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Política

MARIGHELLA, O VERDADEIRO TERRORIRSTA. A SENHORA IDOSA COM A BÍBLIA É UMA PATRIOTA.

Diante da cruel, desumana e inaceitável perseguição que Moraes sob os aplausos do PT e da imprensa brasileira fazem contra as pessoas supostamente envolvidas nos atos de 8 de janeiro de 2023, é preciso relembrar a atividade terrorista, armada e com cooperação Internacional que nunca foi punida como deveria: O Caso de Carlos Marighella.

A história de Carlos Marighella, um destacado guerrilheiro terrorista brasileiro, é um fascinante capítulo na compreensão do Brasil durante a década de 1960. Seu nome se tornou sinônimo de "resistência" armada e insurgência contra o regime militar que governou o país por mais de duas décadas. A vida e as atividades de Marighella, com foco especial na cooperação internacional que o apoiou em sua atividade terrorista que será descrito abaixo é a prova cabal que tudo o que Moraes, STF, PT e a imprensa brasileira fazem é nada mais do que perseguição política com cinismos que raiam à barbárie.

Contexto Político e Ideológico

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“Cada patriota deve saber manejar sua arma de fogo. Sem isso, qualquer ação combativa no Brasil atual está destinada ao fracasso.” - Carlos Marighella

A década de 1960 foi um período tumultuado na história do socialismo no Brasil, marcado pelo regime militar de 1964, que resultou no estabelecimento de um regime autoritário que governaria o país por muitos anos. Ninguém nega que a repressão política, a censura da imprensa e a violação dos direitos civis eram características desse regime, mas nada comparada ao que vemos hoje sendo praticado pelos membros do judiciário e executivos do atual regime socialista brasileiro, mais autoritário do que o regime militar. A resposta dos brasileiros hoje se resume em palavrões, impropérios e manifestações pacíficas, com excessão do dia 8 de janeiro, evento cheio de perguntas e poucas respostas. O que levou a uma resposta armada e terrorista por parte dos socialistas na década de 1960 é por muitos considerada "justificável", mas uma senhora com a Sagrada Escritura debaixo dos braços precisa estar presa por ter orado, ou seja, agido de "modo inaceitável".

Carlos Marighella, membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), emergiu como uma figura proeminente na organização terrorista armada contra o regime militar. Seus métodos incluíam assaltos a bancos e ataques a instalações do governo, bem como a distribuição de um famoso "Minimanual do Guerrilheiro Urbano", que discutia táticas e estratégias terroristas para a luta armada.

Operação Manuel: Cooperação Internacional e Apoio

Uma das características mais notáveis da história de Marighella foi a cooperação internacional que ele buscou e recebeu dos comunistas vizinhos. O trecho do livro "Marighella - O guerrilheiro que incendiou o mundo" menciona a "Operação Manuel", um protocolo de ajuda à viagem de indivíduos destinados a receber treinamento militar em Havana, Cuba. Essa operação envolveu a colaboração entre o regime cubano, o regime soviético e a Tchecoslováquia, que forneciam apoio logístico, incluindo armas e a falsificação de passaportes.

Essa cooperação internacional criminosa demonstra a solidariedade entre movimentos revolucionários e regimes comunistas durante a Guerra Fria. Cuba desempenhou um papel central como centro de treinamento e apoio para revolucionários e terroristas de todo o mundo. Marighella aproveitou essa rede de apoio para aprimorar suas habilidades e recursos e implementar o terrorismo no Brasil em busca de impor o socialismo.

Perseguição e Evolução das Ações de Marighella

Enquanto Marighella buscava expandir sua influência e continuar suas atividades terroristas, ele se tornou alvo das autoridades brasileiras. Sua presença em diferentes países, como Guiana, Paris e Zurique, era monitorada de perto, e as autoridades brasileiras estavam determinadas a capturá-lo.

A busca por Marighella reflete o alto nível de preocupação das autoridades brasileiras com sua influência e suas atividades de resistência armada. Ele se tornou uma figura perigosa, atraindo a atenção tanto das agências de inteligência brasileiras quanto de países vizinhos que ainda não haviam sucumbidos ao socialismo.

E o 8 de janeiro?

A história de Carlos Marighella é um exemplo notável de terrorismo e cooperação internacional em um período de intensa turbulência política no Brasil. Seu nome permanece associado à traição e à determinação de impor sua agenda política por meio do terror, algo nunca antes praticado por nenhuma das vítimas do episódio de 8 de janeiro em Brasília. A cooperação entre organizações criminosas e países comunistas durante a Guerra Fria é um aspecto importante dessa história. A mesma imprensa que esconde a "Operação Manoel" é a que hoje fala "dos riscos à democracia nos atos de 8 de janeiro".

Leia o trecho do livro "Marighella - O guerrilheiro que incendiou o mundo"

Em 26 de dezembro de 1966, Marighella dera um passo decisivo no plano de treinamento dos seus partidários no exterior. Ele datilografou no Rio uma carta de oitenta linhas, em cuja conclusão se manifestou “confiante nos promissores resultados do processo de intercâmbio que ora iniciamos”. Omitindo os nomes do remetente e do destinatário, endereçou-a a Fidel Castro, tratado como “prezado companheiro” e “chefe da Revolução Cubana”. Escalou como portador o arquiteto Farid Helou, um dos dirigentes da esquerda do PCB paulista, a dita Ala Marighella. O mensageiro rumou com seus óculos fundo de garrafa para Havana, onde havia morado e estabelecido laços no alvorecer da revolução. Ao ser preso em 1969, ele desconversou, alegando que dois anos antes vagara um mês por Paris à cata de emprego. Conforme o advogado Cícero Vianna, prócer marighellista, Farid transportou 25 mil dólares doados pelos cubanos para o envio de militantes. Oito partiram até julho de 1967. A seleção dos aprendizes de guerrilheiro, todos comunistas de São Paulo, principiara na virada do ano, com os membros do Comitê Estadual do PCB indicando-os. O cc não foi informado porque, se fosse, vetaria. Os alunos que marcariam a organização de Marighella foram o operário Virgílio Gomes da Silva, de 33 anos, Aton Fon Filho, de dezenove, recém egresso do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exército, e o torneiro mecânico Otávio Ângelo, 32. Único poliglota, o suíço Hans Rudolf Jacob Manz, 39, coordenou a viagem para Havana. Sua família possuía uma vastidão de terras de cacau no sul da Bahia, onde ele se vinculou a movimentos de trabalhadores rurais. Além de Otávio Ângelo, outros dois metalúrgicos seguiram para Cuba. Marighella apelidou um deles, José Nonato Mendes, de Pelo de Rato, em virtude de falhas no couro cabeludo — no porvir politicamente correto, a molecagem renderia repreensões. O sétimo e o oitavo escolhidos eram filiados ao PCB no bairro da Penha e tinham origem camponesa. O roteiro de Marighella foi cumprido à risca. Em Roma, o suíço bateu à porta da embaixada de Cuba, à procura de Carlos Candia. Apresentou-lhe uma carta de Marighella e a senha, um canhoto de ticket. O agente de inteligência sacou a parte que armazenava e confirmou que combinava. Recolheu os passaportes e, em papel anexo, obteve os vistos de entrada na Tchecoslováquia. Em Praga, os brasileiros foram procurados no hotel por outro funcionário caribenho, que lhes tomou os passaportes originais e os trocou por cubanos, com nomes falsos. Antes de pousar em Havana o avião fez escala em Gander, no Canadá. Marighella repetia Praga como baldeação — assim o PCB operava na década de 1950 com quem cursava a escola de quadros na União Soviética. Contudo descartou o modelo de 1935, quando o Komintern despachou seus especialistas para o Brasil: ele mandou os brasileiros se qualificarem fora, em vez de importar estrangeiros. Referia-se a Cuba como “centro de aperfeiçoamento guerrilheiro”.

No dia 26 daquele mês, Marighella assistiu em Santiago à comemoração do 14 o aniversário do ataque de Fidel Castro ao quartel de Moncada. Na província de Pinar del Río, conheceu cooperativas de plantadores de fumo. Em Havana, admirou-se com a gratuidade de “telefones públicos, espetáculos esportivos, abastecimento de água, escolas, livros didáticos, assistência médica e creches”. Interessou-se pelas cadernetas para compras em armazéns, as libretas que viriam a simbolizar a escassez nacional. Narrou pelo rádio o que viu e aclamou: “Cuba é realmente território livre da América”. Quem planejou a excursão foi o principal interlocutor de Marighella no país, o poderoso chefe da espionagem, Manuel Piñeiro Losada. Ex-estudante da Columbia University, em Nova York, o cubano Piñeiro lutou contra o regime de Fulgencio Batista, ascendeu ao grau de comandante do Exército Rebelde e após a vitória estruturou a Dirección General de Inteligencia (DGI), aparato estatal de inteligência (o trabalho de se informar sobre os outros) e contrainteligência (impedir que os outros se informem). Chamavam-no Barba Roja, por causa da barba ruiva. Como Marighella, mantinha o humor afiado. Ao contrário dele, não tirava o cigarro da boca. Se o negócio de Cuba, no léxico dos seus adversários, era exportar a revolução, Piñeiro era o principal vendedor. Chefe da DGI e vice-ministro do Interior, preparou as missões de Che Guevara no Congo, um fiasco, e na Bolívia, onde não engrenava. A CIA estimou em 1968 que ele tivesse à disposição sessenta agentes para apoiar movimentos armados na América Latina. Barba Roja tratara de suporte à guerrilha no Brasil antes de 1964, com Francisco Julião, das Ligas Camponesas, e depois, com o brizolista Neiva Moreira e com Herbert de Souza, o Betinho, da AP. Bem mais tarde, recepcionaria em casa o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com o advogado Washington Mastrocinque Martins, cuja capacitação militar em Cuba começaria em 1969, Piñeiro considerava que “o Brasil tinha uma função de liderança na América Latina. Uma frente de luta que se expandisse no Brasil seria fundamental”. Na essência, era o que diria Richard Nixon na presidência dos Estados Unidos: “Para onde o Brasil for, para lá irá o resto do continente latino-americano”. Idêntica opinião exprimia Fidel Castro, outro filho de imigrante galego, como Piñeiro. Marighella se encontrou algumas vezes com o primeiro-ministro e lhe deixou a imagem de “um revolucionário de muita lucidez”, relembrou Barba Roja. Em maio de 1969, o SNI elaborou um sumário do relatório que um desertor da DGI baseado em Paris escrevinhou à CIA. O SNI destacou: “Marighella é atualmente o único líder revolucionário brasileiro recebendo reconhecimento e apoio de Cuba, tendo Fidel Castro dito que ‘põe toda sua esperança em Marighella’”. Fidel apostava em Marighella, e por todo o planeta revolucionários se inspiravam na Revolução Cubana, que arejava o socialismo. Seu comandante não encarnava um octogenário fatigado pelo tempo e o poder, mas o barbudo que acampou na serra aos 29 anos, aos 31 derrubou o ditador e antes dos quarenta era o anfitrião da Primeira Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade. Um informe da CIA descreveu-o como “‘revolucionário compulsivo’, um homem que se vê como outro Simon Bolívar, destinado a trazer uma nova ‘liberdade e unidade’ para a América Latina”. Com o fundo do palco decorado por um enorme painel com a efígie de Bolívar, a Olas abriu sua conferência em 31 de julho, sob a presidência de honra do ausente Che Guevara, cujo paradeiro prosseguia um mistério para a maioria dos setecentos participantes. Delegados de 22 países reviveram a excitação do congresso de fundação da Internacional Comunista em 1919. Se os bolcheviques haviam feito a Revolução Russa à revelia da social-democracia europeia, os cubanos em 1959 e os argelinos em 1962 chegaram lá à margem dos partidos comunistas subordinados ao Kremlin. A impressão é de que pariam uma Internacional Guerrilheira. Como ainda não existia, o PCB escapara do frio de Moscou em 1919. Não foi à calorenta Havana, em 1967, por rejeitar conspirações com cheiro de pólvora. Marighella compareceu com o status de convidado, e não de representante do partido. O Brasil teve quatro delegados: pela AP, o deputado cassado Paulo Stuart Wright e Vinícius Caldeira Brant, ex-presidente da UNE; do Movimento Nacionalista Revolucionário, o antigo líder bancário Aluísio Palhano e o marinheiro expulso Cabo Anselmo. Outros brasileiros passaram pelas sessões da conferência no Hotel Habana Libre, como fora rebatizado o suntuoso Habana Hilton, e onde Marighella se hospedou. Entre eles a intérprete Josina Godoy, radicada em Cuba com o marido, Thales Fleury de Godoy, comandante da Marinha punido em 1964. Marighella redigiu o discurso da delegação brasileira, mas se recusou a pronunciá-lo, por não ser seu membro oficial. Laudas de sua lavra voltaram a ser lidas por Anselmo, como na célebre assembleia dos marujos. Enquanto os oradores das ex-colônias espanholas se proclamavam continuadores de Bolívar e outros libertadores da América, o texto de Marighella reivindicou a luta quilombola de Palmares, dos combatentes da “guerra de guerrilhas” contra os holandeses no Nordeste, do “corajoso campesinato” de Canudos e de “lutas armadas anti-imperialistas”, como a Guerra do Contestado. Dos sócios fundadores da organização, o chileno Salvador Allende conquistaria a presidência pelo voto e a perderia pelas armas, e a Frente Sandinista de Libertação Nacional triunfaria com seus fuzis na Nicarágua e se despediria batida nas urnas. Marighella disseminaria os slogans da declaração da conferência: “Nossa tarefa é criar dois, três, muitos Vietnãs”, lançado originalmente por Che Guevara, e “O dever de todo revolucionário é fazer a revolução”, por Fidel Castro. De tanto repetir variações do prognóstico “a vanguarda se fará na luta”, Marighella seria tomado como seu autor, todavia foi o cubano Armando Hart quem o enunciou na Olas. O “imperialismo ianque” foi o alvo da conferência, mas reservaram dardos contra as facções satélites dos soviéticos. Uma resolução censurou os partidos comunistas por frear as guerrilhas, e Fidel atacou-os no discurso de encerramento em 10 de agosto, quando a figura de Guevara substituiu a de Bolívar no painel. De ouvido no rádio, Che anotou em seu diário da Bolívia, onde o PC local o sabotava: “Largo discurso de Fidel em que arremete contra os partidos tradicionais [...]; parece que a bronca nos bastidores foi grande”. E fora deles também: na imprensa de todo o mundo, Marighella fustigava a ditadura, terçava diatribes com o PCB e se transformava em personalidade internacional. Marighella não deu um pio no plenário da conferência, mas talvez só o prolixo Fidel tenha falado mais do que ele por aqueles dias. O propósito real da viagem não fora assistir ao evento, mas acertar o treinamento de novas levas de militantes. No entanto, a propaganda cubana não dispensou a oportunidade de propalar que, a despeito do boicote pecebista, a simpatia pela luta armada prosperava entre os comunistas brasileiros, e Marighella ganhou as páginas. O diário Granma de 4 de agosto trouxe uma entrevista sua bendizendo o recurso às armas. No dia seguinte, o vespertino Juventud Rebelde saiu com declarações como “a guerrilha no Brasil não é uma simples forma de luta. É a própria estratégia da revolução”. Na revista Pensamiento Crítico, ele falou em “guerra justa e necessária” contra os Estados Unidos. Logo divulgou uma carta ao Comitê Central do PCB, renunciando ao organismo e desprezando-o como “uma espécie de academia de letras, cuja única função consiste em reunir”. O Comitê Central telegrafara aos cubanos desautorizando-o, e Marighella retrucou: “[...] Não tenho que pedir licença para praticar atos revolucionários”, como dar as caras na Olas. Sobreveio uma mensagem a Fidel, com o anúncio de rompimento com a cúpula do PCB, “imbecilizada pelo medo da revolução”. Marighella foi cruel com sua própria trajetória: “O que se passa no PCB é que, depois da insurreição armada de 1935, as várias direções que se têm sucedido abandonaram o caminho revolucionário, entregando-se às mãos da burguesia e subordinando-se à sua liderança política e ideológica”. A correspondência pública com o CC e Fidel integrou um pacote carimbado como “Cartas de Havana”, que incluiu um manifesto fraterno ao almirante Cândido Aragão, então no Uruguai. A quase centena de jornalistas estrangeiros mobilizada pela Olas monitorava o noticiário em Cuba e o retransmitia por telex. O Globo titulou “Marighella prega violência contra o governo do Brasil”, variante do JB, com “Marighella diz que guerrilha é o único caminho no Brasil”. Sem saber quando regressaria, ele passou a alardear seus escritos nas emissões em português da Rádio Havana. Concedeu no ar duas entrevistas, leu as três cartas e cinco mensagens temáticas. Em uma delas, encorajou: “Cada patriota deve saber manejar sua arma de fogo. Sem isso, qualquer ação combativa no Brasil atual está destinada ao fracasso.” Revelou uma mudança, para quem sustentara em 1965 que a “questão central é o problema das liberdades democráticas”. Em março de 1967, assumira a presidência o marechal linhadura Arthur da Costa e Silva, mais à direita que o antecessor, Castello Branco. Marighella assinalou, no contexto da ditadura: Todos sabem que a “redemocratização” ou o chamado retorno à democracia com eleições e pacifismo só serve aos interesses dos políticos burgueses, pois não conduz à modificação da estrutura econômica [...]. O que há no Brasil é um círculo vicioso. Os políticos burgueses pregam a “redemocratização” e as eleições e assim vão ao governo, prometendo reformas e liberdades. Em seguida, vem novamente o golpe militar, sob o pretexto do “perigo comunista”. E a comédia continua a repetir-se sob a forma de tragédia, como aconteceu com a deposição de Goulart. A saída? Caberia “conquistar o poder pela violência e destruir o aparelho burocrático militar do Estado, substituindo-o pelo povo armado”. Entre uma e outra alocução, certo dia Marighella desceu de um carro na calle Santa Ana, uma rua aladeirada no bairro Nuevo Vedado, e indagou: “Aqui mora a família de Julião?” Ao se inteirar pela agência Prensa Latina das andanças de Marighella por Cuba, Francisco Julião lhe remetera em 28 de julho uma carta desde o México, onde se exilara. Opunha-se à guerrilha, mas queria voltar ao Brasil e instava Marighella a norteá-lo: “Diga com a franqueza e a lealdade que tenho o direito de esperar de seu passado e de sua dignidade como provado e comprovado militante revolucionário: em que posso ser útil, qual a contribuição que me toca, por onde devo recomeçar a marcha interrompida e em que momento devo fazê-lo”. Marighella respondeu que, para garantir a segurança do ex-líder camponês, teria de erguer uma estrutura confiável no campo. Marighella entrou na casa e se sentou em uma cadeira de ferro enfeixada com cordas plásticas. Não procurava Julião, mas sua ex-mulher, Alexina Crespo, um dos artífices do extinto projeto armado das Ligas. Ao esmiuçar as intenções de guerrilha rural à companheira que vivia em Cuba, dois filhos dela se candidataram a se incorporar. O problema é que Anatólio treinara nas milícias cubanas e se provara bom de tiro, porém mal completara os dezessete anos. Anacleto, quinze, nem isso. Alexina concordou e procurou Fidel e Piñeiro, que elogiaram Marighella como “revolucionário engajado, de caráter”. Julgaram os garotos “muito jovens”, mas aceitaram sua partida, desde que Julião assinasse uma autorização. O pai proibiu, e seus filhos ficaram em Havana. Os oito militantes que haviam deixado o Brasil antes de Marighella também foram visitados por ele. O curso de guerrilha não iniciava, e o Ministério do Interior os abastecia, inclusive com porções generosas de lagostas, preparadas pela cozinheira — os hóspedes se incumbiam de limpar a residência. Um conflito dividia-os: Hans Rudolf Manz e Otávio Ângelo invocaram o comando e impediram escapadelas de casa, pretextando riscos ao sigilo sobre eles.

Marighella esclareceu que não havia chefes na turma. Incentivou-os a sentir a revolução nas ruas e a passear na praia, mas recomendou discrição. Não tiveram muito tempo para mergulhos, nem reviram Marighella em Cuba — o treinamento se prolongou de setembro de 1967 a julho de 1968: deslocaram-se de ônibus para a serra do Escambray, na região central da ilha. Já eram nove, com o reforço do gráfico Adilson Ferreira da Silva. Calçaram coturnos e marcharam na montanha, suportaram mochilas com até trinta quilos, dormiram em redes amarradas nas árvores, aprenderam camuflagem, ensaiaram sabotagens, atiraram com fuzis e simularam emboscadas. Com 49 quilos distribuídos por 168 centímetros do cocuruto ao chão, o franzino Fon sofreu com bolhas e feridas nos pés e nas costas, mas perseverou. O baixinho Virgílio se beneficiou da pujança física que o empurrara ao título de uma insana maratona de dança. Com uma hemorroida rompida, Hans não aguentou nem duas semanas. No hospital, conviveu com um metalúrgico, outra baixa, com uma falange de pé quebrada. Rumaram até as cordilheiras da província de Pinar del Río, extremo ocidental do país, para a segunda fase do curso. Dormiram em cabanas de madeira nas proximidades de um quartel e tomaram lições de topografia, orientação na selva e comunicação. Montaram e desmontaram armas belgas, alemãs, tchecas, americanas, russas e, subtraídas às tropas acontonadas na República Dominicana, brasileiras. Dispararam com fuzis Mauser e ak-47, submetralhadoras uzi e M3 e metralhadoras calibre 50. Estudaram o bê-á-bá da teoria dos explosivos e calcularam a carga para derrubar pontes. Na terceira etapa, nos arredores de Havana, introduziram-lhes na prática da confecção artesanal de minas, granadas e petardos variados. Os instrutores brincavam, mas era sério: naquele ofício, só se erra uma vez, sem chance de autocrítica. Hans frequentou as aulas de bombas, após a internação e arranca-rabos com os cubanos, que encasquetaram que ele fazia corpo mole. No retorno ao Brasil, no segundo semestre de 1968, o suíço transportou no fundo falso da mala um esquema para manipulação de explosivos e o entregou a Marighella. Na década de 1950, rumores no PCB davam conta de que o futuro líder guerrilheiro fora aluno da academia militar chinesa, o que Marighella não confirmava. Em Cuba, ele não seguiu o curso regular, mas se exercitou em sessões de tiro. A preparação militar mereceria restrições de brasileiros para os quais não passava de simulacro das privações da floresta. Numerosos quadros não compartilharam da opinião. “Muito boa”, qualificou Otávio Ângelo, filho de um velho cangaceiro do bando de Lampião. O estudante José Dirceu de Oliveira e Silva treinaria anos mais tarde: “Foi muito bem-feita”. Um infiltrado do Centro de Informações do Exército (CIE) analisou o programa do qual participou: “A instrução de guerrilha rural é muito boa, mas, em compensação, a de guerrilha urbana é muito deficiente”. O currículo foi mesmo moldado para o combate no campo, e não na cidade. Era o knowhow dos cubanos e o que Marighella queria. O CIE relacionou 205 brasileiros nos cursos, somando suspeitos — ao menos sete se tornariam deputados, um seria senador e dois chegariam a ministro, José Dirceu e Franklin Martins. Desconsiderou os membros das Ligas no pré-1964 e tabulou o período de 1965 a 1971. Identificou 85 do agrupamento de Marighella, denominado Ação Libertadora Nacional (ALN) a partir de 1969. Em um chiste com as frações da Força terrestre no Brasil, a ALN apelidou seus quatro contingentes em Cuba como 1 o , 2 o , 3 o e 4 o Exércitos. A CIA estimou em “no mínimo 150 e provavelmente bem mais de duzentos” os brasileiros instruídos na ilha — o número certeiro, nas décadas de 1960 e 1970, não se distancia dos 250. Che Guevara topou com dois deles, vinculados ao brizolismo. O gaúcho Diógenes Carvalho de Oliveira jogava xadrez em um quartel quando seu oponente e conterrâneo cutucou-o. Concentrado, não reparara na aproximação do argentino. Guevara parou, passou os olhos nas peças e não perdeu a piada: “Se os brasileiros fizerem a guerra como jogam xadrez, nós estamos fodidos.” No tabuleiro das relações de Marighella com Fidel Castro, o foco guevarista irradiaria a guerrilha na América do Sul. Em Cuba, o capitão conhecido como Fermín exibiu levantamentos minuciosos da fronteira boliviana com o Brasil. Na época da parceria dos cubanos com Brizola, doze militantes ligados ao ex-governador se instalaram em Paranatinga, Mato Grosso, para incubar a luta armada. Não desconfiaram de que serviriam de base logística à futura coluna do Che. Desistiram após um deles, o professor de física e matemática Elio Ferreira Rego, constatar a irrelevância da região: “Podemos até ocupar Cuiabá, e a ditadura se dar ao luxo de nem noticiar.” O território brasileiro se prestaria em 1968 a rota de retirada dos cubanos que malograram na expedição à Venezuela. Se Fidel sugeriu a Marighella mandar seus homens para o Brasil, esbarrou no nacionalismo forjado pelo cansaço com a subserviência do PCB a Moscou. No espírito do “internacionalismo proletário”, Marighella se associou aos caribenhos, como na capacitação militar. A revolução, contudo, seria obra de brasileiros. O que não impediu os cubanos de sonhar com missões como a de Guevara. Antes de 1964, Francisco Julião especulou perante mais de uma testemunha a respeito do desembarque de milhares de compatriotas de Fidel Castro na costa pernambucana. “Queriam combater em qualquer lugar”, observou Washington Mastrocinque Martins, da ALN: “Não era só quem adestrava o pessoal, a população queria, era a tônica do momento”. Um informante do CIE denunciou que membros da milícia cubana manifestavam “desejo de vir lutar no Brasil”. Ao jornalista Paulo Cannabrava, indicado por Marighella para trabalhar na Rádio Havana, disseram que, “por diferentes praias de nosso imenso litoral, poderiam fazer entrar até tanques, em apoio à nossa revolução”. Na década de 1970, o comandante Arnaldo Ochoa, veterano da Sierra Maestra, proporia ao marighellista Carlos Eugênio da Paz singrar os rios da Amazônia brasileira com um barco tripulado por cem cubanos, para lutar na selva. A autonomia prescrita por Marighella atingia o bolso. Pelo PCB, ele recebera dólares da União Soviética e cruzeiros de Adhemar de Barros. Com o mote “Dinheiro nós levantamos no Brasil”, reagiu aos incentivos para morder mais uns trocados dos cubanos. A CIA registrou em 1971: “É possível que Havana também tenha prestado algum apoio financeiro [a Marighella], mas não há nenhuma prova sólida disso”. Enquanto Marighella viveu, seus partidários mais íntimos souberam dos 25 mil dólares — valeriam 161 mil em quatro décadas — para a viagem do 1 o Exército e de mil dólares a cada guerrilheiro para o retorno. Marighella ainda estava em Havana quando o projeto cubano de espraiar a revolução sofreu seu revés mais sentido. Capturado na tarde de 8 de outubro de 1967, Guevara foi fuzilado no dia seguinte no povoado boliviano de La Higuera. Ignorado pelos camponeses e destroçado pela asma, o Che maltrapilho combateu ferido, até um disparo destruir o cano da sua carabina. Com o dorso nu, a barba comprida e os olhos abertos, ele pareceu sorrir, mesmo morto. Os correligionários de Marighella no Brasil choraram o fim do “Guerrilheiro Heroico” e se inquietaram com a demora de seu companheiro. Haviam perdido seu rastro, desde as aparições na Rádio Havana. A boataria espalhou de adesão à AP a loucura repentina. Vai ver Marighella estava era com hepatite. Não estava, mas a versão emplacou. O jornalista Joaquim Câmara Ferreira se azucrinou com tantas perguntas sobre o sumiço de Marighella, e Cícero Vianna lhe deu a ideia: diga que ele voltou, mas pegou hepatite, e o médico ordenou repouso. Como consequência, a geladeira de Câmara se encheu de queijos brancos, oferta dos camaradas para revigorar o suposto doente. O Kremlin também se preocupava com Marighella, à sua maneira. De Cuba e do Brasil, a agência noticiosa Tass entupia os aparelhos de telex do Leste Europeu com despachos sobre seus manifestos e ações. Um correspondente do jornal Izvestia no Rio de Janeiro confabulava com militantes do PCB sobre o apologista da guerrilha e repassava as novidades à embaixada soviética. Funcionários com carteira do corpo diplomático da URSS e cacoete de espião se encontravam com comunistas brasileiros contrários à luta armada e os questionavam sobre o dissidente. Seus relatórios atravessavam o oceano até os escritórios do Ministério das Relações Exteriores e do KGB, o Comitê de Segurança do Estado, serviço secreto e repressivo. Desde a década de 1930 os soviéticos bisbilhotavam Marighella. Uma parte dos registros alcançou 121 páginas numa pasta. No começo, era um aliado. Notaram sua presença no Comitê Central, em 1945, e na administração das finanças, em 1957. Depois do golpe, encararam-no como ameaça. Foram a campo para monitorá-lo, às vezes inscrevendo o nome dos interlocutores e informantes nos documentos encaminhados para Moscou. O KGB guardou em seus arquivos informes sobre uma reunião do CC do PCB de março de 1967 (tacharam Marighella de indisciplinado) e a fundação do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), em 1968 (confundiram-se, pensando que ele aderira). Vladímir N. Kasimirov, futuro embaixador cuja carreira sobreviveria ao esfacelamento da União Soviética, conversou em outubro de 1964 com o jornalista João Mesplé. O brasileiro condenou como “aventuresca” a crítica de Marighella a Prestes. Doze meses mais tarde, o burocrata soviético esteve com outro jornalista, Moacir Longo, então primeiro-secretário do PCB paulista. Longo segredou rearranjos na cúpula partidária, com Marighella à testa da seção campo e a transferência de Dinarco Reis para o setor militar. No dia 6 de fevereiro de 1966, Orestes Timbaúba, do Comitê Central, disse a Kasimirov que confiava na permanência de seu amigo Marighella: “[Ele] nunca deixa o partido”. A dirigente Zuleika Alambert comentou com o funcionário da embaixada, em março de 1966, sobre uma plenária do CC e a atitude Marighella: “Não estava nem um pouco interessado em um bom resultado dos trabalhos”. Se Moscou seguia seus passos, mais ainda a ditadura de Brasília. Em 4 de agosto de 1967, o presidente Costa e Silva se encontrou com o embaixador dos Estados Unidos, John Wills Tuthill. O diplomata relatou ao Departamento de Estado: “Ele afirmou que espera totalmente a intensificação da atividade terrorista como resultado da conferência da Olas”. A luta armada não dera a largada no Brasil, mas seu barulho mundo afora ecoava no país. Marighella estava em Cuba quando Caetano Veloso defendeu a canção “Alegria, alegria” no festival da tv Record, com o verso “O sol se reparte em crimes, espaçonaves, guerrilhas”. Longe dos palcos, consumou-se a separação litigiosa no PCB. Marighella esgotara a paciência, como evidenciou ao lhe contarem que uma integrante do CC resmungara contra os tamancos com que ele passara a ir às reuniões: “Não estão gostando? Pois na próxima eu vou com o pinto de fora.” A rejeição era recíproca. Diante de um apelo para votar contra a expulsão de Marighella, Luiz Tenório de Lima, seu confrade do CC, deu de ombros: “Se o câncer atacar meu dedo, eu corto o dedo para salvar a mão.” A mão era o PCB e o tumor, Marighella. Ao ouvir no rádio a fuzilaria do companheiro contra a cúpula, Luiz Carlos Prestes não fez por menos: pediu sua cabeça. Em agosto, a Comissão Executiva suspendeu Marighella, por se situar “fora e acima do partido”. O Comitê Central expulsou-o em setembro, deplorando o “individualismo pequeno-burguês”. O VI Congresso ratificou em dezembro o expurgo de Marighella mais seis do CC: Câmara Ferreira, Mário Alves, Apolônio de Carvalho, Jacob Gorender, Jover Telles e Miguel Batista. Editada pelo partido, a Voz Operária publicou seus nomes civis, o anúncio implícito de que aderiam à luta armada. Marighella provou do próprio veneno: ele cometera igual desatino em 1938, na expulsão de Hermínio Sacchetta e outros opositores incondicionais do Estado Novo. Aos 26 anos, no leme do PCB paulista, Marighella pelejara contra a esquerda comunista, e agora empunhava a bandeira radical. Quase trinta anos depois, não subvertia apenas a ordem, mas o jovem de antanho. Lia Renato Guimarães Cupertino, 22 anos mais novo, desancar a guerrilha no jornal: “Não cederemos à aventura, não levaremos nosso movimento aos alçapões que lhe arma o inimigo”. Guimarães foi eleito para o Comitê Central no VI Congresso do PCB, reunido em um sítio perto da represa Billings, em São Paulo. Só foram avisados os delegados fechados com a direção, que se livraram de Marighella depois de 33 anos no partido. Ao ir para Cuba, ele tomara a iniciativa do rompimento. Lá comentou a hipótese de expulsão, repetindo a tirada de Fidel: “A história me absolverá”. A dispersão dos comunistas gerou uma miríade de grupos, e o PCB, no DNA de todos, foi alcunhado pejorativamente de Partidão. Na véspera do congresso, Salomão Malina manipulava um lote de granadas confeccionadas numa oficina de automóveis de propriedade do PCB. Seriam arremessadas em eventual invasão dos órgãos de segurança. Uma delas explodiu a um metro do ex-comandante de pelotão caçaminas da FEB e lhe arrancou os dedos da mão direita. O sangue jorrou, e sua vida pareceu escorrer com a hemorragia. Dinarco Reis, veterano da Guerra Civil Espanhola, vociferou contra o socorro a Malina fora dali, por temer que o sítio fosse descoberto. “Meu pai defendeu que não tinha que levá-lo, que ele tinha que morrer para deixar de ser babaca”, disse Dinarco Reis Filho. Malina foi salvo pelos camaradas que se insurgiram contra a sordidez e o carregaram a um hospital. Na limpeza do sítio depois do conclave, esvaziaram um lago para se certificar de que ninguém despejara papéis confidenciais. Deram com cardumes de traíras e tilápias. Dinarquinho separou uma traíra de dois quilos e a saboreou assada. Era mais verossímil um peixe carnívoro como a traíra esnobar a isca de carne vermelha do que uma agremiação comunista do Leste Europeu respaldar a agenda de Marighella, mas ele tentou. O deputado Fernando Perrone foi mensageiro de uma carta para um expoente do PCUS. A atriz Vera Gertel, de duas, a brasileiros em Praga e Berlim. O cantor Jorge Goulart entregou mensagens em Budapeste e Moscou, além da Alemanha Oriental. Nem os exilados, conectados aos mandachuvas do PCB, nem os partidos locais deram a mínima a Marighella. Com pena do amigo, Goulart inundou os olhos d’água. O regresso de Marighella ficou mais perigoso com a certeza da ditadura de que os embarcados em Cuba passavam por Praga. Em 17 de outubro de 1967, o Itamaraty protestou na embaixada da Tchecoslováquia no Rio de Janeiro. Descreveu pormenores do apoio das autoridades comunistas, disse que sua fonte eram os interrogatórios de presos em Caparaó, e os europeus negaram a acusação. Mentiram: Praga instituiu em 1962 a Operação Manuel, protocolo de ajuda à viagem de quem se destinava a Havana para o curso militar. Fora um pedido do governo de Fidel Castro, aceito após consulta à União Soviética, que viria a se encarregar da falsificação de passaportes. Os soviéticos se opunham à luta armada, e os tchecoslovacos não os contrariavam. Mas as duas partes recearam que, recusando o pacto, os cubanos não modificassem o itinerário, agindo em Praga sem a segurança proporcionada pela ação conjunta. Até 11 de janeiro de 1967, a Operação Manuel guiou 913 viajantes. Em outubro os brasileiros já eram 41, desde o primeiro, em 1963 — muitos transitavam por outros esquemas. O leva e traz era alvo da vigilância dos espiões ocidentais, alertou um relatório do ministro do Interior, Josef Kudrna.

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