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Randolfe Rodrigues vale um parlamento inteiro | Metrópoles
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Randolfe Rodrigues vale um parlamento inteiro | Metrópoles

Se as coisas não caminham como ele quer no Legislativo, o senador Randolfe Rodrigues recorre ao Judiciário. Proponho que seja PGR vitalício

Opinião

Por Mario Sabino

O senador Randolfe Rodrigues, da Rede, vale um parlamento inteiro. Se as coisas não caminham como ele quer no Legislativo, o senador recorre ao Judiciário, alegando inconstitucionalidades que antes pareciam inescrutáveis. A sua taxa de sucesso é impressionante. O mesmo ocorre com o Executivo. Ou ocorria. Se Randolfe Rodrigues fica contrariado com qualquer decisão do inquilino do Planalto, ele apela para o outro lado da Praça dos Três Poderes.

Como Randolfe Rodrigues é aliado de Lula, ele dificilmente usará o seu extraordinário tino para inconstitucionalidades contra o atual presidente da República, inclusive porque todo mundo sabe que Lula é incapaz de cometer qualquer ato que fira a lei — ou Randolfe Rodrigues não seria seu aliado. Mas, se um presidente menos reto e vertical vier a assumir, que ninguém duvide: quando for preciso, Randolfe Rodrigues também valerá um Executivo inteiro. O dado tranquilizador para a democracia brasileira é que Guilherme Boulos segue a “estratégia Randolfe” em São Paulo, contra o prefeito Ricardo Nunes, seu adversário nas próximas eleições municipais.

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Há quem ache que falta autocontenção ao Judiciário. Não vou entrar no assunto, porque posso ficar preso nele. E estou mais propenso a acreditar que Randolfe Rodrigues é que goza (eu ia escrever “sofre”, mas é uma qualidade) de incontinência constitucional. A Justiça, todo mundo também sabe, só age quando provocada. Proponho que ele se torne o nosso PGR vitalício.

O que mais gosto em Randolfe Rodrigues é o seu apreço pela liberdade com responsabilidade. Liberdade de expressão, digo. Confesso, no entanto, que ainda não entendi o que é exatamente responsabilidade para os que a prescrevem como tratamento para a liberdade.

Fico confuso porque eles, os que prescrevem responsabilidade para a liberdade, falam de apologia ao nazismo, convocação para golpes políticos e incitação ao ódio e a atentados em escolas, para condenar como “fascistas” o que são apenas discordâncias políticas, visões ideológicas opostas às deles e manifestações de empresas sobre leis que mexem com os interesses delas. Deve haver um imperativo categórico nessa mistura, não sei.

Só tomo um pouco mais do seu tempo para dizer que resolvi escrever sobre Randolfe Rodrigues, com muita liberdade e responsabilidade, depois de ler o que o ministro Luiz Fux disse em uma dessas simpáticas palestras que os cariocas adoram organizar às sextas-feiras.

“O parlamento deve assumir o custo social. O que não pode haver é essa judicialização que tem havido. Para tudo, eles vão ao Supremo Tribunal Federal, porque não querem pagar o custo social de uma deliberação que não agrade ao povo”, afirmou o ministro.

Randolfe Rodrigues vale um parlamento inteiro (e, às vezes, um Executivo).