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Quem era Tyre Nichols, jovem negro morto após ser agredido por policiais nos EUA - BBC News Brasil
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Quem era Tyre Nichols, jovem negro morto após ser agredido por policiais nos EUA - BBC News Brasil

Pai de uma criança de quatro anos, Nichols tinha o nome da mãe tatuado no braço. Uma de suas paixões era andar de skate.

Internacional

A família de Tyre Nichols, um homem negro que morreu após ser agredido por policiais no Estado do Tennessee, nos Estados Unidos, o descreve como uma "alma linda", apaixonada por skate, pôr do sol e fotografia.

"Ninguém é perfeito, mas ele chegou perto", disse a mãe dele, RowVaughn Wells, em uma coletiva de imprensa ao lado de familiares e apoiadores. Nichols foi brutalmente agredido por policiais em 7 de janeiro, quando o carro dele foi parado pelos agentes. Imagens gravadas pelas câmeras nos uniformes dos policiais mostram o jovem chorando e chamando pela mãe enquanto era socado e chutado múltiplas vezes.

Ele foi hospitalizado e morreu três dias depois, em 10 de janeiro. Agora que as imagens vieram à tona, a morte do jovem tem causado grande revolta nos EUA. Os policiais inicialmente disseram que pararam o carro de Nichols porque ele estaria dirigindo de maneira imprudente, mas a acusação não foi comprovada.

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Wells, visivelmente triste, abriu um sorriso raro ao descrever seu filho, durante a entrevista coletiva à imprensa. Nichols trabalhava para o serviço postal FedEx e tinha um filho de quatro anos. O amor que sentia pela mãe era visível na tatuagem que tinha no braço com nome dela.

Nichols, de 29 anos, adorava andar de skate, uma paixão que tinha desde os seis anos de idade. Sua atividade favorita era ir ao parque local para praticar.

O padrasto dele, Rodney Wells, disse que recentemente brincou com o enteado dizendo que ele estava velho demais para andar de skate. "Você tem que largar o skate. Você tem um emprego em tempo integral agora", ele se lembra de ter dito. "Ele olhou para mim como quem diz, 'até parece', porque essa era a paixão dele".

Adorava tirar fotos

Nichols também tinha paixão por fotografia e pôr do sol. A mãe disse que todas as noites ele ia ao Shelby Farms Park, nos arredores de Memphis, para assistir ao pôr do sol e tirar fotos.

Nichols morreu dias depois de ser parado, de carro, pela polícia em 7 de janeiro. Cinco policiais agora demitidos que, como Nichols, são todos negros, estão enfrentando acusações de assassinato.

Imagens do encontro, filmadas por câmeras nos uniformes dos agentes, foram publicadas na sexta-feira (27). Elas mostraram o jovem sendo brutalmente espancado pela polícia.

A mãe de Nichols falou sobre a dor que a família está sentindo desde a morte dele. "Tudo o que sei é que meu filho não está mais aqui comigo. Ele não vai passar por aquela porta novamente", disse ela.

"Ele nunca mais vai entrar e dizer 'Olá mãe e pai', porque é isso que ele faria. Nunca mais vou ouvir isso", disse Wells, acrescentando que vai lutar incansavelmente por justiça, porque "nenhum filho merece isso".

O padrasto de Nichols descreveu seu enteado como "um bom garoto" que era o bebê da família - ele tinha dois irmãos mais velhos e uma irmã mais velha.

"Eu era o padrasto de Tyre, mas era como se fosse meu filho", disse ele, sobre o relacionamento dos dois. Nichols e o padrasto também trabalharam juntos na FedEx, onde o jovem era funcionários havia nove meses.

O padrasto disse que assistiu ao vídeo do incidente policial, descrevendo-o como "horrível" e algo que "nenhum pai, nenhuma mãe deveria testemunhar".

Ele disse que a família faria tudo o que pudesse para buscar justiça, mas pediu que os protestos em nome de Nichols sejam pacíficos, sem danos ou saques.

"Isso não é o que Tyre gostaria e isso não vai trazê-lo de volta", disse ele.

A brutalidade das agressões

Vídeos revelados na noite de sexta-feira (27/01) mostram cinco policiais se revezando para chutar e socar brutalmente Tyre Nichols.

Enquanto isso, o jovem aparece chorando e chamando repetidamente pela mãe durante uma detenção na cidade de Memphis, em 7 de janeiro. Ele foi hospitalizado e morreu três dias depois.

As imagens mostram ainda policiais gritando palavrões e espancando o funcionário da FedEx por cerca de três minutos. Ao todo, os quatro vídeos divulgados pelo Departamento de Polícia de Memphis ultrapassam uma hora de filmagem.

Protestos em Memphis e em outras cidades americanas estão ocorrendo desde sexta-feira. Nichols era negro, assim como todos os cinco policiais acusados de seu assassinato.

A mãe de Nichols, RowVaughn Wells, disse que seu filho estava a apenas 70 metros de casa quando foi espancado. Os advogados da família estão comparando o caso ao de Rodney King, espancado por policiais depois de ter sido parado no trânsito em Los Angeles, em 1991. King sobreviveu e hoje é escritor.

A polícia disse inicialmente que Nichols havia sido parado por suspeita de direção imprudente, o que não foi comprovado. Os cinco policiais — Tadarrius Bean, Demetrius Haley, Desmond Mills Jr, Emmitt Martin III e Justin Smith — foram demitidos na semana passada.

Eles foram levados sob custódia na quinta-feira (26). Quatro dos cinco pagaram fiança e foram libertados na manhã de sexta. Cada um enfrenta acusações de assassinato em segundo grau, agressão agravada, má conduta oficial e opressão oficial.

Os advogados de Martin e Mills disseram que seus clientes se declararão inocentes. A diretora da polícia de Memphis, Cerelyn Davis, descreveu as ações dos policiais como "hediondas, imprudentes e desumanas".

O presidente dos EUA, Joe Biden, declarou em um comunicado: "Como muitos, fiquei indignado e profundamente triste ao ver o horrível vídeo do espancamento que resultou na morte de Tyre Nichols".

Descrição dos vídeos

Repórteres da BBC assistiram aos vídeos divulgados pela polícia.

O primeiro vídeo mostra os policiais puxando Nichols para fora do carro e gritando para ele se deitar no chão. "Eu não fiz nada!" ele diz. Os oficiais exigem que ele se deite.

"Vai para o [palavrão] chão", um oficial grita, enquanto outro é ouvido dizendo: "Faz taser [arma de eletrochoque] nele!" Um oficial grita: "Coloque as mãos atrás das costas antes que eu quebre seu [palavrão]."

"Vocês estão realmente exagerando agora", diz Nichols aos policiais. "Eu só estou tentando ir para casa." Em segundos, um dos policiais aciona o taser, e Nichols consegue escapar.

Um segundo vídeo, aparentemente de uma câmera do outro lado da rua, mostra dois policiais segurando Nichols enquanto outros se revezam para chutá-lo, socá-lo e golpeá-lo com o que parece ser um cassetete.

Eles o arrastam pelo chão e o colocam sentado contra uma viatura.

O terceiro e o quarto vídeos mostram imagens das câmera corporais dos policiais durante o espancamento. Spray de pimenta é jogado contra Nichols, que grita repetidamente: "Mãe!"