, localizado no Anexo III da Casa. Esse é o endereço do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), 30 anos, terceiro filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, no Congresso. O local está repleto de fotos do ex-chefe do Executivo — uma delas é quase do tamanho de uma das paredes do gabinete.

Naquele dia, Eduardo brigou com o colega de Parlamento Dionilso Marcon (PT-RS), pois o deputado ofendeu o ex-presidente. Na ocasião, Marcon ironizou a facada que Bolsonaro sofreu em 2018. Eduardo partiu para cima do parlamentar, mas foi contido.

“Ele fez uma piada com a facada do meu pai, inclusive, disse que ‘sangrou foi pouco’. Não tem como escutar isso e não reagir”, disse o político a Oeste. “Não fazemos piada com o assassinato da vereadora Marielle Franco. Condenamos o assassinato dela. A esquerda não. Eles são PHD em reescrever a história.”

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Além disso, durante a conversa, Eduardo Bolsonaro criticou a prisão do ex-ministro Anderson Torres, endossou o apoio a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, comentou as imagens vazadas do Palácio do Planalto e muito mais. Confira os principais trechos:

O senhor acredita que a prisão do Anderson Torres é injusta?

Sim. A prisão preventiva só pode acontecer em quatro modalidades: risco a ordem pública, a ordem financeira, de fuga e quando o indivíduo atrapalha a investigação. Torres não se encaixa em nenhum desses casos. O que fundamentou a prisão dele foi a omissão nos casos do 8 de janeiro. Se a lei for isonômica, ela acaba com uma série de arbitrariedades do Estado. Se todos são iguais perante a lei, não pode haver escravidão e perseguição. Precisa haver o processo legal e outras garantias fundamentais. Isso não está sendo respeitado no caso do Torres. Se todos, de fato, somos iguais, por que o Anderson Torres está preso e o ministro da Justiça, Flávio Dino –, que recebeu um ofício da Polícia Federal (PF) avisando sobre a possibilidade dos atos de vandalismo –, está solto? Dino tirou o time dele de campo mesmo sabendo antecipadamente sobre os atos. Todos os que estão presos por conta dos atos do dia 8 têm uma possibilidade maior de serem soltos com a instalação da CPMI do 8 de janeiro. A CPMI vai expor as ilegalidades e injustiças que aconteceram nesses casos.

Na semana passada, um deputado do PT ofendeu o seu pai e o senhor reagiu. Como é lidar com constantes ataques à reputação dele?

O deputado fez uma piada com a facada do meu pai, inclusive, disse que “sangrou foi pouco”. Não tem como escutar isso e não reagir. Me sentiria um frouxo se tivesse ouvido tudo aquilo e não feito nada. Vou acionar o Conselho de Ética contra esse deputado. Ele disse que vai me denunciar no conselho também. A esquerda não pode chamar o meu pai de corrupto, por isso tentaram assassiná-lo. Não fazemos piada com o assassinato da vereadora Marielle Franco. Condenamos o assassinato dela. Não nos metemos nisso. A esquerda não. Eles são PHD em reescrever a história.

Na semana passada, foram divulgadas diversas imagens que apontam leniência do governo no 8 de janeiro. Em seguida, o ministro do GSI pediu exoneração. Qual o impacto disso no governo?

Isso enterrou as tentativas do governo de barrar a CPMI por meio da retirada de assinaturas. Agora, o governo está “apoiando” a CPMI. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), adiou por muito tempo a leitura da CPMI. Agora, com o início dos trabalhos, me comprometo a apresentar um requerimento para convocar o ex-ministro Gonçalves Dias, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Quero saber com quem ele falou e com quem esteve. Será que tem peixes grandes com ele? É curioso que a esquerda moveu mundos e fundos para enterrar a CPMI. No começo, eles que queriam essa comissão. O PT foge da verdade como o capeta foge da cruz.

O apoio do governo à CPMI pode atrapalhar as investigações?

Eles vão tentar desvirtuar a CPMI para quebrar o sigilo de quem não tem nada a ver com a história. Perseguindo as pessoas, eles desestimulam a oposição. Muita gente vai ter receio de sair às ruas para se manifestarem, pois viram a população que foi presa por ficar apenas em frente ao quartel-general. Foram mais de mil prisões em flagrantes feitas na base do “copia e cola”. Temos que ficar bem atentos nessa CPMI, pois a esquerda vai fazer de tudo para nos atrapalhar.

A questão das joias, que teriam sido escondidas pelo ex-presidente, desgastou a imagem dele?

O Bolsonaro nunca teve contato com esse colar que, inicialmente, foi avaliado em mil dólares e, depois, em € 3 milhões. Essa joia estava parada em Guarulhos. A ex-primeira-dama Michelle ficou sabendo desses objetos quando o assunto foi parar na imprensa. Intuitivamente as pessoas acharam que as joias eram para a Michelle. Como o presente foi dado ao assessor do então ministro de Minas e Energia, não identificaram para quem eram as joias. Quando esse assessor chegou em Guarulhos, a Receita Federal parou ele e descobriu que havia uma joia. Cerca de um ano depois, alguém avisou ao presidente e ele foi retirar o presente em Guarulhos. Qualquer presente dado por um governo estrangeiro não tem que ficar na Receita. A esquerda tenta transformar isso em um grande esquema de corrupção. A defesa de Bolsonaro devolveu as joias. Inicialmente, Bolsonaro teve uma liminar do ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), afirmando que o relógio estava de forma legal no Brasil e que o presidente não poderia usar aquele bem. Assim, ele está cumprindo a lei. Já a joia foi devolvida. [Por ordem do TCU, o ex-presidente devolveu três kits de joias, com um relógio incluso].

Em 17 de abril, durante uma sessão plenária do STF, o ministro Moraes associou o senhor e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu irmão, aos atos do 8 de janeiro. Como o senhor recebe isso?

Moraes é um caso raro no Brasil. Ele é quem investiga, acusa e julga. Nem no período Medieval tínhamos algo parecido com isso. Se o ministro nos acusa, a ele cabe o ônus da prova. Como incentivei os atos de vandalismo? Não há vídeos, lives ou banners. E ainda que tivesse. Às vezes penso que meu pai é super-poderoso, pois, ao depender do que ele fale, as coisas acontecem. Ele poderia falar “Não haja mais mortes no Brasil” e os homicídios zerarem. Estou querendo demonstrar que não existe uma ligação direta com aquilo que se fala e, nesse caso — com o que não se fala –, pois o Bolsonaro não deu nenhuma ordem e, inclusive, foi muito criticado pela própria base. Quando estava na faculdade, quase não ouvíamos falar de ministros do STF. Normalmente, o ministro fala apenas dentro dos autos.

Steve Bannon, ex-Estrategista-chefe da Casa Branca, defendeu o senhor como sucessor do seu pai. O senhor se enxerga como um possível futuro grande líder da direita no Brasil?

Não me comparo ao meu pai. Para chegar até ele, tenho que comer muito feijão com arroz. Fico feliz com esse indicativo do Steve. Ele é muito influente na política americana. Por hora, descarto essa possibilidade. O grande líder da direita no Brasil é o Jair Bolsonaro, que possui a capacidade de aglutinar outras lideranças embaixo dele. Não tenho a ambição de ter esse cargo, pois sei qual é o peso que ele tem de perto.

Leia aqui:

https://revistaoeste.com/tag/supremo-tribunal-federal-stf/