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Metade das indústrias desiste de contratar ou renovar crédito por dificuldades de acesso
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Metade das indústrias desiste de contratar ou renovar crédito por dificuldades de acesso

Pesquisa mostra que os juros altos e a exigência de garantias reais são obstáculos para o setor obter financiamento 

Economia

Empresas do setor industrial têm desistido de contratar ou renovar seus financiamentos, tanto os de curto e médio prazo quanto os que vencem em um período mais longo. Mas isso não significa que elas não precisem de financiamento para manter e aumentar sua produção. O que causa esse comportamento é a dificuldade de acessar o crédito, diz a CNI (Confederação Nacional da Indústria).

As informações estão na Sondagem Especial Condições de Acesso ao Crédito, feita pela entidade entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023, da qual participaram 2.022 empresários.

Dos que encontraram alguma dificuldade para acessar o crédito de curto ou médio prazo, 71% apontaram as taxas de juros como o principal obstáculo. Para 25%, o que mais atrapalhou foi a exigência de garantias reais, e 16% disseram não ter encontrado linhas adequadas às necessidades de seu negócio.

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Além disso, 47% das empresas nem tentaram contratar ou renovar seus financiamentos de curto ou médio prazo, 6% tentaram e não conseguiram, e apenas 28% tiveram sucesso e puderam contratar ou renovar a linha de crédito.

No caso do crédito de longo prazo, 58% dos empresários do setor não procuraram contratar nem renovar os empréstimos, e apenas 14% conseguiram contratar ou renovar. O percentual dos que afirmaram ter tentado contratar ou renovar o crédito de longo prazo foi de 37%.

“Observamos um cenário mais seletivo e exigente para quem busca recursos financeiros. Isso também explica o fato de cerca de metade das empresas não ter tentado renovar ou buscar novos empréstimos e uma parcela significativa ter renovado em condições piores ou muito piores. Também se deve destacar que uma parte relevante das empresas que tentaram renovar ou contratar crédito não conseguiu”, analisa Fábio Guerra, gerente de política econômica da CNI.

Ele diz que o crédito está mais caro e restrito, tanto para as empresas como para os consumidores, principalmente com os bancos mais cautelosos nas concessões.

Segundo a pesquisa, o crédito pode ser um elemento essencial para ampliar o consumo e o investimento, para fazer a roda da economia girar, mas a disponibilidade e as condições de acesso a empréstimos não são proporcionais a sua importância.

Finalidades das operações

Ter capital de giro para pagar fornecedores, despesas com funcionários e adquirir matéria-prima foi citada como a principal finalidade das operações de crédito de curto e médio prazo por 60% dos empresários industriais. Em segundo lugar, para 21% das empresas, está o recurso necessário para investir no próprio negócio, seja em máquinas e equipamentos, nas instalações ou em pesquisa e desenvolvimento.

Já os recursos contratados a longo prazo se destinam a investimentos, disseram 43% dos entrevistados. Destes, 28% comprariam máquinas e equipamentos, 13% melhorariam as instalações e 2% usariam o dinheiro para pesquisa e desenvolvimento. Em seguida, 28% dos participantes apontaram o capital de giro como finalidade dos empréstimos.

Frustração

No período coberto pela pesquisa, o valor do crédito de curto ou médio prazo aprovado para as empresas, em contratações ou renovações, foi menor ou muito menor do que o necessário, disseram 21% dos entrevistados. Os dados mostram que essa dificuldade afetou mais os negócios de pequeno (29%) e médio (26%) porte do que os grandes (17%).

Situação parecida ocorreu com o crédito de longo prazo, modalidade em que 22% das empresas obtiveram um montante menor ou muito menor que aquele de que precisavam na contratação ou renovação de crédito.

Segundo a CNI, ao todo, mais de um quinto das indústrias não conseguiu o valor de que tinha necessidade na contratação ou renovação de crédito. Apesar disso, 69% dos pedidos tiveram aprovação de valor igual ao solicitado, no curto e no médio prazo, e 6% conseguiram um montante maior ou muito maior que aquele de que precisavam.

Além da diferença nos valores concedidos, outros aspectos são relevantes na avaliação das vantagens e desvantagens de um empréstimo. Cerca de um terço das empresas pesquisadas renovou suas linhas de crédito em condições consideradas piores ou muito piores que as dos primeiros contratos.

Levando em consideração aspectos como taxa de juros, número de parcelas, período de carência e exigência de garantias, das empresas que renovaram crédito de curto ou médio prazo, 36% disseram ter renovado em condições piores ou muito piores, e 43% em condições semelhantes. Para 15% das empresas, as condições foram melhores ou muito melhores.

A CNI diz que as linhas de crédito de longo prazo apresentam situação ligeiramente melhor para a renovação: 41% das empresas afirmaram ter obtido condições semelhantes, 29% consideraram as condições piores ou muito piores e 17% avaliaram as novas condições como melhores ou muito melhores.

Os empresários que participaram da pesquisa indicaram três soluções possíveis para as dificuldades que estão enfrentando no acesso ao crédito: a redução dos custos tributários e administrativos, como o IOF (Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários); a ampliação de linhas públicas de crédito; e a simplificação das exigências feitas por instituições financeiras para aprovar as concessões.