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Opinião

Os tradutores e intérpretes de Lula

Por Mario Sabino

A semana que termina foi muito desafiadora para os tradutores e intérpretes de Lula. Um deles, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida teve de correr para explicar o que Lula disse a respeito da escravidão, em Cabo Verde, ao lado do presidente daquele país:

“Temos profunda gratidão ao continente africano por tudo o que foi produzido durante os 350 anos da escravidão no nosso país.”

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Diante da estupefação geral, Silvio Almeida se virou como pôde. “O que Lula disse foi: ‘o Brasil tem uma dívida com África e ela tem que ser paga’. E, por isso, o presidente tem insistido – e já falei com ele sobre isso – é que a agenda de direitos humanos com África envolve o chamado direito ao desenvolvimento”, afirmou o tradutor e intérprete da pasta dos Direitos Humanos.

É um trabalho duro, esse de ser traduzir e interpretar as palavras de Lula. Duro e inglório. O presidente petista é abertamente a favor da agressora Rússia contra a agredida Ucrânia, comete grosserias com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e destila veneno contra o presidente chileno Gabriel Boric, que é contra a Rússia e a favor da Ucrânia, mas é preciso passar a versão de que Lula só quer paz no mundo.

O presidente petista é apoiador histórico da ditadura venezuelana e da ditadura nicaraguense e diz que a democracia é relativa: toca fingir que não é bem assim, que Lula é um democrata até a última gota de álcool.

O presidente petista insiste no discurso de ódio contra bolsonaristas, igualando-se aos antípodas, como se viu no seu simpático comentário sobre os protagonistas da confusão no aeroporto de Roma, e dão um jeito de o presidente petista parecer um Gandhi.

Lula faz piada sobre a obesidade de Flávio Dino e a estatura baixa de ACM Neto, mas vamos mudar de assunto, por favor, é coisa de ex-operário raiz que é um eterno aluno da faculdade da vida.

Os tradutores e intérpretes de Lula tentam escamotear o que Lula pensa de verdade, apesar de ele dizer claramente o que pensa. Veem-se obrigado, coitados, a reter a flecha que saiu do arco, para usar a metáfora de Metastásio.

Posso imaginar o calafrio que percorreu a espinha dos tradutores e intérpretes de Lula, quando se anunciou que Jean Wyllys trabalharia na Secom. Eles teriam de traduzir e interpretar também outro petista que diz tudo o que pensa. Parece que Jean Wyllys já foi descartado, depois de cuspir ofensas contra o governador Eduardo Leite. Vamos ver se os tradutores e intérpretes de Lula poderão respirar aliviados, nem que seja por poucos dias, até o chefão voltar a soltar as suas verdades, somente as verdades, nada mais do que as verdades lulescas.

Veja aqui:

https://www.metropoles.com/colunas/mario-sabino/os-tradutores-e-interpretes-de-lula